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Estratégia Russa e Chinesa: Pedra, Papel e Ogivas Nucleares (Jeffrey Nyquist – 22/04/2023)

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Published on 06 May 2025 / In Other

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Estratégia Russa e Chinesa: Pedra, Papel e Ogivas Nucleares (Jeffrey Nyquist – 22/04/2023)

“…a dualidade coordenada das políticas soviética e chinesa oferece uma série de vantagens para a estratégia comunista. Ela permite ao bloco comunista manter a iniciativa, abrir novas possibilidades de manobra e induzir respostas errôneas de seus adversários. Onde há conflitos no mundo exterior, ela permite que os dois parceiros comunistas, ao tomarem lados opostos, fortaleçam simultaneamente a influência comunista sobre ambas as partes do litígio.”
— Anatoly Golitsyn
O major da KGB Anatoliy Golitsyn, que desertou da União Soviética em dezembro de 1961, previu com êxito a ascensão de Gorbachev e uma falsa liberalização soviética que enfraqueceria a postura estratégica do Ocidente. Ele previu até mesmo que o Partido Comunista abriria mão de seu monopólio de poder na Rússia. A Guerra Fria, em efeito, estaria encerrada. Mas tudo, segundo ele, seria uma enganação. Foi planejado para que o Ocidente baixasse a guarda. Os chineses e os russos — junto de seus aliados comunistas ao redor do mundo — estariam então em melhor posição para infiltrar as instituições centrais do Ocidente. Moscou e Pequim também obteriam acesso à tecnologia ocidental para modernização militar. Ao mesmo tempo, o Ocidente deixaria de produzir armas nucleares. E foi exatamente isso que aconteceu depois de 1991.
Observe a situação atual em Moscou: a fachada acabou. A Rússia já não finge ser uma democracia. Putin já não finge ser amigo da América. A máscara foi arrancada. E, apesar de tudo isso ter sido previsto antecipadamente, quase ninguém deu crédito a Golitsyn. Quando a União Soviética estava ruindo, e as previsões de Golitsyn se cumpriam, a grande mídia ocupava-se em difamá-lo. O fato de que seu nome permanece manchado, de que sua análise jamais é utilizada por políticos ou comentaristas do mainstream, mostra que o engano comunista teve êxito — e continua tendo. Esse fato não pode ser subestimado. A maioria dos conservadores acredita, com Sean Hannity, que “Reagan venceu a Guerra Fria.” Nenhuma voz importante na mídia é ouvida dizendo, mesmo agora, que o bloco comunista ainda existe ou que os comunistas nos enganaram em 1991. Todos falam como se Rússia e China fossem potências não comunistas, motivadas por nacionalismo em vez das ideias assassinas de Marx, Engels, Lênin e Mao.
Como ninguém deu ouvidos aos alertas de Golitsyn, América e Europa permitiram que seus arsenais nucleares caíssem em ruína. Nenhuma nova ogiva foi produzida em décadas. Não há um regime eficaz de testes. Os especialistas antigos se aposentaram. Conhecimentos técnicos críticos foram perdidos. As armas nas quais confiamos para a sobrevivência nacional estão vencidas. Assim, a pergunta do momento é: as armas nucleares do Ocidente ainda funcionam? Rússia e China estão observando atentamente. Nos próximos meses, elas nos testarão; e, assim que tiverem certeza de que não temos dissuasão nuclear efetiva, apresentarão seu ultimato. Ou simplesmente atacarão — como a Rússia fez com a Ucrânia — e nos aniquilarão.
Quando um país abre mão de seu arsenal nuclear, seja por negligência ou tratado, considere o que acontece. Maria Drutska apontou há poucos dias: “A Ucrânia abriu mão de 3.000 ogivas nucleares porque nos prometeram que seríamos protegidos. Agora nossos soldados são castrados, decapitados e queimados vivos. Seus gritos nos assombrarão pela eternidade. Assistimos ao sequestro de nossos filhos, assistimos às nossas casas sendo bombardeadas.”
Por que a Ucrânia foi invadida? Porque Moscou se encorajou ao possuir mais armas nucleares — e armas nucleares mais modernas — que os Estados Unidos. O Estado russo queria a reintegração da Ucrânia a uma nova União. E por que decidiram por isso agora? Porque o Ocidente estava mais fraco, frente à China e à Rússia, do que jamais estivera. Além disso, a Ucrânia é um país importante na produção de alimentos, e a China precisa dessa produção. Dada a estratégia comunista de longo prazo, não havia tempo a perder. De fato, há testemunhos oriundos do FSB russo de que o Kremlin vem contemplando ataques nucleares contra o Ocidente. Eles até tentaram ocultar isso de seus próprios planejadores.
De acordo com um analista do FSB russo, escrevendo anonimamente sobre a guerra na Ucrânia, “ninguém sabia que haveria tal guerra – isso foi ocultado de todos.” Os chefes do Kremlin não informaram nem mesmo seus próprios analistas de que estavam pensando em invadir a Ucrânia ou em lançar ataques nucleares contra o Ocidente. Em vez disso, os chefes do Kremlin inventaram um cenário falso. O analista anônimo do FSB escreveu: “...estão pedindo que você analise vários resultados e consequências de um ataque de meteorito — você pesquisa o modo do ataque e lhe dizem que é apenas uma hipótese, que não deve se preocupar com os detalhes, então você entende que o relatório serve apenas para cumprir tabela, e as conclusões da análise devem ser positivas para a Rússia, do contrário você basicamente será interrogado por não ter feito um bom trabalho. Assim, você deve escrever que temos todas as medidas necessárias para anular os efeitos de um determinado tipo de ataque.”
A palavra “meteoro”, é claro, é uma metáfora para a palavra “nuclear”. A palavra com “n” é uma obscenidade que nunca deve ser pronunciada. Então, em vez de “ataque nuclear”, você diz aos seus analistas que se trata de um “meteoro”. Espera-se que eles sejam espertos o bastante para entender sem perceber exatamente suas intenções. Se tentarem dizer algo “errado” em voz alta, você os corrige. Diz a eles para “ficarem calados” e fazerem a análise. Marque a caixa de verificação e dê o sinal verde ao Kremlin.
Ao menos um analista do FSB tentou alertar o Kremlin de que a Rússia era fraca demais para sobreviver economicamente a uma guerra nuclear. “E agora?”, perguntou o analista russo. A Terceira Guerra Mundial não é viável. Ele escreveu:
“Não podemos anunciar uma mobilização geral por duas razões: (1) A mobilização implodiria a situação interna da Rússia: política, econômica e socialmente. (2) Nossa logística já está sobrecarregada hoje. Não podemos enviar um contingente muito maior para a Ucrânia... porque nossas estradas simplesmente não comportam o reabastecimento de tais comboios, e tudo pararia. E não conseguimos executar isso do ponto de vista da administração, por causa do caos atual.”
Operações militares exigem tremenda integridade administrativa. É preciso líderes honestos que digam a verdade, e subordinados que possam dizer a verdade ao poder. Organizações militares eficazes requerem coragem moral — que é mais importante do que coragem no campo de batalha. Mas nunca houve coragem moral no sistema russo, porque tudo na Rússia sempre foi baseado em mentiras. Se você ia junto com as mentiras, era promovido. A primeira mentira era que a Rússia era democrática. A segunda, que a Rússia tinha uma economia livre. A terceira, que a Rússia havia ingressado na civilização, que seus líderes eram “pessoas normais.” (Como o desertor, coronel Stanislav Lunev, me disse: “Essas não são pessoas normais. São pessoas loucas.”) Quando todo o seu sistema político é uma mentira, e a mentira se torna uma segunda natureza de cima a baixo, você perde a capacidade de fazer as coisas da maneira correta.
“Sim, camarada presidente, estamos guardando seu equipamento em depósitos. Não, camarada presidente, não estamos desmontando nem vendendo. Sim, camarada presidente, estamos construindo novas armas. Não, camarada presidente, não estamos desviando o orçamento militar.”
(E sob o fôlego: “Bem, você desvia tudo, então por que nós não podemos?”)
A dissimulação tem sido a grande arma da Rússia. Mas o engano é uma espada de dois gumes. Se você realiza tudo por meio da trapaça, o que acontece quando seus subordinados passam a fazer o mesmo com você? Estabelecer a mentira e o engano como padrão aceitável, modelado pelos líderes, é corromper os próprios subordinados. Imagine, então, o que acontece quando é necessária honestidade em um esforço cooperativo para cercar a capital inimiga durante uma invasão? A Força Aérea diz que neutralizou as defesas aéreas de Kiev, quando na verdade não o fez. Os paraquedistas voam e são abatidos. Ou o departamento logístico afirma que há comida e combustível suficientes, quando não há. As fábricas de tanques supostamente produziram novos tanques, mas não há tanques novos suficientes sequer para formar um regimento. Mentir e trapacear, tendo se tornado endêmico ao sistema como tal, destrói a eficácia desse sistema. E assim, o soldado russo invadiu a Ucrânia com o estômago vazio. “Vá procurar comida,” disseram os oficiais. Como os sacos de dormir e cobertores prometidos nunca chegaram, os generais disseram: “Durmam no chão gelado.” Quando alguns soldados, sentindo-se maltratados, começaram a desertar para os ucranianos, os generais russos ordenaram atrocidades contra civis.
“Vamos pôr fim às deserções. Se eles matarem mulheres e crianças ucranianas, não poderão mais passar para o lado dos ucranianos. Estarão presos e forçados a lutar.”
Portanto, conclui-se que um sistema fundado em enganar o Ocidente termina por desmoralizar a si mesmo. Se um líder não é honesto, por que seus subordinados seriam? Se os subordinados não são honestos, por que os soldados deveriam confiar nas ordens que recebem? À medida que as mentiras descem do Kremlin, mentiras sobem pela cadeia de comando vinda da linha de frente.
A estratégia de engano da Rússia é engenhosa, é claro. Mas também é um desastre; e a invasão da Ucrânia pela Rússia é um desastre que continua a se desenrolar — um presente que continua a dar frutos amargos. Como observou o analista do FSB, “até mesmo aqueles leais a nós na Ucrânia estão publicamente contra nós.” E tudo deu errado por causa de mentiras, trapaças e distorções da verdade. “Porque,” disse o analista do FSB, “tudo isso foi planejado no topo (na Rússia), porque nos foi dito que tal cenário não aconteceria a menos que fôssemos atacados primeiro.” Mas Moscou não foi atacada primeiro. A agressão russa nua e crua, apoiada por mentiras escandalosas, não moraliza o soldado russo; ao contrário, é a moral ucraniana que se fortalece com a justeza de sua causa nacional.
“O inimigo [ucraniano] está motivado,” disse o analista russo. “Monstruosamente motivado. Sabe lutar, há muitos comandantes capazes. Eles têm armas e apoio. Nós apenas estaremos estabelecendo um precedente de catástrofe humana no mundo.”
A Rússia não pode usar sua vantagem nuclear na Ucrânia porque Putin disse que os ucranianos eram russos. Foi uma declaração que ele fez no início da guerra e que não pode voltar atrás. Se os ucranianos são russos, o presidente russo não pode usar armas nucleares contra eles. Isso não funciona politicamente. Além disso, a Rússia não está preparada para lidar com ataques nucleares lançados da Europa ou da América. No entanto, se as armas nucleares do Ocidente não funcionarem, Putin pode sentir-se livre para fazer o que quiser contra a OTAN, minando assim a posição da Ucrânia por trás. Mas como Putin pode determinar a eficácia do dissuasor nuclear da OTAN?
“Para oferecer mais cinismo,” escreveu o analista do FSB, “não acredito que Putin vá apertar o botão vermelho para destruir o mundo inteiro. Primeiro, não é uma pessoa só que decide, e alguém vai se recusar. São muitas pessoas, e não existe um único ‘botão vermelho’. Segundo, há certas dúvidas de que isso realmente funcione corretamente. A experiência mostra que, quanto mais transparentes são os procedimentos de controle, mais fácil é identificar problemas. E onde é nebuloso quem controla... sempre há problemas. Não tenho certeza de que o sistema do ‘botão vermelho’ funcione de acordo com os dados declarados.”
E assim, ao que parece, o analista russo se pergunta se os generais russos trapacearam até mesmo nos testes de seus próprios mísseis. As armas nucleares da Rússia funcionam? Pouca coisa no aparato militar russo parece funcionar como anunciado.
E agora temos uma explicação para por que os Estados Unidos ainda existem após três décadas de subversão e traição escandalosas nos mais altos níveis. Se a Rússia enganou e infiltrou o Ocidente, a desonestidade e a corrupção nativas dos próprios líderes russos também os apodreceram. Durante todo o tempo em que tramavam nossa destruição, eles mesmos foram se esvaziando por dentro. As coisas não correram bem no coração da Rússia, e agora esse coração está sendo posto à prova. A Rússia parece incapaz de derrotar a Ucrânia. Os traidores na América e na Europa, por mais corruptos que sejam, por mais eficaz que seja a chantagem, não cometerão suicídio atendendo às exigências e ameaças da Rússia.
“Ah sim, vocês nos pagaram bem e entendemos suas ameaças. Mas nenhuma quantia de dinheiro nos convencerá a nos matar. Vão em frente, façam o pior. Se nos expuserem, exporão a si mesmos.”
O Caminho de Rússia e China
É importante entender que a visão rasteira do analista do FSB — desmoralizado — não capta o panorama geral. O russo desmoralizado não enxerga a situação lamentável do Ocidente, com suas políticas suicidas e cada vez mais insanas. Ele não leva em conta o presidente da França se curvando diante de Pequim, ou Biden bloqueando a reconstrução do arsenal nuclear americano. Ele não vê como a Teoria Crítica da Raça é ensinada ao pessoal militar dos EUA, ou como agentes chineses penetraram nos Centros de Controle de Doenças, ou como a mídia ocidental se tornou subserviente a narrativas falsas. Em vez de contar os déficits do Ocidente, ele está contando os da Rússia. Para compreender corretamente a situação, ele deveria ter analisado as patologias de Leste e Oeste; pois a verdadeira questão é saber qual dos dois lados entrará em colapso primeiro.
Os líderes da Rússia e da China sempre tiveram um plano. O caminho a seguir, dizia Marx, passa por uma “crise do capitalismo” na qual o sistema econômico do Ocidente finalmente entra em colapso. “O bloco comunista não repetirá o erro de não explorar uma crise, como fez entre 1929 e 1932,” observou Golitsyn. “Informações provenientes de fontes comunistas de que o bloco está com escassez de grãos e petróleo devem ser tratadas com particular reserva, pois podem ter como propósito ocultar a preparação para a fase final da política e induzir o Ocidente a subestimar a potência das armas econômicas do bloco.”
Segundo os estrategistas soviéticos, os recursos naturais essenciais são o petróleo e os grãos (ou qualquer coisa equivalente, como gás natural e fertilizantes). Se o Oriente conseguir cortar o Ocidente de seus suprimentos energéticos, o Ocidente sofrerá uma contração econômica severa, validando a teoria comunista. Se surgir uma crise alimentar e as populações ocidentais enfrentarem a fome, novamente a teoria comunista será validada. Derrotas no campo de batalha na Ucrânia são insignificantes se o Ocidente sofrer uma perda severa e prolongada de grãos ou petróleo (ou gás natural). À luz disso, considere como o reino petroleiro da Arábia Saudita foi atraído para a órbita da China e da Rússia. No mês passado, os sauditas ingressaram na Organização de Cooperação de Xangai, liderada por Rússia e China. É perfeitamente claro que o petróleo será usado, nos próximos meses, como arma contra os aliados da América na Europa e na Ásia. Combine isso com os ataques ao setor energético ocidental por meio da teoria do aquecimento global antropogênico e você terá uma receita comunista para a vitória.
Considere todas as pequenas vitórias que o comunismo obteve ao longo do caminho: o projeto do oleoduto Keystone XL foi cancelado depois que o presidente Biden bloqueou as permissões federais necessárias. As refinarias de petróleo americanas agora estão paradas. Na Europa, as importações de gás natural russo foram reduzidas em dois terços. Ao mesmo tempo, a OPEP concordou em cortar a produção de petróleo em até 3,66 milhões de barris por dia. Economias cambaleantes após a pandemia continuam a enfrentar dificuldades. Pior ainda, a pandemia causou sérios danos ao sistema bancário ocidental, à medida que os ativos de imóveis comerciais perderam valor. Talvez, de fato, uma crise econômica leve a Europa de joelhos e desestabilize politicamente os Estados Unidos — país famoso por sua estabilidade. Aqui, as atividades de quinta-coluna de agentes russos e chineses contribuíram significativamente.
De acordo com o general Jan Sejna, que serviu como chefe do Estado-Maior do Ministério da Defesa da Tchecoslováquia nos anos 1960, “o alvo principal do Plano Estratégico são os Estados Unidos...”. Embora esse Plano Estratégico tenha sido desenvolvido em 1957-58 por um comitê especial sob Leonid Brezhnev, os aliados do Pacto de Varsóvia só foram incorporados ao plano durante uma reunião realizada em Moscou, em outubro de 1966. Segundo o general Sejna, o plano previa “a retirada dos EUA da Europa e da Ásia; a remoção da América Latina da esfera de influência dos Estados Unidos e sua incorporação ao bloco socialista; a destruição da influência dos EUA no mundo em desenvolvimento; a redução do poder militar americano a um estado de inferioridade estratégica; a ascensão ao poder em Washington de um governo liberal e progressista de transição; e o colapso da economia americana.” Quando o secretário do Comitê Central de Moscou, Konstantin Katushev, visitou Praga para fornecer aos tchecos uma atualização estratégica em setembro de 1967, encontrou ceticismo entre os comunistas tchecos. Katushev explicou que os Estados Unidos eram uma sociedade volátil. Ele disse:
“Podem ir a qualquer extremo... como vimos no período McCarthy e na Guerra do Vietnã. Se pudermos impor aos EUA as restrições externas propostas em nosso Plano e causar uma séria disrupção na economia americana, as classes trabalhadoras e a pequena burguesia sofrerão as consequências e se voltarão contra a sociedade que as abandonou. Estarão prontas para a revolução.”
Sabendo que os Estados Unidos “podem ir a qualquer extremo”, o movimento comunista tomou grandes cuidados em posicionar agentes tanto na direita quanto na esquerda. Com o tempo, as narrativas da direita e da esquerda foram se contaminando com variações de antigos temas comunistas. Muitos supostos conservadores agora pensam de forma pró-Rússia. Querem que os Estados Unidos se retirem da Europa e da Ásia, e não se importam se a América Latina se unir ao bloco socialista. Todos esses temas, que vemos ao nosso redor, apoiam os objetivos estratégicos da estratégia de longo prazo de Moscou e Pequim.
Na política e na estratégia, é preciso muito “combustível” para empurrar uma narrativa com sucesso. Portanto, não é acidente que essas narrativas estejam ganhando terreno entre os conservadores. As pessoas hoje são tão pouco originais e tão pouco reflexivas que é natural que sucumbam às medidas ativas do inimigo. Muitos americanos respeitáveis estão prontos para fazer a vontade de Moscou. E essa situação provavelmente piorará antes de melhorar. Portanto, sempre que ouvir alguém da direita repetindo temas coerentes com os objetivos estratégicos antigos de Moscou, fique em alerta.
O que vemos de muitos lados são os frutos da infiltração comunista nas instituições americanas, desde 1919 até o presente. Some-se a isso as bem-sucedidas operações de desinformação de 1989–91, quando o comunismo supostamente teria desistido da Guerra Fria. Enquanto a estratégia de desinformação em larga escala de Moscou continuar tendo êxito, ninguém verá além das muitas pequenas fraudes perpetradas dia após dia. As pessoas verão tudo fora de contexto, sem entender como cada elemento se encaixa com os demais. E assim, nos Estados Unidos, marxistas conseguiram se eleger para cargos públicos disfarçados com falsas cores democráticas. Os estrangeiros podem ainda pensar nos Estados Unidos como um país de direita. Mas isso não é verdade. A América tomou um rumo à esquerda há muitos anos, como demonstrou o cientista político Tim Groseclose.
Na década de 1990, Golitsyn se perguntava por que o Ocidente ignorou seus alertas sobre os perigos da “democratização” soviética e a marginalização dos anticomunistas. Ele escreveu:
“Sem meios para distinguir fatos de ficção, eles são incapazes de produzir uma síntese válida e objetiva. A capacidade de analisar eficazmente os desdobramentos comunistas, que existia até o início dos anos 1960, foi perdida.”
Golitsyn acrescentou:
“Mal compreendida e mal interpretada, a riqueza de informações disponíveis não tem mais valor do que os volumes de uma velha enciclopédia. A chave para a correta interpretação dos fatos, que os anima e os torna úteis, é o estudo informado da estratégia soviética de longo prazo que está em operação desde o final dos anos 1950. Esse estudo revela o que Lênin chamava de ‘álgebra’ da política soviética moderna. Sem essa chave, os estudos ocidentais ficam confinados à aritmética convencional, pedestre.”
Por mais de três décadas, nossos líderes têm interpretado mal nossa situação estratégica, confundindo inimigos com “parceiros”. Poucos enxergam a agressão da Rússia contra a Ucrânia como parte de um avanço comunista rumo à dominação global. Eles veem as aspirações nacionais de Rússia e China como divergentes. Quase todos os nossos líderes ainda precisam aprender que o bloco comunista ainda existe. Ainda não se deram conta do fato de que a Rússia invadiu a Ucrânia com o apoio dos demais países do bloco comunista. China, Coreia do Norte, Vietnã e Cuba se recusaram a condenar a invasão russa da Ucrânia. A Coreia do Norte está enviando suprimentos militares, e componentes chineses têm aparecido em armas russas capturadas. O futuro, portanto, é previsível, do ponto de vista da estratégia comunista de longo prazo. O Ocidente jamais terá sucesso em conter o Oriente enquanto não reconhecer que o bloco comunista ainda existe — e que um movimento comunista global ainda existe. À medida que a pressão for imposta sobre a Europa por agentes e aliados econômicos do bloco, o entusiasmo em defender a Ucrânia diminuirá. Por mais tempo que leve, os russos atacarão política e economicamente as fontes de abastecimento da Ucrânia na Europa. Moscou jamais abrirá mão do objetivo de conquistar toda a Ucrânia como etapa para escravizar a Europa.
Uma vez que Rússia e China tenham assegurado certas vantagens estratégicas, sua “estratégia das tesouras”, dizia Golitsyn, daria lugar à “estratégia do punho cerrado”. Golitsyn escreveu:
“O argumento a favor de uma acomodação com a força avassaladora do comunismo se tornaria virtualmente irrefutável. Pressões se acumulariam por mudanças no sistema político e econômico americano… Os conservadores tradicionais seriam isolados e empurrados para o extremismo. Eles poderiam se tornar vítimas de um novo macarthismo, agora vindo da esquerda.”
A única esperança, por ora, é que a esquerda tenha se desorientado com a estratégia de desinformação de Moscou. Eles apoiam a Ucrânia, contra os desejos da Rússia. Como isso foi possível? A Rússia não achava que haveria uma guerra longa na Ucrânia. A esquerda na Europa e na América jamais teria tido tempo de registrar a catástrofe humanitária se a Rússia tivesse conquistado Kiev em poucos dias. Era uma invasão que, supunha-se, duraria no máximo três ou quatro semanas. Quão rapidamente tudo teria sido esquecido. O próprio Biden chegou a dizer que tudo bem se a Rússia invadisse a Ucrânia, desde que fosse uma invasão menor (e não uma guerra prolongada). Mas a Rússia ficou empacada. E agora o Kremlin precisa recuar. A esquerda e a direita precisam ser realinhadas de alguma forma. Observe uma súbita virada de opinião. Observe como tudo se desenrola; pois os russos estão do lado comunista, mas não querem perder seus aliados na direita europeia e americana. Considere, mais uma vez, a declaração inusitada do ditador comunista da Venezuela, Nicolás Maduro. No início deste ano, Maduro propôs a criação de um novo bloco de aliança na América Latina, sob os princípios “de que fala nosso irmão mais velho, o presidente Xi Jinping... [e] nosso irmão mais velho, o presidente Vladimir Putin...” Não há como os “irmãos mais velhos” de Maduro não serem os líderes de um bloco comunista que agora está sendo estendido para incluir a maior parte da América do Sul.
Voltemos ao que disse a General Laura Richardson sobre o assunto:
“A maior mobilização militar da história”, diz a General Richardson, está ocorrendo “na China.”
Essa mobilização precisa ser explicada, especialmente em relação à invasão da Ucrânia pela Rússia. Eis aí uma evidência do “punho cerrado” de Golitsyn. A China está formando esse punho ao mesmo tempo em que a Rússia já desferiu um golpe. Todos esses movimentos estão interligados; e a General Richardson está chamando nossa atenção para os movimentos russos e chineses em nosso próprio hemisfério — ou seja, a tomada de países na América do Sul e Central por marxistas que recebem apoio direto de Pequim e Moscou (basta ver Daniel Ortega na Nicarágua, Maduro na Venezuela, o regime comunista cubano e a ascensão dos aliados da China no Chile, Peru, Colômbia e Argentina).
Como indicam os escritos de desertores do bloco comunista, tudo isso foi coreografado de antemão. A invasão da Ucrânia é, em essência, um ataque precursor. Moscou precisa ter a Ucrânia firmemente sob controle antes que o Kremlin esteja livre para apoiar os movimentos da China no Pacífico e no Hemisfério Ocidental. A China precisa do apoio naval e nuclear da Rússia. Portanto, a China deve esperar até que a Rússia vença a guerra na Ucrânia. Segundo essa interpretação dos acontecimentos, a China estava se mobilizando para a guerra contra os Estados Unidos no ano passado, em antecipação a uma vitória russa na Ucrânia; mas essa vitória não foi alcançada. Assim, a China está esperando para iniciar sua “operação militar especial” — e espera, e ainda espera.
Em maio de 2020, quando a pandemia de COVID estava impondo lockdowns aos Estados Unidos e à maior parte da Europa, fontes de inteligência asiáticas estavam alertando Washington de que China e Rússia planejavam uma guerra “estrondosa” contra os Estados Unidos. Em meados de 2021, alguém de alto escalão na inteligência russa, assustado com os “planos insanos” do Kremlin para a guerra, passou informações a autoridades americanas sobre a iminente invasão da Ucrânia. Por seu lado, o governo ucraniano foi avisado sobre a invasão pelos americanos. Quando informado, Zelenskyy — o ator — escondeu adequadamente seu conhecimento prévio dos planos russos com um ceticismo fingido diante dos americanos. O presidente Zelenskyy e sua equipe não queriam revelar — nem aos EUA nem a mais ninguém — que políticos ucranianos haviam sido abordados pelos russos para auxiliar em uma tomada russa da Ucrânia. O plano era assassinar trinta dos principais oficiais ucranianos, incluindo Zelenskyy, e instalar um governo fantoche em Kiev. Muitos desses políticos eram considerados amigáveis à Rússia; mas ao serem solicitados a trair seu país, denunciaram as tentativas de aliciamento aos serviços de segurança da Ucrânia. O governo ucraniano, portanto, estava bem informado sobre as intenções russas. Ainda assim, esse conhecimento precisava ser mantido em sigilo, pois o exército ucraniano estava envolvido em preparativos defensivos sensíveis, que incluíam a dispersão de depósitos de suprimentos militares e locais de defesa antiaérea que seriam alvos nas primeiras horas de um ataque russo. O governo ucraniano não queria provocar pânico entre seu povo, especialmente porque ninguém sabia se a Ucrânia conseguiria resistir a um ataque russo em larga escala. Ao mesmo tempo, os oficiais de inteligência ucranianos estavam monitorando mais de 800 cidadãos proeminentes ligados à inteligência russa. Muitos desses ucranianos seriam presos antes ou logo após a invasão russa de fevereiro de 2022.
Relacionado a isso, é amplamente sabido que o presidente Xi tem dito às forças armadas chinesas que “se preparem para a guerra.” Jornais militares chineses publicaram artigos sobre a guerra iminente já em abril de 2020. Esses artigos não eram mera retórica. Se dermos crédito a Golitsyn, ele alertava sobre uma mudança na estratégia russa e chinesa após o sucesso das operações de desinformação desses países — especialmente a falsa cisão sino-soviética e a falsa liberalização russa. A união de Rússia e China em uma combinação militar ofensiva sempre esteve nos planos.
Se essa visão geral da situação estiver correta, todos os analistas que pensam que a China está “se aproveitando da Rússia” ou que a China deseja tomar a Sibéria quando a Rússia entrar em colapso estão interpretando os eventos de forma equivocada. Os objetivos de Moscou e Pequim não se limitam a adquirir território na Ucrânia ou tomar a ilha de Taiwan. Nesse sentido, sua aliança não é temporária. Não é fruto do oportunismo. A aliança entre os dois países tampouco é nova. É uma colaboração de longa data com o objetivo de provocar a destruição dos Estados Unidos.
Nesse contexto, é infantil esperar que os Estados Unidos consigam seduzir a Rússia para longe da China. Steve Bannon defendeu essa ideia, mas negligenciou as advertências de Golitsyn. Ele não percebeu que existe uma estratégia de longo prazo do bloco comunista. Infelizmente, os formadores de opinião da direita estão equivocados em sua análise dos acontecimentos atuais. Embora seja verdade que a esquerda esteve repleta de idiotas úteis e companheiros de viagem nas décadas passadas, a direita de hoje oferece uma outra forma de erro. A todos os conservadores mal orientados que pensam que Putin é “benigno” e que a Ucrânia é o vilão, permitam-me citar uma frase do depoimento do desertor do SVR russo Sergei Tretyakov, dado em 2007: “Quero alertar os americanos. Como povo, vocês são muito ingênuos em relação à Rússia e às suas intenções. Vocês acreditam que, porque a União Soviética não existe mais, a Rússia agora é sua amiga. Não é — e posso mostrar como o SVR [KGB] está tentando destruir os EUA ainda hoje, e mais do que o KGB fez durante a Guerra Fria.”
Putin estava no poder em 2007. Se Tretyakov afirma que Putin já conspirava por nossa destruição naquela época, o que devemos pensar agora? Ao observar a invasão da Ucrânia, alguns oficiais americanos dizem que “Putin mudou.” Não, ele não mudou. Apenas arrancou a máscara. Como se quisessem minimizar a importância da postura enganosa de Putin, alguns conservadores repetem a ideia de que Putin está desempenhando o papel de Mussolini enquanto a China representa Hitler. Mas todas essas analogias perdem o essencial. Rússia e China Vermelha estão alinhadas há trinta anos — se não há setenta e quatro anos. Muito antes de Putin assumir o poder, a aliança entre Rússia e China já existia. Segundo o coronel Stanislav Lunev, desertor da inteligência militar russa e fluente em mandarim, Rússia e China assinaram acordos secretos de inteligência e militares ao final da Guerra Fria. Esses acordos previam cooperação em inteligência e uma futura invasão da América do Norte. Lunev me disse, em 1999: “A Rússia fornecerá o poder dos mísseis e a China fornecerá a mão de obra.” Mas ninguém no aparato de segurança americano acreditou nas informações de Lunev. As campanhas dos nossos líderes eleitos dependem de contribuições do grande capital — e o grande capital queria comerciar com a China enquanto explorava os recursos energéticos da Rússia.
Quanto à ideia de invadir a América do Norte, praticamente todos os nossos “especialistas” zombaram. Tropas chinesas nunca chegarão à América do Norte, dizem eles. Ninguém seria louco o bastante para iniciar uma guerra termonuclear. Mas a General Richardson está nos dizendo, nas entrelinhas, que Rússia e China já estão aqui. Estão invadindo nosso hemisfério. Em fevereiro de 1999, diante de uma sala cheia de especialistas americanos céticos, Lunev declarou:
“Durante meus anos no Exército soviético e russo, treinamos para uma missão, e apenas uma: uma futura guerra nuclear mundial contra a América.”
Antecipando exatamente esse cenário de fim de jogo, o desertor da KGB Anatoliy Golitsyn escreveu um memorando para a CIA em 1973. Depois que o aparato de defesa dos EUA estivesse suficientemente enfraquecido, observou Golitsyn, Rússia e China poderiam lançar um ataque total:
“… As unidades de foguetes e os bombardeiros estratégicos soviéticos e chineses farão um ataque surpresa em estilo Pearl Harbor contra as principais sedes governamentais e militares dos países ocidentais líderes, bem como contra seus silos de mísseis. A ideia principal será neutralizar as fontes primárias de retaliação do Ocidente e paralisar, ao menos por um curto período, sua capacidade física de tomar uma decisão sobre a retaliação.”
Segundo Golitsyn, os soviéticos utilizariam sua linha direta com Washington, D.C., para semear confusão e dúvida do lado americano.
“Esse tipo de ataque provavelmente será acompanhado por uma intensificação na atividade dos agentes de inteligência dos países comunistas, projetada para aumentar o pânico e operar apagões, paralisando a vida normal nas capitais dos países ocidentais.”
Isso é especulativo, admitiu Golitsyn, mas a guerra nuclear “tem sido objeto de estudo pela KGB — e, em qualquer caso, deve ser considerada como uma possibilidade concreta.”
Depois de ridicularizar durante décadas os temores da direita sobre uma ameaça nuclear russa na Guerra Fria, oficiais do Kremlin e comentaristas da TV estatal russa agora falam seriamente sobre ataques nucleares contra o Ocidente. Em vez de afirmar que a Rússia “não ameaça ninguém,” eles agora se gabam abertamente das capacidades nucleares da Rússia. Em outras palavras, estão ameaçando usar armas nucleares contra países da OTAN — afundar os britânicos com uma “bomba tsunami” nuclear; atacar a Polônia ou até mesmo a sede da OTAN em Bruxelas. Na prática, o envio de armas nucleares por Putin para Belarus constitui uma ameaça nuclear não verbal. Isso foi sublinhado por Yuri Felshtinsky, que afirma que Putin está planejando fazer com que “partidários ucranianos” capturem as armas nucleares russas em Belarus e as disparem contra a Polônia. Putin negará veementemente ter disparado os mísseis, explicou Felshtinsky.
“Putin não se importa com o povo bielorrusso,” disse Felshtinsky. “[O presidente bielorrusso] Lukashenko não tem voz nem poder algum…”
Felshtinsky se diz perplexo com o silêncio da sociedade bielorrussa diante da transferência de armas nucleares russas para seu território. “Nos canais estatais da TV bielorrussa, discutem com sorrisos como destruirão a Polônia e a Lituânia com ataques nucleares. Tudo bem, mas ninguém está fazendo a pergunta… ‘Eles não vão revidar?’ E ninguém está preocupado, de algum modo…”
Segundo o falecido Peter Vincent Pry, existem dúvidas quanto ao estado atual das armas nucleares da OTAN. Essas armas ainda funcionam? O Kremlin gostaria de saber. O último teste nuclear realizado pelos EUA foi a Operação Julin, conduzido em 23 de setembro de 1992. O último teste nuclear conduzido pelo Reino Unido foi em 26 de novembro de 1991. O último teste nuclear francês ocorreu em 27 de janeiro de 1996. Embora a Rússia supostamente não tenha testado nenhuma arma nuclear desde 1991, uma série de “terremotos” atípicos em território russo levou alguns especialistas a acreditar que se tratavam de testes nucleares subterrâneos. Como relatado pela Arms Control Association em 1997:
“Um pequeno terremoto sob o Oceano Ártico, ao largo da costa de Novaya Zemlya, levou a relatos de que a Rússia realizou uma explosão nuclear clandestina em seu antigo campo de testes na ilha.”
Sabemos que especialistas russos trabalham no campo de testes nucleares da Coreia do Norte. É possível, portanto, que armas nucleares russas tenham sido testadas na Coreia do Norte, sem que ninguém suspeitasse. De fato, um funcionário da Agência Internacional de Energia Atômica me disse, em caráter privado, que, em sua opinião, a Coreia do Norte nunca “fabricou” uma arma nuclear própria; ao contrário, a Rússia teria dado armas nucleares à Coreia do Norte. Os testes realizados no país asiático, portanto, poderiam ser testes nucleares russos. Enquanto isso, os chineses estão expandindo seu campo de testes nucleares com novos túneis.
E se Putin estiver movendo armas nucleares para Belarus com o objetivo de realizar um “teste ao vivo”? Lançar uma arma nuclear sobre a Polônia e observar a reação do Ocidente. O Ocidente conseguiria realizar com sucesso uma detonação nuclear em resposta? Se a resposta for apenas convencional, repetir o processo até que o Ocidente demonstre possuir capacidade nuclear funcional. Se o Ocidente só puder responder, um por um, com armas convencionais, Rússia e China podem concluir que os arsenais nucleares ocidentais não estão mais operacionais.
Devemos presumir que Rússia e China estão tentando obter supremacia nuclear estratégica sobre o Ocidente. De fato, os chineses tentaram nos enganar, fazendo parecer que não têm essa intenção. O texto militar chinês Guerra Irrestrita está cheio de desinformação engenhosa, na qual se afirma que as armas nucleares são obsoletas e inutilizáveis. A sugestão implícita é que a China não tem interesse em construir um grande arsenal nuclear. Com o anúncio recente do STRATCOM de que a China agora possui mais lançadores de ICBMs do que os Estados Unidos, sabemos que o texto de Guerra Irrestrita era enganoso. Em resposta a uma carta do General Anthony J. Cotton, do STRATCOM, quatro membros do Congresso escreveram: “Não é exagero dizer que o programa de modernização nuclear chinês está avançando mais rápido do que a maioria acreditava ser possível. Não temos tempo a perder para ajustar nossa postura de forças nucleares, a fim de dissuadir tanto a Rússia quanto a China. Isso terá de significar maiores números e novas capacidades.”
A Administração Biden e os democratas no Congresso certamente bloquearão qualquer tentativa de construir ogivas nucleares novas e confiáveis. Os idiotas úteis da Rússia e da China na Federação dos Cientistas Americanos divulgaram um comunicado negando que a China represente uma ameaça. Supostamente, tudo se resume a empreiteiros da defesa querendo ganhar dinheiro. Dizem-nos, em termos de armamento nuclear, que os números não importam. Segundo a FAS:
“Mesmo que os falcões no Congresso tenham sucesso, os Estados Unidos não parecem estar em posição de competir em uma corrida armamentista nuclear contra Rússia e China. O programa de modernização já está sobrecarregado, com pouca margem para expansão, e a capacidade de produção de ogivas não conseguirá produzir grandes quantidades adicionais de armas nucleares num futuro previsível. Seria mais construtivo que os Estados Unidos se concentrassem em engajar Rússia e China na redução de riscos nucleares e no controle de armas, em vez de iniciar uma expansão de suas forças nucleares.”
Portanto, devemos simplesmente desistir da ideia de construir um dissuasor nuclear crível. Vamos apenas confiar nas promessas da Rússia e da China — como fizeram os ucranianos quando entregaram suas armas nucleares em 1994.
Se a Federação dos Cientistas Americanos acredita que as armas nucleares são inúteis, talvez devessem prestar mais atenção ao que os russos têm dito nos últimos meses. Em janeiro, o ex-presidente russo Dmitri Medvedev sugeriu que as armas nucleares poderiam ser usadas pela Rússia porque a sobrevivência da Rússia estaria em jogo na Guerra da Ucrânia. Ele disse: “A derrota de uma potência nuclear em uma guerra convencional pode desencadear uma guerra nuclear.” É quase como se a Rússia quisesse uma guerra nuclear, e uma desculpa pronta para apertar o botão vermelho estivesse à disposição. E sim, o que Medvedev oferece nada mais é do que uma desculpa — e uma desculpa fraca. Se as tropas russas forem forçadas a sair da Ucrânia, em que sentido a sobrevivência da Rússia estaria em risco? Aqui temos uma situação em que a Rússia não perdeu território, em que a soberania da Rússia sequer está sendo ameaçada, e nenhuma cidade russa foi danificada por bombardeios. No entanto, se Moscou for bloqueada de arrasar e conquistar a Ucrânia, então uma derrota é de alguma forma registrada, o que ameaça a sobrevivência da Rússia e justifica um ataque nuclear à OTAN. Na verdade, as tropas ucranianas não cruzaram a fronteira da Rússia, e o objetivo declarado do governo ucraniano é apenas a devolução do território ucraniano. Como o apoio do Ocidente a essa política defensiva da Ucrânia justifica ataques nucleares à OTAN? Nem a Ucrânia nem a OTAN advogam pela invasão da Rússia. Como, então, a sobrevivência da Rússia está de alguma forma “em risco”?
Quando combinado com o longo histórico da Rússia de trapacear em tratados de controle de armas, essa retórica é mais do que sinistra. A verdade é que a Rússia suspeita que o dissuasor nuclear do Ocidente tenha se deteriorado. Embora o exército russo esteja preso na Ucrânia, a opção nuclear pode oferecer a eles um caminho para a vitória final. De acordo com o desertor comunista tcheco Jan Sejna, o plano de longo alcance do bloco tinha um componente de armas nucleares que “girava em torno de como projetar acordos de controle de armas para que os Estados Unidos e outras nações da OTAN fossem, por fim, compelidos a eliminar suas próprias armas estratégicas, enquanto [Moscou e seus aliados] … poderiam reter forças estratégicas suficientes para inclinar o equilíbrio global de poder a seu favor.” Sejna acrescentou que: “Trapacear e enganar o inimigo é o dever de todas as organizações partidárias e governamentais e indivíduos.” A trapaça russa, na verdade, é sempre cuidadosamente planejada com antecedência. Sejna observou:
“As instruções [do Departamento Administrativo] explicavam que trapacear, enganar, desinformar e enganar o inimigo eram funções muito importantes tanto para as organizações partidárias quanto para as governamentais, pois ajudavam a proteger o socialismo, cegavam o inimigo quanto à natureza dos principais objetivos estratégicos e cobriam especificamente os métodos usados para alcançar os principais objetivos estratégicos … [que visavam] a vitória final do comunismo.”
O fato de o ditador comunista da Venezuela, Nicolás Maduro, se referir aos líderes da Rússia e da China como “irmãos mais velhos” sinaliza abertamente a existência contínua de um bloco comunista sob a liderança de Rússia e China. O que mais o discurso de Maduro poderia significar? Os comunistas nos enganaram. Eles trapacearam em todos os seus acordos. O controle do mundo exige supremacia nuclear estratégica. Isso explica a rápida expansão de armas nucleares e convencionais na China.
Olhando para os comunistas americanos, como Angela Davis e Gus Hall, é inconcebível que eles tenham abandonado suas crenças em 1991. Então, por que aceitaríamos a alegação de que os governantes comunistas da Rússia abandonaram suas crenças? Os comunistas em Angola, Namíbia, Coreia do Norte e Cuba não “abandonaram” seu sistema de crenças. Mas, de alguma forma, os comunistas na União Soviética eram mais iluminados. Essa história alguma vez foi crível? Ela só era crível para aqueles que queriam acreditar. Tal crença era reconfortante e lisonjeira. Podíamos reivindicar a vitória sobre a União Soviética. Poderíamos parar de nos preocupar com a guerra nuclear. Poderíamos ver a democracia florescer na Europa Oriental. Mas então, a esquerda radical estava ganhando terreno em Washington, D.C.
Pergunte a si mesmo, honestamente: quantos de nossos políticos democratas são marxistas? O comunismo é um sistema de crenças insano que matou dezenas de milhões de pessoas inocentes nos últimos cem anos. No entanto, o pensamento comunista fundamenta o currículo das escolas públicas americanas. O pensamento comunista fundamenta os dogmas woke que estão na moda em nossas universidades. O pensamento comunista fundamenta as políticas dos líderes que resistem em substituir ogivas nucleares antigas e instáveis por novas. O padrão tem sido, e continua sendo, o desarmamento unilateral e espontâneo por negligência. E isso tem sido possibilitado por uma infiltração massiva e subversão de nosso sistema político – em todos os níveis – por comunistas. Nada disso aconteceu por acaso. Os comunistas trabalharam duro e diligentemente por décadas. Mas ninguém deve reconhecer essa realidade. Todos estamos jogando um jogo chamado “vamos fingir”.
Golitsyn alertou que a estratégia de engano de Moscovo criaria condições para o isolamento político dos anticomunistas e conservadores. Ele disse que eles “seriam isolados e empurrados para o extremismo. Poderiam se tornar vítimas de um novo McCarthismo da esquerda.” Na fase crucial da estratégia de longo alcance do bloco comunista, a ascensão de antigos chefes de segurança russos aos cargos mais altos (como Andropov e Putin) seria necessária “para garantir a mudança importante na realização da estratégia.” Todo o aparato estatal seria transferido de uma política para a sua oposta rapidamente – de forma célere, e sem resistência burocrática. A parte inicial da estratégia, para Moscovo, começaria com uma ofensiva consistindo “em uma mudança calculada da antiga prática soviética desacreditada para um novo modelo ‘liberalizado’, com uma fachada social-democrata, para realizar a estratégia dos planejadores comunistas de estabelecer uma Europa Unida. No início, eles introduziram uma variação da ‘democratização’ tchecoslovaca de 1968. Em uma fase posterior, eles se deslocariam para uma variação da tomada comunista da Tchecoslováquia de 1948.”
Nem tudo saiu como planejado na estratégia de Moscovo. Mas agora vemos que o Kremlin ainda está determinado a dominar a Europa. Podemos ver que Moscovo está brandindo suas armas nucleares. Podemos ver que Pequim e Moscovo estão se unindo como aliados. O que é mais perigoso, claro, é que os analistas políticos ocidentais entenderam mal a política russa e chinesa. Eles aceitaram a divisão sino-soviética como real. Eles aceitaram o colapso do comunismo na Rússia como real. Como resultado, estamos caminhando cegamente para o fim do jogo comunista. E quase não há ninguém em posição de autoridade que entenda o tipo de aliança que a Rússia e a China construíram – na Ásia, na África e na América Latina. Neste momento, as únicas pessoas que estão combatendo abertamente a Rússia são os ucranianos.

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