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Fantasia Política vs. Realidade: Por que Lênin Permanece na superfície de Moscou (Jeffrey Nyquist – 17/05/2025)

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Publicado en 19 May 2025 / En Otro

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Fantasia Política vs. Realidade: Por que Lênin Permanece na superfície de Moscou (Jeffrey Nyquist – 17/05/2025)


“O anticomunismo e o anti-sovietismo... continuam sendo a base da subversão ideológica imperialista nos países em desenvolvimento. O dogma e a ideologia do anticomunismo são mentiras do começo ao fim porque atribuem ao comunismo propósitos e métodos totalmente fictícios. Até mesmo estudiosos burgueses admitem isso.”
— Livro didático soviético, 1984
“Nossa moralidade está completamente subordinada à luta de classes do proletariado... tudo o que é feito em nome da causa proletária é honesto.”
— Vladimir Lênin
“[A OTAN] está enriquecendo as elites e oligarcas dos Estados Unidos... As pessoas da classe trabalhadora e da classe média estão na pior situação em que já estiveram... As dezenove famílias mais ricas dos Estados Unidos acabaram de ganhar um trilhão de dólares aqui... Para os mercadores de armas em Munique, isso foi ótimo para eles... [Wall Street] é um cassino... Os militares dos EUA são mercenários do cassino...”
— Steve Bannon
A primeira citação, acima, retirada de um livro didático soviético, é importante pelo que revela sobre o principal objetivo da doutrina de guerra informacional de Moscou nos últimos 100 anos: desacreditar o anticomunismo. Segundo o texto soviético citado, o anticomunismo espalha “mentiras do começo ao fim porque atribui ao comunismo propósitos e métodos totalmente fictícios”.
A segunda citação, acima, é do fundador do Estado soviético, Vladimir Lênin. Em suas próprias palavras, “tudo o que é feito em nome da causa proletária [isto é, comunista] é honesto.” Você pode mentir, trapacear, roubar e matar pela Revolução. Há uma longa história nesse sentido, detalhada em clássicos como O Arquipélago Gulag de Aleksandr Solzhenitsyn, A Colheita do Luto e O Grande Terror, de Robert Conquest. Como fundador do Estado soviético, Lênin traçou o curso sangrento e enganoso que seus discípulos seguiriam. Hoje, Vladimir Putin mantém o cadáver de Lênin no centro de Moscou – um símbolo precioso daquilo que ainda não foi enterrado. O ditador soviético Nikita Khrushchov certa vez declarou, a um grupo de oficiais da OTAN, que o comunismo os enterraria. Ele também disse que a União Soviética abriria mão do comunismo quando os caranguejos aprendessem a assobiar. Em outras palavras, eles nunca irão enterrar Lênin. Suas pás têm outra missão. E Khrushchov apontou esse caminho, mais uma vez. Como explicou Nikolay Popov em um artigo de 1º de março de 1989 para o Literaturnaya Gazeta, “nossa principal tarefa hoje... é dissociar o stalinismo do comunismo aos olhos do mundo.” Ele acrescentou: “a glasnost é a nossa paridade, a reestruturação é a nossa arma, e a desestalinização é a nossa principal munição.”
Era necessário, para o sucesso futuro do comunismo, disse Khrushchov, culpar os fracassos do comunismo em Stalin. “Para nos dissociarmos do stalinismo, dos crimes que ele cometeu contra a humanidade, precisaremos de um julgamento do stalinismo como sistema e organização política criminosa, assim como um julgamento de seus principais líderes”, observou Popov. Mas tal julgamento nunca ocorreu. Seguindo o ditado de Khrushchov, Gorbachev pôs a culpa em Stalin, mas ninguém julgou Stalin. E ninguém ousou enterrar Lênin, porque Lênin havia (em princípio) dado sinal verde para que Stalin cometesse seus crimes. Tudo o que era feito em nome da causa proletária era honesto.
E agora o terceiro trecho, de Steven K. Bannon, que certa vez se referiu a si mesmo como um “leninista”. Para contextualizar o que Bannon diz, é útil lembrar que ele recebeu dinheiro de um bilionário chinês, encontrou-se secretamente com o “filósofo” eurasianista russo Aleksandr Dugin (em novembro de 2018) e mantém relações com os amigos da alt-right de Moscou na Europa. Portanto, não devemos nos surpreender ao ouvir Bannon defender o proletariado em uma entrevista à NPR. Assim como os seguidores de Lênin, Bannon quer subverter a OTAN porque, segundo ele, ela não beneficia o homem comum. É algo muito estranho dizer que a OTAN beneficia principalmente os ricos. Tal como os discípulos de Lênin, Bannon se opõe aos “mercadores da morte” que estão enriquecendo com a fabricação de armas. E, também como os seguidores de Lênin, Bannon se opõe a Wall Street, acusando os militares dos EUA de serem “mercenários do cassino” dos corretores da bolsa.
Bannon parece acreditar naquilo que os seguidores de Lênin sempre acreditaram: ou seja, que alianças como a OTAN existem para que os fabricantes de armas fiquem ricos. Guerras seriam iniciadas em nome do lucro capitalista. Seguindo essa lógica, a guerra na Ucrânia seria obra do capitalismo, e o alarmismo sobre a agressão militar russa, pura propaganda capitalista. Ao adotar essa postura leninista, Bannon despreza com indiferença o papel vital dos ricos na engrenagem do investimento contínuo, tão necessário para a manutenção do nosso elevado padrão de vida. Com frequência, conservadores têm se unido a socialistas na aceitação da alegação de que o capitalismo é decadente e a prosperidade, uma bênção ambígua.
Encontramos um padrão moral mais elevado em países onde bilionários são caçados por esporte? — Ou encontramos degradação moral, crime, corrupção e assassinato? Talvez o avanço do crime e da corrupção acompanhe mais de perto o avanço do socialismo do que o do capitalismo. Certamente, todos sabem que os comunistas caçaram os ricos até que não restasse nenhum. E as sociedades resultantes disso eram miseravelmente pobres e moralmente degradadas.
Está na moda agora cuspir em Thomas Macaulay e na Teoria Whig da História, sem reconhecer uma das observações mais importantes de Macaulay: a de que, quando as pessoas são pobres, elas se tornam mais cruéis. Quando sofrem privações, tornam-se impiedosas. A prosperidade suaviza a natureza humana, tornando a vida mais humana. Macaulay destacou isso no século XIX, dizendo que “é reconfortante refletir que a opinião pública na Inglaterra se suavizou à medida que amadureceu, e que nós, ao longo dos séculos, nos tornamos não apenas mais sábios, mas também um povo mais gentil.” Essa gentileza, disse Macaulay, devia-se ao avanço da prosperidade proporcionado pela economia de mercado próspera da Inglaterra. A grande pobreza dos séculos anteriores coincidiu com uma cultura de crueldade pública que Macaulay descreveu da seguinte forma:
“Se um infrator era colocado no pelourinho, era sorte se escapasse com vida do chuveiro de pedras e tijolos. Se era amarrado à traseira de uma carroça, a multidão se aglomerava ao redor, implorando ao carrasco que o castigasse bem e o fizesse uivar. Cavalheiros organizavam festas para ir a Bridewell nos dias de audiência apenas para assistir às mulheres desgraçadas que batiam cânhamo sendo chicoteadas. Um homem sendo esmagado até a morte por recusar-se a declarar-se culpado, uma mulher queimada por falsificar moedas, despertavam menos compaixão do que hoje sentimos por um cavalo ferido ou um boi exausto. Ocorreram brigas [em público] que, se comparadas, fariam uma luta de boxe parecer um espetáculo refinado e humano... Multidões se reuniam para ver gladiadores se despedaçarem com armas mortais, e gritavam de alegria quando um dos combatentes perdia um dedo ou um olho. As prisões eram infernos na Terra, seminários de todo tipo de crime e doença. Nas audiências, os réus magros e amarelados traziam consigo, desde as celas até o tribunal, uma atmosfera de fedor e pestilência que às vezes vingava-os de forma notável contra juízes, advogados e jurados. Mas toda essa miséria era observada com indiferença profunda pela sociedade. Em lugar algum se encontrava aquela compaixão sensível e inquieta que, em nossos tempos, oferece proteção poderosa à criança da fábrica, à viúva hindu, ao escravo negro; que investiga os mantimentos e barris d'água de cada navio de emigrantes; que se contorce a cada chicotada no soldado bêbado; que não admite que o ladrão preso nos porões seja mal alimentado ou sobrecarregado de trabalho; e que, repetidamente, tentou salvar a vida até mesmo de um assassino.”
Segundo Macaulay, uma mudança moral em direção à compaixão na sociedade pode ser atribuída diretamente ao aumento do padrão de vida, bem como ao Cristianismo. O progresso material, apesar daqueles que romantizam os tempos antigos, dizia Macaulay, foi em grande parte responsável por um aumento na bondade. Foi lamentável, acrescentou ele, que as pessoas tenham afirmado erroneamente “que o aumento da riqueza e o progresso da ciência beneficiaram poucos às custas de muitos”, de modo que alguns chegaram a dizer “que o reinado da Rainha Vitória foi o tempo em que a Inglaterra era verdadeiramente a alegre Inglaterra, quando todas as classes estavam unidas por uma simpatia fraterna, quando os ricos não esmagavam os pobres, e os pobres não invejavam o esplendor dos ricos.” Tais afirmações, explicou Macaulay, eram um romantismo sem fundamento:
“Hoje é moda situar a era de ouro da Inglaterra em tempos em que os nobres careciam de confortos cuja ausência seria intolerável até para um lacaio moderno, quando fazendeiros e lojistas tomavam café da manhã com pães cuja mera aparência causaria uma revolta em um asilo moderno, quando ter uma camisa limpa uma vez por semana era um privilégio reservado à alta fidalguia, quando os homens morriam mais rápido no ar mais puro do campo do que hoje morrem nos becos mais pestilentos de nossas cidades...”
O ponto de Macaulay era que os ricos investidores do sistema de mercado haviam tirado a multidão miserável da pobreza, tornando a sociedade “mais gentil e amável” (para usar uma expressão curiosa do presidente George H. W. Bush). Em uma carta famosa a um admirador americano de Thomas Jefferson, Macaulay advertiu que o hábito democrático de saquear os ricos era a maneira mais segura de destruir o “grão de semeadura” de um país. As explosões proletárias de Steve Bannon contra os ricos, contra a preservação desse grão de semeadura, são, portanto, demagógicas e sinistras. O leninismo, de repente, criou um braço direito? Aqui encontramos uma curiosa inversão do que é direita e do que é esquerda. Nossas elites de esquerda, que apodrecem ao transmutar seu marxismo vulgarizado em Wokeismo, agora são superadas na defesa da classe trabalhadora por figuras confusas como Marjorie Taylor Greene ou celebridades jornalistas como Tucker Carlson, que levantam a bandeira do proletariado enquanto clamam por uma aliança com Moscou.
Essas mudanças no cenário político da direita americana, que surgiram desde a queda da União Soviética, são estrategicamente significativas. Elas teriam ocorrido na ausência de ações ativas russas ou chinesas? Hesita-se em apontar para a velha “conspiração comunista” como explicação dessas mudanças. Qualquer tentativa séria de relacionar os métodos conspiratórios de Lênin às intrigas políticas atuais tende a ser descartada junto com as palhaçadas de um exército cada vez maior de lunáticos. Esses indivíduos distraem continuamente o público com afirmações absurdas sobre falsas viagens à Lua, o 11 de Setembro ou o assassinato de JFK. É importante fazer uma distinção neste ponto. O partido de novo tipo de Lênin não apresenta ao estudioso uma nova teoria da conspiração. O partido de novo tipo de Lênin é um fato histórico. Não há teoria alguma. Os seguidores de Lênin sempre usaram engano e intriga. Sempre usaram agentes de influência e infiltrados. Sempre usaram subterfúgios. Nesse contexto, a questão que ninguém quer discutir é se o comunismo de fato colapsou em 1991 (ou em que sentido colapsou). O impulso instrumentalista e maquiavélico pela dominação global por parte dos sucessores de Lênin terminou em 1991? Diante de aparentes divisões no movimento comunista e da fachada da democracia russa, pode-se argumentar que os comunistas “mudaram de formação” e começaram a leninizar a direita americana e europeia.
Desde o início de sua carreira, Lênin dizia que os marxistas deviam organizar um movimento conspiratório centralizado, secreto e profissionalmente estruturado. Lênin dizia estar “cansado do nosso amadorismo...”. Ele explicou: “Para estar plenamente preparado para sua tarefa, o operário-revolucionário também deve se tornar um revolucionário profissional.” O “partido de novo tipo” de Lênin começa com isso. Lênin achava que os teóricos da social-democracia estavam errados ao se oporem à visão conspiratória da luta política. Os social-democratas russos, dizia ele, estavam lutando contra um regime absolutista (isto é, o czarismo), e nesse contexto a organização conspiratória precisava estar na base:
“uma forte organização revolucionária num país autocrático também pode ser descrita como uma organização ‘conspiratória’ porque a palavra francesa conspiration é equivalente à palavra russa zagovor (‘conspiração’), e tal organização deve ter o máximo de sigilo. O sigilo é uma condição tão necessária para esse tipo de organização que todas as demais condições (número e seleção dos membros, funções, etc.) devem ser ajustadas a ele. Seria extremamente ingênuo, portanto, temer a acusação de que nós, social-democratas, desejamos criar uma organização conspiratória. Tal acusação deveria ser... lisonjeira...”
Note-se a ênfase de Lênin: o segredo e a conspiração eram essenciais para sua organização — e para tudo que nasceu dela. Todas as demais considerações deviam ser subordinadas à necessidade de sigilo. Além disso, o trabalho secreto não podia ser realizado por amadores. Ironia das ironias, o esquema organizacional de Lênin fomentou uma situação em que os operários seriam ultrapassados pelos intelectuais, pelos organizadores e pelos revolucionários profissionais.
A Grande Revolução de Outubro de 1917 teria sido iniciada em benefício dos trabalhadores, mas acabou beneficiando intelectuais alienados, burocratas e o lumpemproletariado. A partir desses primeiros princípios leninistas, torna-se claro por que o proletariado estava destinado a ser deixado para trás pelo movimento bolchevique. Tudo era feito em nome da classe trabalhadora, mas em benefício dos sociopatas de língua solta. Quer Lênin tenha sido ou não um sociopata — como sugerem alguns observadores — ele foi, sem dúvida, um brilhante organizador, cuja mentalidade instrumental e maquiavélica o conduziu ao êxito final em 1917.
Como sucessor de Lênin, Stálin voltaria os métodos de conspiração contra os próprios colegas. Eliminou seus concorrentes dentro do Partido Comunista da União Soviética (PCUS). Em larga medida, o poder soviético era Stálin, e Stálin era o poder soviético. Seu domínio sobre a máquina conspiratória foi absoluto. Após sua morte, em 1953, o Kremlin adotou um modelo de “liderança coletiva”, com Khrushchov, Brejnev, Andropov, Tchernenko e Gorbachev, que continuaram a pilotar a máquina leninista. Contudo, essas figuras careciam do gênio de Lênin e dos instintos (ou do ímpeto) conspiratórios de Stálin. Aqui o sistema leninista passou das mãos dos empreendedores revolucionários para as dos “gerentes” e burocratas. A energia criativa dos fundadores já havia sido, em grande parte, consumida — mas a intensiva organização e sistematização das ideias originais prosseguiu com esquemas, planos e manobras ainda mais elaborados.
A aposta liberalizante de Gorbachev entre 1987 e 1991 foi, segundo suas próprias palavras, consistente com o método do “ziguezague” de Lênin para fazer avançar a causa revolucionária. É difícil estimar a gravidade dos reveses sofridos nesse período, os quais continuaram sob a Federação Russa de Boris Yeltsin. Um período de ajustes e de cuidadosa sovietização teve início com Putin, em 2000. Desde a invasão da Ucrânia, a sovietização tem se acelerado. Os eventos de 1989-1991 levaram quase todos a acreditar que o projeto leninista havia naufragado. Mas a situação atual sugere que o navio revolucionário foi consertado. Como escreveu Lênin em maio de 1904: “Um passo à frente, dois passos atrás.” Quando reiterou esse tema em 1922, no XI Congresso do Partido, ele admitiu: “Recuar é algo difícil — especialmente para revolucionários...”
À luz desses pontos, surge uma pergunta urgente: Onde está agora a organização conspiratória de Lênin? Ela se fragmentou e morreu? Foi absorvida pelo crime organizado? Desapareceu, ou vem operando discretamente todo esse tempo? Os comunistas em Pequim, Pyongyang, Havana e Hanói certamente não esqueceram o abecedário do leninismo. Esse foi o leite materno deles. Mesmo que o Ocidente nunca tenha se dado ao trabalho de ler Lênin ou compreender seu programa, seus seguidores o compreenderam perfeitamente. Deve-se reconhecer que a União Soviética não era o alfa e o ômega do campo socialista. Sim, Moscou era o Estado-Maior da Revolução Mundial, o berço da Revolução, a Pátria do Socialismo. Mas por que os eventos de 1991 mudariam isso? Para onde foi a elite partidária do PCUS? Resposta: ainda estavam em Moscou. Continuavam com seus cargos. Continuavam com suas armas nucleares. E continuavam com seus amigos marxistas ao redor do mundo.
Os grandes partidos comunistas da Ásia — e também da África e da América Latina (ainda que camuflados sob a fachada da social-democracia) — estavam claramente aptos a levar adiante o plano de Lênin após 1991. A velha elite soviética continuou a ocupar cargos no governo da Federação Russa. Quando e onde, afinal, o leninismo foi definitivamente derrotado? “Dois passos atrás” não foi derrota final nem em 1904, nem em 1922, nem em 1991. Era uma dança. Eis a razão pela qual Lênin ainda não foi enterrado.
Há ainda outro ponto estranho que ninguém parece ter considerado com seriedade: Marx e Lênin ensinaram que o marxismo não era uma ideologia. Sendo assim, como poderia a ideologia marxista-leninista estar morta? Como se pode declarar morta uma ideologia cujos fundadores negaram ser uma ideologia? Se Marx e Lênin não criaram uma ideologia, então o que criaram? Supostamente, uma teoria das ciências sociais — o chamado “socialismo científico” — com o objetivo de tomar o controle da história por meio da conquista política. Lênin certa vez caracterizou o marxismo como a gestão científica dos assuntos humanos. Se os marxistas-leninistas em Moscou estavam realmente seguindo um caminho científico, então sua política poderia mudar com o tempo, com o conhecimento e a experiência. Mas, em última instância, uma coisa jamais poderia mudar: a prática do marxismo consistia na ciência de concentrar o poder nas mãos dos marxistas.
E como bem disse Lord Acton, o poder absoluto tende a corromper absolutamente. O resultado da prática marxista-leninista era previsível. Acabou por se transformar em algo criminoso. Deu origem a um gangsterismo científico, organizado em escala massiva, com a mentira, o roubo, o engano e o assassinato no centro de suas atividades.
“Um bom aparato secreto requer um bom treinamento profissional dos revolucionários e uma divisão de trabalho”, explicou Lênin. Putin é exatamente esse tipo de revolucionário. Xi Jinping também é um quadro do movimento leninista. É por isso que trabalham juntos. Mas os analistas ocidentais não reconhecem a existência contínua de um movimento conspiratório leninista. Pensam que ele deixou de funcionar em 1991 — se é que um dia funcionou de fato. O grande erro cometido por historiadores e analistas políticos foi considerar que as instituições leninistas são normais, que podem ser julgadas como meras continuidades das antigas instituições russas, chinesas ou norte-coreanas. Até mesmo Eric Voegelin negou haver algo especial no regime de Stálin. Para ele, era uma continuação da Rússia e dos interesses nacionais russos com uma bandeira vermelha. Stálin estaria apenas levando adiante as antigas políticas dos czares.
Mas há uma diferença fundamental entre os czares e os comissários, entre Nicolau II e Vladimir Putin. O antigo tenente-coronel da KGB adere aos métodos criminosos e maquiavélicos defendidos por Lênin. Ele é cínico no sentido leninista do termo. Sim, líderes nacionais e tribais sempre mentiram, mataram e saquearam ao longo da história — mas jamais elevaram essas práticas à categoria de princípio — de algo “bom” que deve ser praticado para alcançar o domínio absoluto sobre a humanidade.
Vladimir Putin tem sido bastante claro em suas declarações ao longo dos anos. Foi um bandido comunista profissional, treinado pela “espada e escudo” do Partido Comunista da União Soviética — ou seja, pela KGB. Com esse passado, Putin lamentou a queda da União Soviética. Em 2017, disse a uma plateia de jovens comunistas em Sochi que acreditava neles. Admitiu jamais ter queimado sua carteira de filiação partidária. E declarou que o leninismo é, em essência, o mesmo que o cristianismo. Em vez de transformar o Mausoléu de Lênin num memorial às vítimas do comunismo, ele manteve o cadáver de Lênin na Praça Vermelha. Um russo tradicional, como Nicolau II, jamais teria feito isso.
Por que presumimos que tropas comunistas norte-coreanas estão lutando ao lado da Rússia na Ucrânia? Por que a China comunista está ajudando a Rússia? Por que tropas russas e chinesas apoiam o regime comunista da Venezuela? Por que as agências de inteligência russas e chinesas mantêm bases em Cuba comunista? A propaganda da televisão russa é muito clara: o inimigo de Moscou continua sendo Wall Street, o Pentágono, a OTAN e os “globalistas” (isto é, os capitalistas). Portanto, a situação atual é idêntica à da Guerra Fria. Nada de fundamental mudou em Moscou. Contudo, a ala política dos Estados Unidos foi flanqueada. A direita americana começa a soar como o Pravda.
O desertor da KGB, Anatoliy Golitsyn, previu a ascensão de um líder soviético liberal antes mesmo de Gorbachev chegar ao poder. Mas Golitsyn alertava que esse liberalismo seria uma fachada — como de fato foi. Desde então, pelo menos dois outros desertores advertiram que a Federação Russa busca a destruição dos Estados Unidos com ainda mais afinco que a antiga União Soviética. São eles o coronel da GRU, Stanislav Lunev, e o desertor da SVR, Sergei Tretyakov. Mas quem presta atenção a essas vozes? E aqui está a América: amplamente desarmada, com um arsenal nuclear obsoleto. Nenhum país ocidental quer pagar o preço pelo rearmamento. Todos apontam o dedo uns para os outros. Apenas os países menores — como Suécia, Finlândia, os Estados Bálticos e a Polônia — estão realmente se empenhando. E então, com a declaração de Bannon, vemos que a direita americana, que tradicionalmente defendia a segurança nacional, foi desarmada intelectualmente.
Está claro que os epígonos desiludidos do antigo conservadorismo americano estão flertando com o “tradicionalismo”, o “autoritarismo” e a “Ilustração Sombria” (Dark Enlightenment) como forma de camuflar seu próprio niilismo. Mas essa camuflagem não é uma cura. É apenas outra iteração da mesma doença que fingem combater. Como interpretar, de outro modo, autores como Michael Anton, Nick Land ou Curtis Yarvin? Assim como os niilistas da esquerda, esses escritores estão atolados nos brejos de uma religião política imaginada, que caminha para um fim apocalíptico e violento. Cada vez mais, olham para trás, para Hitler, pensando que a solução está no autoritarismo e na ditadura. Mas eles não são Hitler. Na verdade, seriam Nicolau II — e, assim, de forma quase inocente, acreditam que sua aventura não terminará mal. No entanto, não perceberam que suas oferendas são feitas ao mesmo deus de Hitler — isto é, ao deus do poder, à política como religião. Essas almas desmoralizadas e quebradas esqueceram sua herança. Esqueceram de olhar para George Washington.
Inadvertidamente, avançam em direção a um teatrinho grotesco, um Punch and Judy Show, onde os fantoches são cadáveres ocos — Lênin versus Nicolau II. Estão marchando rumo a uma guerra civil, com o Exército Branco se opondo ao Exército Vermelho. O que os faz pensar que os Brancos podem vencer?
Folheia-se o livro de Nick Land, The Dark Enlightenment, e lá se lê: “A humilhação regular, excruciante e esmagadora da alma do conservadorismo na questão racial não deveria surpreender ninguém. Afinal, o papel principal do conservadorismo na política moderna é ser humilhado.” Mas Nick Land comete um erro fundamental ao escrever isso, pois o conservadorismo não tem mais nada a conservar. Seu globo ocular apodrecido já não enxerga coisa alguma! É claro que a humanidade é tribal! O wokeísmo merece ser ridicularizado, não debatido! Precisamos mesmo nos angustiar com o hitlerismo e esculpir um argumento hobbesiano enquanto citamos Thomas Carlyle para favorecer Vladimir Putin e Xi Jinping? Esse neuroticismo excessivamente sensível sobre os crimes da Europa contra a humanidade — projetando-se sobre o velho conservadorismo —, combinado a uma compreensão ridiculamente ingênua de onde tudo isso leva, mostra que Nick Land jamais reconheceu o grande necrotério político da modernidade tardia, com seu exército de embalsamadores, fazendo pelo Ocidente o que os embalsamadores de Moscou fizeram por Lênin.
Alguém deveria dizer ao Professor Land: “Sim, você viu um cadáver em decomposição. Mas por que não compreendeu que os conservadores são os coveiros? E você também é um coveiro, alinhando um cadáver contra outro. Sim, virão juntas militares, guerras e ditadores. Mas a Constituição dos Estados Unidos é algo glorioso. A liberdade é algo bom. Agarre-se a ela enquanto ainda pode.”
George Washington e os Pais Fundadores não estão mortos no mesmo sentido que Lênin ou Nicolau II estão. Washington e os Fundadores construíram algo bom, que herdamos. O autoritarismo e o fascismo podem chegar à América, mas ninguém deveria fingir que há qualquer coisa boa ou útil na formulação de novas ideologias que falsificam a história e iludem as pessoas. Não vamos fingir que o Exército Branco é a resposta. O velho antissemitismo está retornando com suas falsificações e histórias mentirosas sobre judeus e maçons. Muitos se agarram a essas narrativas, lendo apenas livros conspiratórios. No fim das contas, acabarão absorvidos pela máquina cínica de Lênin.
Em tudo isso, me parece claro que o “partido de novo tipo” de Lênin não desapareceu em 1991. Lênin não foi enterrado. O comunismo é, por definição própria, conspiratório. Quando as pessoas se sentem alienadas, quando a sociedade marcha rumo à escuridão, há uma tendência a buscar soluções revolucionárias — tanto à direita quanto à esquerda. Esse tipo de situação pode ser explorado por potências estrangeiras hostis, especialmente se essas potências forem lideradas por comunistas com longa trajetória de experimentação revolucionária.
É necessário apontar continuamente os fatos. Todos os países comunistas do mundo, inclusive os novos estabelecidos após 1991 (como África do Sul, Congo, Venezuela, Brasil, Nepal, etc.), estão ajudando a Rússia, colaborando com a China, a Coreia do Norte e Cuba. A queda da União Soviética não foi um evento simples. Temos o livro de Karen Dawisha, Putin’s Kleptocracy, e o de Heidi Blake, From Russia With Blood, os quais indicam que a antiga máquina de assassinato do Kremlin continua ativa. Essas obras sugerem que Putin é um gângster. Supervisionou assassinatos, lavagem de dinheiro e tráfico internacional de drogas. Nenhum estadista deveria sentar-se à mesa com Putin e agir como se fosse possível negociar com ele. Qualquer que seja o rótulo que atribuamos ao regime russo, trata-se de uma empresa criminosa alinhada com todas as potências comunistas. E, como tal, representa uma ameaça mortal aos Estados Unidos. Qualquer pessoa que colabore com a Rússia, ou repita pontos de propaganda russos, deve ser vista como inimiga dos Estados Unidos.
Objetivamente, a Ucrânia está lutando contra o inimigo mais perigoso da América. A Ucrânia, portanto, é nosso maior aliado. Além disso, a OTAN é essencial para os interesses americanos, pois a Rússia não pode ser autorizada a conquistar a Europa ou convertê-la numa base de operações contra a América do Norte. A política do presidente Trump não tem sido firmemente favorável à Ucrânia ou à OTAN. Como outros presidentes americanos, Trump quer um “reset” com a Rússia. Mas isso jamais funcionará. Fazer negócios com Moscou e Pequim sempre foi um erro. O Ocidente comprou o gás e o petróleo de Putin. Vendemos nossa tecnologia a Moscou. E, com isso, permitimos o assassinato em massa. Morte e destruição têm caído sobre a Ucrânia desde que a “operação militar especial” foi ordenada por Vladimir Putin com a aprovação do Conselho da Federação Russa. Essa invasão de um país soberano violou tratados e acordos solenes, sendo justificada de forma enganosa por distorções históricas e mentiras descaradas. Tudo isso revelou um governo sem qualquer escrúpulo moral. Todo o teatro pré-invasão foi de uma indecência repugnante. Essa mesma assembleia de orcs pode, um dia, solicitar uma “operação militar especial” contra o Alasca.
O governo russo, em meados de maio, está convocando “padres militares” e preparando novas divisões, novas brigadas, novas unidades aéreas para uma ampliação da guerra atual. Ontem, transportes militares da OTAN corriam para reforçar a cidade ameaçada de Vilnius, situada entre o enclave russo de Kaliningrado e Belarus. O aumento do aparato militar russo é inconfundível. Putin não está interessado em paz. Ao mesmo tempo, a China está ampliando seu apoio militar à Rússia; e tudo isso enquanto Lênin permanece insepulto em Moscou.
O sigilo é uma coisa leninista. Mentir é uma coisa leninista. Matar é uma coisa leninista. Mas enterrar Lênin não seria uma coisa leninista. Eis aqui a nossa régua de medir a Federação Russa e Vladimir Putin. Naturalmente, a história não é a narrativa de uma conspiração-mestra única. Lênin não é um deus que controla a história. Ele é um sociopata que instituiu um novo tipo de regime. Minha pergunta: esse regime, em forma alterada, continua avançando?
Conclusão
Há mais de uma semana fui convidado para o programa de rádio In Plain Site, de Jeremy, na RBN, para debater com o Dr. James Fetzer sobre o assassinato de Kennedy. Fetzer é, supostamente, um especialista famoso nesse assunto. Enquanto ele tinha certeza de que todos os que tinham algum motivo para matar Kennedy estavam armados naquele dia, 22 de novembro de 1963, fiquei perplexo com sua recusa em vincular o crime ao homem que comprou a arma do assassinato por correspondência, levou essa arma ao trabalho disfarçada de “varões de cortina” naquela manhã e montou o ninho de atirador no sexto andar do prédio do Texas School Book Depository.
Não há qualquer dúvida, para mim, de que Lee Harvey Oswald atirou em John F. Kennedy. Conhecendo bem as provas contra Oswald, fiquei estupefato quando o “Dr.” Fetzer se recusou a abordar qualquer uma delas. Em certo momento, depois de rejeitar toda a discussão factual, ele me acusou de ser “desonesto”, afirmando de forma fantasiosa que havia seis assassinos alinhados contra Kennedy naquele dia, todos disparando dentro do mesmo intervalo de 8,4 segundos. Um deles, segundo ele, era um agente do Mossad!
O fato de que nenhuma testemunha confiável tenha visto esses atiradores naquele dia não foi explicado. O fato de que a polícia de Dallas e o Serviço Secreto não tenham os visto, não foi explicado. O fato de que a maioria das pessoas presentes tenha ouvido três tiros, e não seis – não foi explicado. Os ouvintes do programa ficaram uniformemente enojados comigo. Fui repetidamente repreendido por não compreender o “poder da conspiração”. Em um dos momentos finais, quase cômico, Fetzer lamentou que eu tivesse deixado escapar o “fio principal da história”, que seria, essencialmente, uma grande conspiração contra todos nós. Segundo ele, eu deixei passar que as missões da Apollo foram uma farsa, que o 11 de Setembro foi um trabalho interno, e que o assassinato de Kennedy foi realizado por um pelotão de fuzilamento de seis homens. Como eu podia ser tão estúpido a ponto de não perceber tudo isso?
Não é possível responder a tal pergunta, pois respondê-la exigiria um interlocutor racional. O fato é que a pergunta era insana, e o interlocutor claramente desligado da realidade. Claro que ele não era um esquizofrênico sem-teto revirando latas de lixo. Ele estava no rádio! Mas representava uma forma de insanidade.
Nesse contexto, Eric Voegelin falou sobre as pessoas que seguiram Hitler. Ele disse que uma grande parte da população havia se cansado da realidade. Queriam algo melhor do que a realidade. Queriam um divertissement – ou seja, um entretenimento. Segundo Voegelin, o divertissement “é um fenômeno de uma classe social determinada, que de fato vive na primeira realidade, mas está entediada com ela – o que já é uma condição de declínio moral até certo ponto.”
As pessoas entediadas com a realidade, observou Voegelin, anseiam por uma “segunda realidade” mais emocionante. As pessoas se entregam a essa segunda realidade porque “é divertida”. Mas é um tipo perigoso de diversão, pois a realidade verdadeira (a primeira realidade) pode se perder. O que se cria, por meio das narrativas do divertissement, são conceitos e símbolos desvinculados da realidade. Teóricos da conspiração como Fetzer usam a lógica para organizar e reorganizar suas narrativas em sistemas simbólicos. Mas esses símbolos não têm conexão com a realidade. Fetzer jamais fez um argumento baseado em fatos conhecidos sobre o assassinato de JFK. Ele descartou todos os fatos conhecidos porque todos, para ele, faziam parte da conspiração. Uma vez que se invoca a conspiração, não se aplicam mais regras de evidência. Apenas as “leis da conspiração” contam — e essas leis declaram que há uma grande conspiração por trás de cada grande evento. Ela é imensa e eficiente. Qualquer evidência mostrando que tal conspiração não existe é, na verdade, prova de que ela é boa em esconder seus rastros.
Inacreditavelmente, um correspondente muito inteligente, com quem mantenho contato há muitos anos, recentemente me disse que duvidava que tivesse havido um massacre de crianças na Escola Primária Sandy Hook em 14 de dezembro de 2012, e que Alex Jones havia sido injustamente condenado nos tribunais. Isso, claro, era completamente insano. Fiquei atônito. Meu correspondente havia achado o divertissement da “segunda realidade” de Alex Jones tão persuasivo, que todo o seu discurso já há muito tempo estava contaminado com narrativas sobre o “prédio número 7” do World Trade Center, e sobre um míssil — e não um avião comercial — atingindo o Pentágono no 11 de Setembro, entre outras. Nenhum argumento racional é possível contra essas pessoas. Nenhuma evidência conta. Nenhuma testemunha importa. Na prática, os teóricos da conspiração são niilistas epistemológicos.
Eric Voegelin sustentava que esse tipo de niilismo “refere-se ao colapso de uma sociedade, quando ocorre a perda da realidade e a falta de contato com a realidade… porque o contato intelectual do homem com a realidade foi interrompido.”
Isso é assustador — e acredito que estamos testemunhando algum tipo de colapso. Há um desconexão intelectual nos Estados Unidos e no mundo. Uma mancha negra de ignorância está se espalhando. Ela assume a forma do desejo de uma aliança com a Rússia contra a China. Contida nessa fórmula está uma tendência a desprezar as vítimas da agressão russa na Ucrânia. Em termos de política de segurança nacional americana, isso é tão insano quanto a visão de Fetzer sobre o assassinato de JFK.
Pessoas que vivem numa realidade falsa compartilham uma certa incapacidade. Heimito von Doderer, em seu romance Os Demônios, escreveu que um revolucionário “é alguém que quer mudar a situação geral por causa da impossibilidade ou da insustentabilidade de sua própria posição….” Estejamos falando da Revolução Bolchevique, da Revolução Nacional-Socialista, da Revolução Woke ou da Revolução Trump, talvez estejamos falando de personalidades incapazes de suportar a si mesmas. Essas pessoas, sugeria Doderer, “abandonaram” a tarefa concreta de suas próprias vidas em busca de algo falso. Voegelin explicou que “a revolução [que essas pessoas promovem] realiza uma falsificação sistemática da história”, que as eleva grandiosamente à condição de salvadores e reveladores da verdade. Tais são os loucos políticos de todas as épocas — de modo que “qualquer um que não esteja alienado da primeira realidade só pode cometer alta traição.”

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