Leninismo Esotérico (Jeffrey Nyquist – 08/11/2022)
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Leninismo Esotérico (Jeffrey Nyquist – 08/11/2022)
…a URSS foi concebida e desenvolvida como (1) uma base de recursos para a revolução mundial e (2) seu aparato de mobilização militar. E, se considerarmos sua história subsequente com base nesses objetivos e metas, então todas as ações das autoridades soviéticas nas décadas de 1920 a 1950, que às vezes parecem insanas, adquirem uma explicação lógica exaustiva…
— Dmitri Savvin
O marxismo-leninismo na Rússia pode ser melhor compreendido como tendo um lado exotérico e outro esotérico. O marxismo-leninismo exotérico era para exportação. O esotérico era o que os líderes do regime realmente pensavam e como operavam. Como o regime não funcionava muito bem em termos econômicos, e estava ficando para trás em tecnologia, eles iniciaram uma Nova Política Econômica sob Gorbatchov nos moldes delineados por Lenin em 1922. Foram compelidos, por diversas razões práticas, a abandonar seu marxismo-leninismo exotérico em 1991. De qualquer forma, apenas uma minoria estúpida acreditava naquela bobagem, e de que servem os estúpidos? Naturalmente, o Ocidente ingênuo estava cheio de pessoas dispostas a acreditar nesse tipo de coisa. Afinal, nunca haviam vivido sob esse regime. E Moscou, como sempre, soube aproveitar-se disso. Promovendo o feminismo e o aborto para conter o crescimento populacional, podiam ser elaborados argumentos econômicos para importar muçulmanos e africanos para a Europa. Isso desorganizaria o Ocidente e traria consequências arruinadoras a longo prazo. Some-se a isso a “ciência” do aquecimento global e as políticas ingênuas em relação à China, e o Ocidente estaria fadado à sua própria crise existencial. Ao mesmo tempo, a infiltração pelos serviços especiais na Europa e nos Estados Unidos continuaria num ritmo acelerado.
Em casa, o Kremlin inventaria esse absurdo de Eurásia e Novorrússia e uma ortodoxia falsa como a nova doutrina exotérica. Esotericamente, eles não enterraram Lenin e estão erguendo estátuas dele nas áreas conquistadas da Ucrânia. O regime em Moscou continua sendo marxista-leninista sob a superfície. Continua a seguir a antiga lógica, o que explica todas as suas ações. Contudo, a nova doutrina exotérica está se desgastando. Como qualquer um pode ver, apenas 4% dos russos poderiam ser descritos como genuinamente ortodoxos. Pior do que isso: suspeito que haja mais muçulmanos verdadeiros crentes na Rússia do que cristãos. Considere, também, o quanto os russos estão acostumados a se conformar com um regime através da simulação exterior. “Nós fingimos que trabalhamos, e eles fingem que nos pagam.” Agora é: “Eles fingem ser cristãos ortodoxos, e nós fingimos acreditar neles.” Vemos agora que o nacionalismo russo, na boca dos porta-vozes do regime, não é levado a sério pela maioria do povo russo, cujos jovens votam com os pés para evitar o serviço militar. Isso não é patriotismo. Isso não é crença.
No fundo, o regime ainda é a velha cabala marxista-leninista, seguindo as doutrinas esotéricas do leninismo. O marxismo-leninismo não é utópico, e os antigos manuais soviéticos afirmavam isso claramente. Mas quem no Ocidente realmente leu esses livros? O marxismo-leninismo também não era igualitário, e os manuais soviéticos diziam isso de maneira direta. Mas, novamente, ninguém no Ocidente compreendia os ensinamentos subjacentes do marxismo-leninismo esotérico. Nas aulas de ideologia soviética, os alunos que compreendiam o esoterismo — as palavras-código — subiam na hierarquia do Partido. Aqueles que não compreendiam, não podiam passar do posto de coronel — no Exército ou na KGB. Marx e Lenin eram seres humanos cínicos. Eles buscavam o poder. A Revolução sempre foi sobre tomar o poder. E esse é o verdadeiro foco de seus escritos. Marx chamava sua teoria da luta de classes de “aquela merda de classe” e ria das pessoas que acreditavam nela. O marxismo era demagogia intelectualizada, inventada para flanquear a burguesia. “Faça parecer espesso, científico e difícil de entender,” Marx disse certa vez a Engels. “Eles vão engolir.” Lenin escreveu: “Não existe dogma marxista. O marxismo é a gestão científica dos assuntos humanos.” Eis a destilação do modo de operação de Lenin. Lenin era científico no sentido maquiavélico, e no sentido do Príncipe Novo de Gramsci. No entanto, tudo o que os esquerdistas ocidentais viam eram os brilhos e os ovos de Páscoa da utopia prometida. Os lobos comunistas, porém, conheciam o jogo e conheciam sua presa. O objetivo era, como sempre, tomar o controle e usufruir do poder total.
Uma confusão surgiu na Europa e na América como resultado dessas mudanças na Rússia. O novo exotérico russo atrai conservadores e tradicionalistas ocidentais revoltados. Na América, onde as pessoas não leem nem pensam, a propaganda russa tem o maior efeito entre os direitistas desiludidos. Na Europa, onde as pessoas leem, mas também não pensam, a direita alternativa desafia a esquerda em questões-chave como a imigração. Suponha-se, como devemos, que a chantagem energética de Moscou trará uma revolução à Europa. Que tipo de revolução podemos esperar? Se os amigos alt-right de Putin conquistarem o poder em um lugar como a Alemanha, o que Moscou obterá? Suspeito que todo esse projeto acabará produzindo aquilo que vemos na Suécia e na Itália. Por quê? Porque ninguém que foi suficientemente corajoso para enfrentar o politicamente correto durante todo esse tempo será fantoche de Moscou quando chegar o momento decisivo. A ideologia emergente na Europa contém traços de autocorreção e a virtude da coragem — a coragem de se opor ao poder centralizado. O velho quadro marxista-leninista, encolhido em Moscou e tentando restaurar o império perdido, cavou sua própria cova, finalmente. Moscou jamais será a capital da “Europa de Vladivostok a Lisboa”, como Putin imagina. A ameaça asiática vinda do Oriente será reconhecida e, por fim, resistida.
Mas antes, haverá destruição e morte — desde o Don e, possivelmente, até o Reno.
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