Responsive image

Up next


Esquerda e Direita como Sistemas Cosmológicos (Jeffrey Nyquist – 23 de dezembro de 2019)

2 Views
Published on 19 Jun 2025 / In News & Politics

https://jrnyquist.blog/2019/12..../23/left-and-right-a

Esquerda e Direita como Sistemas Cosmológicos (Jeffrey Nyquist – 23 de dezembro de 2019)

O que é a direita e o que é a esquerda? Elas representam interesses econômicos? São meras designações políticas? Poderiam significar doutrinas metafísicas ou morais? E se a resposta for — todas as anteriores? E se esquerda e direita estivessem fundamentadas em duas ideias cosmológicas opostas? (Cosmologia sendo uma teoria ou crença sobre a origem do universo.)
Nossa terminologia direita/esquerda se originou durante a Revolução Francesa. A Assembleia Nacional, que inicialmente trabalhou para transformar a França de uma monarquia absoluta em uma monarquia constitucional, debatia sobre quanta autoridade o rei deveria ter. Aqueles que apoiavam o rei sentavam-se à direita do presidente da assembleia. Aqueles que se opunham ao rei, sentavam-se à esquerda. Também foi notado que aqueles que apoiavam o Cristianismo e a Igreja sentavam-se à direita. Consequentemente, a direita foi descrita como “o partido da ordem” e a esquerda foi descrita como “o partido do movimento.”
Recentemente, um acadêmico de esquerda afirmou que a distinção entre esquerda e direita foi inventada para servir à direita. Ele diz que a direita continua a se beneficiar de um sistema de rotulagem no qual “direita” é o oposto de “errado” (right/wrong, em inglês). Afinal, o caminho da mão esquerda frequentemente tem sido sinônimo de mal. De fato, por que alguém aceitaria um rótulo de “esquerdista”? A “esquerda” não é meramente uma direção. Ela significa algo nocivo, ameaçador ou sinistro. Uma das definições originais da palavra “sinister” é “do lado esquerdo.”
Dada a associação do lado esquerdo com o mal, pode parecer estranho que os radicais da Revolução Francesa, socialistas e comunistas, tenham aceitado a designação de “esquerdista.” No entanto, essa designação foi aceita porque fazia todo o sentido. Ao quererem derrubar a autoridade da Igreja, os esquerdistas aceitaram que eram inimigos de Deus (mesmo que não acreditassem literalmente na existência de Deus). Portanto, o rótulo de esquerdista possuía uma profundidade simbólica. Em oposição às ideias estabelecidas de bem e mal, a esquerda estava advogando uma cosmologia sem Deus.
A noção de que o universo simplesmente existe, sem uma inteligência divina ou uma ordem divina por trás dele, foi questionada há vinte e quatro séculos por Aristóteles em sua Metafísica. Foi Aristóteles quem argumentou que o universo físico era uma sequência de causa e efeito que não poderia ser rastreada através de uma sucessão infinita de eras. Portanto, o universo material teve um começo. Ele foi causado por algo fora de si mesmo — algo que Aristóteles chamou de “o motor imóvel.” A cosmologia cristã se beneficiou da Metafísica de Aristóteles, um ensinamento que foi integrado ao Cristianismo por São Tomás de Aquino. Revelações científicas posteriores, de que o universo começou com um Big Bang, acrescentaram peso ao argumento de Aristóteles.
A cosmologia cristã/aristotélica foi dominante por muitos séculos. A ideia de um universo criado inspirava reverente admiração nos filósofos e mestres escolásticos. A criação logicamente implicava a existência de um Criador e o conceito de uma ordem moral divina. Oposto a essa ordem moral estava a grande serpente, conhecida na mitologia egípcia e grega como uma criatura das trevas, invejosa da luz — no Judaísmo e no Cristianismo encontramos essa serpente no Jardim do Éden, como o Dragão do Apocalipse de São João, como o anjo rebelde no Paraíso Perdido de Milton.
Os pensamentos mais antigos e profundos da humanidade sobre o bem e o mal são encontrados nessas histórias e em seus símbolos (que ainda são válidos hoje). Escrevendo sobre a natureza e a origem do mal, Aquino explicou: “A atividade de Deus é de dois tipos: criação e governo.” Aquino então sugeriu que a bondade de Deus não é contradita pela criação do mal porque “o mal está sujeito ao seu governo.” Tendo poder sobre toda a criação, Deus permite que o mal exista como parte de um plano divino que conduz a um bem maior.
É aqui que a trama se adensa. Nossas lutas políticas atuais estão diretamente conectadas a antigas lendas, cosmologias e teologias. O palco político de hoje testemunha um tremendo drama espiritual. A esquerda se rebelou contra séculos de ensinamentos religiosos e filosóficos — imitando o deus-serpente maligno da destruição (conhecido pelos egípcios como Apep). Sob uma bandeira não disfarçada de “sinistrismo” (isto é, esquerdismo), a esquerda propõe uma rebelião metafísica. Se examinarmos atentamente as obras de Marx e Engels, sua retórica revolucionária não é meramente contra o capitalismo. Sua retórica nega a responsabilidade moral perante um poder superior. Ela descarta o problema do mal negando a existência de Deus. O Manifesto Comunista clamava pela erradicação de todos os valores morais.
Portanto, devidamente compreendido, esquerda e direita não estão, em última instância, fundamentadas em questões de privilégio de classe ou exploração econômica dos pobres. O tema da luta de classes, embora pertença à esquerda, é na verdade um subtema. A esquerda está focada na negação da Metafísica de Aristóteles e na rejeição de nossas histórias e símbolos mais antigos (com exceção da serpente no Jardim). Aqui está uma tentativa de negar nossa religião, nossa moralidade, nossos costumes, nossa poesia, nossas próprias almas. Como defensora dessa negação, a revolução de esquerda promove um novo tipo de religião, uma nova ideia de cosmos (materialismo) através do niilismo; isto é, a crença em um mundo sem ordem, propósito ou divindade dados por Deus. O método da esquerda é inverter todos os conceitos que fundamentam a civilização.
A guerra entre esquerda e direita, portanto, deriva de ideias metafísicas e cosmológicas diametralmente opostas. O conflito resultante nada mais é do que uma guerra civil religiosa. Sendo assim, não poderia haver um choque mais importante entre verdadeiros opostos. Aqui encontramos um perigo sério para a humanidade: a enantiodromia descrita por Carl Jung como — “a emergência do oposto inconsciente no decorrer do tempo. Este fenômeno característico praticamente sempre ocorre quando uma tendência extrema e unilateral domina a vida consciente; com o tempo, uma contraposição igualmente poderosa se forma, que primeiro inibe a atuação consciente e, subsequentemente, rompe o controle da consciência.”
De algum modo, nós perdemos o equilíbrio conosco mesmos, transfigurando-nos em nosso oposto sombrio. A enantiodromia é tipicamente associada a uma neurose aguda, prenunciando um processo de renascimento espiritual (como antecipado no Apocalipse de São João). As pessoas de nosso tempo estão cada vez mais neuróticas, como demonstrado pela epidemia de depressão clínica e abuso de drogas. Estamos tendendo rumo à loucura coletiva, claramente refletida em nossa política.

A prosperidade material de nossa civilização distraiu praticamente todos do florescimento dessa neurose coletiva anteriormente mencionada. Desviamos nossos olhos, mas a histeria política atual, que se retroalimenta, não pode ter um final feliz. As revoluções socialistas na Rússia (1917), na Alemanha (1933), na China (1949), entre outras, foram apenas os primeiros estrondos. Nossos políticos e formadores de opinião contemporâneos proferem tamanhas abominações que, seguramente, tudo está se invertendo em seu oposto, como Jung sugeriu. Podemos concordar que o próprio conceito de existência está sendo invertido.
O que realmente define um político de esquerda não é a social-democracia nem a revolução, mas a disposição de matar ou morrer pela ideia de um universo não criado, sem uma ordem moral intrínseca. O cientista social poderia dizer, de passagem, que toda nova religião se estabelece demonizando a antiga religião e perseguindo aqueles que nela se mantêm. Mas o observador atento vê que a nova religião (da esquerda) difere de todas as religiões anteriores em três pontos críticos: (1) sua cosmologia implica niilismo; (2) seus preceitos morais são fraudulentos; (3) sua política leva ao assassinato e à destruição; consequentemente, (4) nada pode ser construído sobre ela.
Essencialmente, o que temos é um trator feito para nivelar.
Aquilo que tem futuro está sempre conectado a alguma corrente profunda da história. As correntes superficiais vêm e vão, sem efeitos duradouros; mas as correntes profundas nos carregam adiante.

Show more
Responsive image

Log in to comment


0

Up next