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Cultura Estratégica e a Arte de Ver (Jeffrey Nyquist – 08/10/2022)

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Publicado em 27 Jul 2025 / Em Outro

https://jrnyquist.blog/2022/10..../29/strategic-cultur

Cultura Estratégica e a Arte de Ver (Jeffrey Nyquist – 08/10/2022)


Na realidade, a principal ênfase da KGB não está, de modo algum, na área da inteligência. Segundo minha opinião... apenas cerca de 15% do tempo, dinheiro e mão de obra são gastos com espionagem propriamente dita. Os outros 85% estão envolvidos em um processo lento que chamamos de... subversão ideológica ou medidas ativas... O que isso basicamente significa é mudar a percepção da realidade de cada americano a tal ponto que, apesar da abundância de informações, ninguém seja capaz de chegar a conclusões sensatas no interesse de se defender...
— Yuri Bezmenov
... a grande maioria dos americanos poderia ser considerada uma refutação em larga escala do princípio cartesiano “Cogito ergo sum”; eles “não pensam e são”. Melhor ainda, em muitos casos são indivíduos perigosos e, em diversas ocasiões, seu primitivismo vai muito além do primitivismo eslavo do homo sovieticus.
— Julius Evola
O antiamericanismo inclui mais do que o ódio à elite americana. Inclui o ódio ao povo americano como um todo. A razão para prestar atenção aos inimigos — às mentes superiores no campo inimigo — é conhecer a nós mesmos pelos olhos desse inimigo. Ter um inimigo, ou um amigo, é um dom espiritual subestimado. Sempre temos algo a aprender sobre nós mesmos por meio dos amigos e dos inimigos; dos que nos odeiam e dos que nos amam; pois o ódio sempre encontrará nossas falhas, assim como o amor encontrará nossas virtudes. No caso dos Estados Unidos, há uma falha particularmente perigosa clamando por correção. Essa falha é a superficialidade de nossa cultura intelectual — particularmente de nossa cultura estratégica.
O Revolver News publicou recentemente uma palestra proferida por um coronel da inteligência finlandesa sobre como os russos pensam. O primeiro comentário no vídeo, logo abaixo, era de um tal Dave B., que escreveu: “Talvez pudéssemos fazer artigos sobre por que a OTAN e o Ocidente pensam do jeito que pensam. Acho que, para surpresa de todos, a Rússia chamou o seu blefe.” Esse comentário, vindo de um direitista americano, é tão desconcertante quanto a palestra de Kari (mas por razões diferentes). Na verdade, a Rússia não “chamou o blefe” do Ocidente como Dave B. sugeriu, porque o Ocidente não estava blefando. Foi o contrário. Para quem se lembra, a Rússia advertiu sobre consequências graves caso a OTAN enviasse armas para a Ucrânia. A Rússia chegou até a insinuar guerra nuclear. No entanto, o Ocidente enviou armas mesmo assim (por causa de sua programação cultural). Contra todas as expectativas, apesar de si mesmo, apesar de estar infiltrado por seus inimigos, o Ocidente agora se opõe à Rússia na Ucrânia. Essa reação ocorreu por causa de um antigo preconceito antiesquerdista incorporado à estratégia de subversão russa, descrita em detalhes pelo desertor da KGB Yuri Bezmenov. O esquerdista idealista, dizia Bezmenov, é útil para desmoralizar sua sociedade. Mas, à medida que a tomada comunista progride para seu estágio final, sua utilidade se esgota — a tal ponto que o esquerdista é o primeiro a ser executado pelos marxistas-leninistas. A experiência há muito ensinou a Moscou que os esquerdistas não-comunistas são, em última instância, seus inimigos mais amargos em potencial. E assim, enquanto a Rússia tropeça na Ucrânia ao tentar remontar a URSS, vemos a esquerda política se mobilizando em favor da Ucrânia. Enquanto isso, a narrativa pró-Rússia vem crescendo à direita. Como explicar isso? Como Bezmenov explicaria?
Eis o que ele disse:
Meus instrutores da KGB enfatizavam especificamente o seguinte ponto: nunca perca tempo com esquerdistas. Esqueça essas prostitutas políticas. Mire mais alto. Essa era minha instrução. Tente entrar nos meios de comunicação de grande circulação, na mídia conservadora do establishment. Alcance cineastas podres de ricos, intelectuais, os chamados círculos acadêmicos. [Procure] pessoas cínicas e egocêntricas que possam olhar nos seus olhos com uma expressão angelical e contar uma mentira. Essas são as pessoas mais recrutáveis. Pessoas sem princípios morais; que são ou gananciosas demais, ou sofrem de um senso inflado de importância pessoal. Elas acham que são muito relevantes.
É possível que essas mesmas pessoas, que “se acham muito relevantes”, sejam os influenciadores de Dave B. e de sua turma? Quando pensamos em “mídia conservadora do establishment, de grande circulação”, quem vem à mente? Tucker Carlson, conversando com Tulsi Gabbard sobre a invasão da Ucrânia pela Rússia, se encaixa na descrição de Bezmenov? É claro que Dave B. provavelmente jamais admitiria que a invasão da Ucrânia foi uma invasão. Imitando o estilo russo de linguagem forçada, Dave provavelmente chamaria isso de “operação especial”, descartando a Ucrânia como instrumento da conspiração do New World Order. Em termos de ideologia de direita, Dave B. provavelmente acredita que o povo ucraniano merece ser absorvido pela Rússia. Mesmo que lamentável, sua escravização é certamente aceitável. Pergunte a Tucker Carlson. Não é da nossa conta, afinal. Somos apenas o único país no mundo capaz de conter a agressão militar da Rússia e da China (isto é, do bloco comunista). Mas a mensagem da direita é — “realmente não deveríamos interferir na restauração da URSS.” Portanto, diga adeus à Europa. Não há ocasião, aqui ou em qualquer outro lugar, para melhorar nossa própria segurança ao nos unirmos a outras nações. Como todo isolacionista sabe, ter aliados é um fardo que nada acrescenta à nossa segurança. Certo? E há também a questão da sensibilidade às “necessidades” da Rússia. Se a Rússia tem onze fusos horários, por que não deixá-los ter doze, ou vinte e três! Deixem que fiquem com o México, se quiserem — ou com o Canadá. Que diferença faz para nós?
É claro que isso nos diz respeito. A posição estratégica do Ocidente está se deteriorando rapidamente. A Arábia Saudita está se juntando à aliança dos BRICS. A América do Sul praticamente inteira caiu nas mãos do bloco comunista. A maior parte da África, com seu celeiro de minerais, também caiu. Portanto, Dave B e os anti-ucranianos parecem estar torcendo pela absorção da Europa por esse bloco — começando pela Ucrânia. Alguém se lembra da ideia de Gorbachev da “casa europeia comum”, que Putin também defende como uma união transcontinental de Lisboa a Vladivostok? Nesse cenário, a Europa sofreria o mesmo destino da América do Sul e da África; afinal, a Rússia é um país cripto-comunista, que oculta sua ideologia e intenções reais. A Rússia está claramente alinhada com outras potências comunistas do mundo — Coreia do Norte, China e Cuba. Está apoiando países e movimentos comunistas na África e na América Latina. Pegue qualquer jornal e leia. Tropas russas estão autorizadas a entrar na Nicarágua comunista. Tropas russas já estão na Venezuela comunista. Mas, e daí? O que isso tem a ver conosco? Que deixem cercar os Estados Unidos. Que nos isolem. Que subornem nossos líderes, se infiltrem no nosso governo. Nós não merecemos viver.
Sério? Por que um americano patriota substituiria deliberadamente o inglês claro pela linguagem enganosa russa, preferindo o termo “operação especial” à palavra “invasão”? Com todo o respeito, é como disse Evola sobre os americanos: “eles não pensam e [ainda assim] existem.” Mas, até quando?
No site Revolver, em resposta ao comentário de Dave B, encontramos o seguinte acréscimo: “Os lacaios globalistas merecem nosso mais profundo desprezo.” E depois: “Desprezo absoluto, acompanhado de AÇÃO contra eles.” Um comentário mais sensato veio de Jason Ledd, que escreveu: “Ambos os lados, esquerda e direita, estão sendo manipulados pelo mesmo grupo. Klaus Schwab já se gabou de que Putin trabalha para os globalistas e foi treinado em sua escola de líderes globais. Como todos os outros líderes, Putin é apenas mais um fantoche que não decide nada, mas é instruído sobre o que fazer — como Biden, Trump, Trudeau (também conhecido como Castro), Merkel, Boris [Johnson], a ‘Cara de Cavalo’ da Nova Zelândia e o resto. O mundo inteiro é um palco com atores.”
Jason Ledd está mais próximo da verdade, mas ainda assim fora do alvo. Você não derrota um inimigo com formulações imprecisas desse tipo. Para vencer estrategicamente, é preciso discernir as verdadeiras relações entre pessoas e estruturas. Ao inverter a ordem de importância dos atores, Jason levou ao pé da letra as declarações autoengrandecedoras de Klaus Schwab. Jamais, jamais, jamais leve a sério as declarações de um tolo. E Klaus Schwab é um tolo. Um chefe de Estado russo jamais receberia ordens de um cidadão suíço. Por que faria isso? Putin foi treinado pela KGB para manipular estrangeiros, não para ser manipulado por eles. É ridículo demais. De todas as pessoas a quem Putin poderia se curvar, por que se curvar a um charlatão como Klaus Schwab? A ideia é risível.
Em vez de ser o chefe de Putin, Schwab é quase certamente um ativo da inteligência de Moscou. Durante uma entrevista meses atrás, os espectadores puderam ver um busto de Vladimir Lenin atrás dele, na estante. A menos que assumamos que Schwab é um idiota completo que faz as coisas sem nenhum motivo, deveríamos considerar esse gesto como um sinal claro de lealdade. Schwab está claramente no campo socialista. Repare em seus elogios a Merkel, Trudeau e Putin. Somos incapazes de ver o denominador comum que une todos esses personagens? Todos os três promoveram a causa do socialismo em seus respectivos países. A ex-comunista da Alemanha Oriental, Merkel, manteve a Alemanha dependente da energia fornecida pelo Kremlin. Ao mesmo tempo, o suposto filho de Castro, como primeiro-ministro canadense, está conduzindo o Canadá cada vez mais para o modelo socialista cubano. E coordenando tudo isso, Putin está tentando restaurar a URSS ao conquistar a Ucrânia e se aliar à China comunista. Ou você vê essas conexões, ou está cego.
O comunismo não desapareceu em 1991. Ele apenas mudou de forma, de aparência externa, de tática e de direção estratégica. Transformado, o comunismo também se tornou uma palavra proibida (a não ser em obituários). E, no entanto, ouvimos os códigos do comunismo por toda parte — nas universidades, no governo, na indústria do entretenimento. Ouvimos esses códigos tanto à esquerda quanto à direita. Ouvimos o ressentimento contra os ricos, a desconfiança em relação ao mercado, a oposição à guerra de independência da Ucrânia contra Moscou. Figuras como Douglas Macgregor, Tulsi Gabbard e Tucker Carlson acusam os Estados Unidos de serem uma potência imperialista. Alegam que a América está se arruinando financeiramente ao apoiar a Ucrânia. Essas são as mentiras da vez. Até agora, neste ano, o governo federal planeja gastar 7,76 trilhões de dólares. Desse total, a Ucrânia teria recebido cerca de 68 bilhões em ajuda — menos de 1% de todos os gastos federais dos EUA. Essa quantia minúscula, dizem eles, está nos levando à falência. Mais uma vez, sou forçado a concordar com Evola: “eles não pensam e [ainda assim] existem.” Mas, até quando?
A incapacidade americana de pensar, nos níveis mais fundamentais, nos limita e define. Parece que já não conseguimos registrar nada que contradiga os slogans do momento. E assim, quando Dave B assistiu ao discurso de mobilização de Putin há um mês, perdeu a linha mais memorável do ditador russo: “Eu não estou blefando.” Do começo ao fim, apesar do que afirma Dave B, a OTAN apenas apoiou a Ucrânia enquanto a Rússia bufava, ameaçava e blefava. No fim de semana, o embaixador russo nos EUA, Anatoly Antonov, disse em entrevista à TV Rossiya-24 que os Estados Unidos haviam cruzado todas as linhas vermelhas da Rússia. Então por que Washington ainda não virou uma cratera fumegante? Afinal, a Rússia prometeu. Muitos leitores do Revolver News estão desapontados.
Estou sendo duro demais com tipos como Dave B. e companhia? Afinal, eles não representam o ápice do pensamento americano. São apenas exemplares — talvez até derivados — de um sistema educacional quebrado. Na verdade, os que estão mais acima na hierarquia intelectual já cometeram erros muito mais graves. Voltando à palestra do oficial de inteligência finlandês, coronel M.J. Kari, encontramos o erro dos erros — bem no centro da questão. Kari queria entender por que os russos pensam de maneira tão diferente. Ele disse: “quando comecei a escrever meu doutorado aqui na universidade, descobri a teoria da cultura estratégica, [e] essa teoria abriu uma maneira de racionalizar e compreender por que os russos agem de modo diferente de nós”. Segundo Kari, a teoria da cultura estratégica é uma exportação americana. Ela surgiu após a Guerra do Vietnã. Analistas dos Estados Unidos queriam saber como uma superpotência como a América pôde perder uma guerra contra um pequeno país comunista como o Vietnã do Norte. O ponto central da teoria da cultura estratégica, afirmou Kari, é que “nem tudo é... um jogo de soma zero”.
“Nem tudo é...” não é exatamente a melhor maneira de introduzir um assunto! Esmiuçar essa obscuridade é abrir uma caixa de Pandora — cheia de vermes contorcendo-se, travessos e carregados de malícia! Aqui, mais uma vez, está o escândalo daqueles que “não pensam e existem”. Devemos admitir, é claro, que nem tudo é um jogo de soma zero porque nem tudo é a mesma coisa. Mas, truques verbais à parte, jogos de soma zero existem. E a cultura estratégica, ao produzir vitória ou derrota, está justamente baseada nessa lógica. Para deixar absolutamente claro: se um lado vence, o outro perde. Isso vale, por exemplo, para a guerra e para a política, para conflitos militares e para eleições.
Ainda assim, a mentalidade capitalista liberal prefere soluções "win-win", que evitam a lógica do jogo de soma zero. É esse tipo de pensamento que aprisiona os Estados Unidos. Todas as soluções tendem a ser soluções econômicas. O homem é então reduzido a um homo economicus. Considerando a economia como primária em relação a todas as demais atividades humanas, a mentalidade liberal se submete ao livre mercado. Tudo, portanto, passa a ser objeto de negociação e troca. Todas as diferenças podem ser atenuadas por meio de transações econômicas. Que as forças de mercado governem, e a guerra deverá desaparecer. A guerra é, então, vista como o oposto do mercado. Por inferência progressiva, a guerra passa a ser julgada como imoral, irracional. Ela é a negação dos valores materiais (que passam a ser considerados valores supremos). Aqui está, em resumo, a utopia liberal: todos serão amigos sob o capitalismo. Afinal, o comércio aproxima as nações. Entra em cena Francis Fukuyama...
Por mais que haja alguma verdade nessas visões, toda a história das guerras foi deixada de lado. A ideologia liberal vê a guerra como uma espécie de escândalo. E aqui está o problema: os seres humanos não existem como abstrações liberais. Todo homem pertence a uma família, fala o idioma dessa família, carrega os pensamentos desse idioma, traz consigo a história e as fábulas dessa língua. Mesmo que não reconheça sua natureza tribal, ele continua sendo tribal. Mesmo o liberal ou o socialista que se opõe ao “nacionalismo” carrega consigo uma ironia fundamental: as abstrações do liberalismo e do socialismo vêm sempre embrulhadas em identidades tribais. Assim, Mao foi o fundador do “comunismo com características chinesas”. Stalin foi o comunista que lutou a “Grande Guerra Patriótica”. Mesmo os mais fanáticos internacionalistas já se curvaram ao nacionalismo, à identidade tribal — tanto que a política de esquerda hoje se tornou política identitária.
Partindo do pressuposto da Pax Americana, liberais ocidentais e empresários se esqueceram de onde vem o seu sustento. Assim, abriram as fronteiras de seus países à imigração em massa de tribos estrangeiras. Essas tribos forneceram mão de obra barata para os negócios. Ao mesmo tempo, permitindo que sua própria força de trabalho sofresse desgaste por meio da legalização do aborto, desorganizaram estupidamente seus próprios Estados nacionais — desmantelando o próprio liberalismo. Some-se a isso outro pecado: liberais e empresários ocidentais gastaram trilhões de dólares desenvolvendo as economias inimigas na China, Rússia, Vietnã etc. Pensando apenas em termos econômicos, disseram a si mesmos que “a maré alta levanta todos os barcos”. Imaginando que o conflito nasce da disparidade econômica, buscaram levar igualdade a todos os cantos. O que acabaram criando, porém, foi uma guerra de todos contra todos. Apaixonaram-se pela própria queda. E agora estão prestes a despencar — e com força.
Reconheço, evidentemente, que as considerações econômicas têm seu lugar. Seria irrazoável dizer o contrário. Mas, em última instância, a economia não deveria ocupar o primeiro lugar. Nossos valores mais elevados são transcendentes, não materiais. O dinheiro não tem valor senão aquele que lhe atribuirmos. É uma ferramenta, um meio para um fim. A ideia de que todos vivem em função do dinheiro é um daqueles absurdos comparáveis a dizer que vivemos para comer. Na verdade, comemos para viver. E quando se trata daquilo pelo qual morremos, ninguém jamais hasteou uma bandeira feita de notas de dólar. Iwo Jima e a praia da Normandia não foram invadidas por mercenários. Matar por dinheiro é moralmente repulsivo. Deve haver sempre algo mais elevado em jogo. Com mais frequência, as guerras são travadas por princípios de certo e errado. Determinado território pertence, com justiça, a esta tribo ou àquela? Certo povo detém soberania ou não? Acordos foram violados? Uma das partes quebrou sua palavra? Há uma questão de honra em jogo?
– E o que é honra?
**"Honra, s.f., 1. Estima devida ou prestada ao valor; alta consideração; manifestação de respeito ou reverência; daí, fama; crédito; bom nome; reputação. Um profeta não é sem honra, exceto em sua própria pátria. Mateus, 13:57. 2. Aquilo a que se presta estima; posição distinta. Eu te dei... tanto riquezas quanto honra. 1 Reis 3:12. 3. Um sinal de estima prestado ao mérito; como: a. Um título de respeito, como um título de dignidade conferido. b. (Obs.) Uma reverência; uma mesura. c. Um sinal cerimonial de consideração; como as honras civis. “Honras fúnebres.” (Dryden). d. pl. Cortesias sociais prestadas por um anfitrião; como em prestar as honras da mesa. 4. a. Título aplicado a certos cargos civis honrosos; como: Sua Honra, o Prefeito...
5. a. Aquilo que legitimamente atrai estima, respeito ou consideração, como dignidade, coragem, fidelidade; especialmente excelência de caráter; alto valor moral; nobreza; especificamente, nos homens: integridade; retidão; confiabilidade; nas mulheres: pureza; castidade. A partir do conceito de virtude, a honra se distingue principalmente por denotar as virtudes associadas ao status, posição ou profissão; assim, “honra militar” denota coragem e fidelidade; “honra nos negócios” denota honestidade e confiabilidade. Honra, portanto, carrega consigo a noção de obrigação social e, em sociedades com organização de castas, como as sociedades feudais, frequentemente implica, em primeiro lugar, a estrita observância das obrigações de casta e, em especial, a obrigação de não envergonhar aqueles da mesma casta. Sem dúvida, sua associação com o militarismo feudal desenvolveu a concepção de que uma falha na honra só pode ser expiada com a morte ou com o duelo...”
É aqui que a ênfase americana na economia falha miseravelmente. Existe algo que está muito acima do dinheiro. É a raiz de algo maior do que o dinheiro, maior do que reinos ou repúblicas. É a raiz de toda soberania. E sim, esse algo é a honra. Sempre e para sempre, a honra. Quão mesquinho é o dinheiro em comparação com isso. Qualquer pessoa com verdadeira sensibilidade não precisa ser lembrada de quão repulsivo é rastejar de joelhos em direção ao dinheiro, cobrindo sua covardia da cabeça aos pés com o falso slogan da “paz”. Mesmo um vilão como Hitler não foi tão baixo a ponto de começar suas guerras de agressão em nome do dinheiro, embora seus inimigos tenham deixado de preparar suas defesas por preocupação com o dinheiro (veja-se, especialmente, os governos britânicos sob Stanley Baldwin e Neville Chamberlain).
Quando os britânicos conquistaram Quebec e a Índia durante a Guerra dos Sete Anos, o motivo principal não foi o lucro. Foi a honra nacional. O imperialismo tem, é claro, seu lado econômico; mas a propaganda anticapitalista exagerou demais esse aspecto. O imperialismo, argumentou Joseph Schumpeter, é essencialmente destituído de lucros. No caso da Europa do século XIX, o imperialismo foi um campo de recreação para as aristocracias guerreiras cada vez mais ociosas do continente. Quando a lógica econômica, como nos Estados Unidos, passou a dominar a Europa, a guerra tornou-se uma exportação levada à África e à Ásia pelos segundos e terceiros filhos ou primos que — pela ausência de primogenitura — carregaram suas tradições para o exterior. Winston Churchill foi um desses. Deve-se, então, argumentar que o imperialismo não foi, como afirmou Lênin, o último suspiro do capitalismo. Pelo contrário, foi o último suspiro do feudalismo europeu.
Há um conjunto importante de distinções que nossos líderes e massas hoje não conseguem mais fazer. Guerreiros não são comerciantes. Existe um processo mental próprio do guerreiro e outro do comerciante. Quando o último se torna dominante, o primeiro perde prestígio social. Jacob Burckhardt observou esse desenvolvimento na antiga Fenícia. No fim das contas, os fenícios não se importavam com quem era militarmente dominante, desde que os negócios pudessem seguir normalmente. Essa atitude estava longe de ser “nobre”, pois o foco era o dinheiro, não a honra. As cidades-estado que nutriam tais convicções inevitavelmente perdiam sua independência, senão sua própria existência. Cidades assim, animadas pelo espírito mercantil, tornavam-se presas de inimigos que valorizavam mais a honra do que o lucro. E se, como por vezes acontecia, esses inimigos perdiam a virtude da justiça, a extinção da sociedade era inevitável. No caso de Cartago — uma colônia fenícia — o fim veio cerca de meio século após a partida de Aníbal para a corte de Antíoco III. Frente às tradições mais nobres de Roma, a destruição total de Cartago foi defendida por Marco Pórcio Catão, o Velho, que encerrava seus discursos dizendo: “Além disso, considero que Cartago deve ser destruída.”
Como veterano da Segunda Guerra Púnica, Catão havia visitado Cartago. Encontrou aquela famosa cidade amante do dinheiro, que, após abrir mão de seu exército e marinha, prosperava como nunca antes. Cartago estava tão bem-sucedida que havia quitado facilmente sua indenização de guerra. A derrota parecia ter sido um golpe de sorte. Agora, Cartago era uma aliada protegida de Roma em boa situação. Isso soava incompreensível ao agricultor romano, que desfrutava de poucos luxos enquanto seu inimigo derrotado gozava de tantos. Veja só o que esses cartagineses empreendedores fizeram com sua derrota na Segunda Guerra Púnica! Catão ficou chocado e se perguntou se toda aquela riqueza poderia ser usada contra Roma. Era uma pergunta carregada de inveja. A resposta, evidentemente, era que Cartago não tinha qualquer motivação para a guerra. A riqueza e o conforto haviam se tornado o ideal da cidade — do qual os cartagineses não despertariam a tempo. Em vez disso, Cartago seguiria sua inclinação nativa (isto é, fenícia) até o fim, negligenciando suas próprias defesas até que o ciúme romano acampasse diante de seus muros — com legiões, equipamento de cerco e uma frota de bloqueio. Políbio conta que seu amigo, Cipião Emiliano, chorou abertamente por Cartago quando recebeu a ordem de destruir aquela magnífica cidade. O último dos verdadeiramente nobres romanos, a última esperança de moderação e reforma sob a República, não estava livre para oferecer a paz generosa de seu homônimo.
Esse foi o destino de Cartago, uma cidade que valorizava o dinheiro acima da honra. E esse também foi o destino de Roma, uma vez que ela provou do saque em excesso e afundou vergonhosamente na sujeição sob uma série de Césares cruéis. Vale então perguntar: será que essa mesma doença não chegou à América? Pois a América, em muitos aspectos, passou a se parecer com Cartago. Essa semelhança foi exaustivamente comentada pelo propagandista russo Alexander Dugin.
E assim, voltando ao nosso especialista em inteligência finlandês, o coronel Kari, vemos a desonra intelectual que, como poetizou W.H. Auden, “encara-nos de cada rosto humano”. Em sua palestra, o coronel Kari pisou na primeira mina intelectual que poderia ter pisado. Absorveu, sem reflexão, o economicismo americano como ponto de partida para julgar os russos. Ao dar primazia à economia, toda a sua palestra desabou no abismo do pragmatismo americano apodrecido.
Os equívocos estratégicos associados ao economicismo americano ainda não levaram os Estados Unidos a uma “paz cartaginesa”. Mas é para lá que os americanos estão se dirigindo. Cartago levou mais de meio século para chegar a esse ponto. Podemos demorar um pouco mais. Nosso momento cartaginês não surgiu de uma derrota em guerra. Surgiu de uma suposta vitória na Guerra Fria. Isso nos trouxe o infame “dividendo da paz”. Engordado pela prosperidade, um país como os Estados Unidos talvez consiga se arrastar por mais cem anos antes de sucumbir. (Por outro lado, nosso economicismo flácido pode muito bem nos levar a uma guerra nuclear amanhã). Em termos dos perigos que agora se avolumam contra nós, a maioria dos americanos — instruídos ou não — abraçou o erro estratégico, a incompreensão estratégica, o absurdo estratégico. Tudo isso é diariamente exibido diante de nós por formuladores de políticas públicas e comentaristas respeitados de ambos os espectros políticos. Cada metade da cultura estratégica errônea da América forma um todo perfeito. No que diz respeito aos nossos intelectuais mais brilhantes, quanto mais inteligente, pior. Um exemplo deve bastar: o economista libertário e ex-conselheiro de Putin, Andrei Illarionov, previu falsamente que não haveria invasão russa da Ucrânia em fevereiro passado. Garantiu a todos que Putin não invadiria, pois não era insano nem estúpido. Afinal, apenas um líder insano ou estúpido iniciaria uma grande guerra.
A análise de Illarionov estava centrada em motivações econômicas, omitindo toda consideração sobre honra. Consequentemente, sua previsão estava errada. Em uma entrevista à rádio Secure Freedom Radio com Frank Gaffney, ouvimos Illarionov repetir sua previsão: “Continuo dizendo, não haverá grande guerra da parte da Rússia contra a Ucrânia.” Em um artigo publicado em 15 de fevereiro deste ano, Illarionov e Michael Waller interpretaram a ameaça de invasão de Putin como uma manobra econômica, observando: “Pelo preço do combustível da mobilização, deixando de lado os custos fixos das Forças Armadas russas, Putin conseguiu pressionar Biden [ao ponto de assustar a todos] e derrubar a economia já combalida da Ucrânia em poucas semanas.” Illarionov e Waller também asseguraram aos leitores que não haveria Terceira Guerra Mundial. Como sabiam disso? Porque a inteligência dos EUA está sempre errada, Putin não escondeu seus movimentos de tropas, concentrar tropas na fronteira não significa que elas estão prestes a invadir, os mapas de posicionamento das tropas russas são propaganda, não houve alarme internacional verdadeiro, etc. Poder-se-ia responder que até um relógio quebrado acerta duas vezes por dia, grandes movimentações de tropas não podem ser escondidas, concentrar forças na fronteira é exatamente o que significa “prestes a invadir” e que os mapas de posicionamento — se lidos corretamente — mostram precisamente que tipo de manobra está por vir. Mas, claro, Illarionov é economista, não estrategista militar.
Vamos dar o descrédito a quem o descrédito é devido. De sua parte, o Sr. Putin não é economista. Seu interesse na Ucrânia está longe de ser financeiro. Vale notar que Illarionov é pesquisador sênior no Cato Institute, um think tank libertário. Eis aqui uma justaposição quase irônica com o nome “Cato”, que encobre a renúncia inconsciente do Instituto à Antiguidade Romana. É claro que o Cato Institute não foi batizado em homenagem a Catão, o Velho, mas sim a uma série de ensaios britânicos assinados com o pseudônimo “Cato”, escritos no início do século XVIII pelos autores whigs radicais John Trenchard e Thomas Gordon. Esses escritores foram defensores da liberdade contra a corrupção política e a tirania. No entanto, não eram destituídos de senso de honra. A carta número 1 de “Cato”, por exemplo, intitulava-se “Razões para provar que não corremos perigo de perder Gibraltar”. O autor, Thomas Gordon, repreende aqueles “que circulam por cafés espalhando… razões estúpidas e vis para entregar” Gibraltar. Ele escreveu: “Desafio aqueles que, por fins vis ou para fechar negócios vis, desejariam entregá-la...”. O saque ideológico desses escritores pelo Cato Institute é duplamente irônico, já que o Instituto foi fundado por Ed Crane, Murray Rothbard e Charles Koch — precisamente o tipo de homens que, no início do século XIX, estariam assombrando cafés, oferecendo “negócios vis” para entregar Gibraltar.
Uma pergunta precisa ser feita aos libertários, para que se possa julgar corretamente sua ideologia:
“E de onde vem esse maravilhoso livre mercado, Sr. Laissez-Faire? De qual nuvem onírica ele cai?”
O Sr. Laissez-Faire encara a câmera com olhar vazio… Ele não consegue compreender que o livre mercado não é de fato livre. Ele não entende que há algo acima e além da oferta e da demanda. Ele não sabe que instituições liberais precisam de apoios iliberais. Não é capaz de perceber que o sangue está acima do dinheiro; que os valores do consumidor não são valores supremos, porque não se sustentam sozinhos. Para que os mercados existam, é necessário olhar mais alto — para o guerreiro que protege os mercados, e que derrama seu sangue na luta entre impérios. Ao ouvir tudo isso, o Sr. Laissez-Faire sorri com desdém, revira os olhos e diz:
“Meu sangue é valioso demais para ser derramado. É por isso que defendo o exército voluntário.”
E acrescenta: “Meu dinheiro, o sangue de outro.”
Tal ideia está o mais longe possível do pensamento dos Fundadores da América. Considere-se o destino dos que assinaram a Declaração de Independência. Teriam eles imaginado que dali viriam grandes riquezas? Dos 56 homens que assinaram a Declaração, cinco foram capturados pelos britânicos e torturados até a morte. Doze tiveram suas casas saqueadas e incendiadas. Nove morreram em consequência de ferimentos ou das privações da guerra. Devemos, portanto, lembrar que os Estados Unidos não foram originalmente essa coisa pragmatista e apodrecida em que se tornaram — onde todos só querem receber.
Depois de terem desfrutado de paz e prosperidade por muitas décadas, as considerações de honra aparentemente desapareceram do caráter nacional americano. Não completamente, é claro — mas a um grau alarmante. Provavelmente é eufemismo dizer que os americanos ficaram irritados com a interrupção de suas vidas domésticas no final de 1941, quando Pearl Harbor foi bombardeado. Após a rendição do Japão, em 1945, Richard Weaver escreveu:
“A guerra de objetivos ilimitados que as democracias travaram ao final pode, de fato, ser explicada pela fúria que sentiram ao ver seu conforto interrompido e a natureza contingente de seu mundo exposta.”
Weaver, naturalmente, era um defensor da cavalaria contra o economicismo. Desconfiava da prosperidade americana e achava que era “um erro crasso” supor que a “rendição incondicional” fosse um meio de “acabar com todas as guerras”. Suspeitava, com razão, que esse tipo de pensamento indicava uma incapacidade para guerras futuras.
A economia tem seu lugar, como já disse. Posso citar Ludwig von Mises como qualquer outro. Mas a economia nunca deve ser a lente principal pela qual enxergamos a estratégia. E é aí que nossa cultura estratégica se perdeu. Por isso, nossos generais passaram a pensar e falar como homens de negócios. São esses os que se recusam a ver a estratégia como um jogo de soma zero. Afinal, o negócio da América é o negócio — e os homens de negócios nos ensinaram que todos podem vencer. Interações sociais não precisam ser jogos de soma zero. Mas o estrategista à moda antiga, pensando nos escritos de Carl von Clausewitz, recorda que a guerra “é um duelo em escala tremenda”. E duelos são travados por honra, não por dinheiro. Observando o panorama da política e da guerra, o soldado sabe que a destruição também é uma força; que matar e arrasar pode remover jogadores do jogo — o que segue a lógica inevitável de uma equação de soma zero. Aqueles que são estrategicamente eliminados da história são os perdedores. Aqueles que assumem o controle do destino humano são os vencedores. Aqueles que vindicam sua honra, que demonstram sua virtude, que atingem o poder soberano, governam sobre os demais.
Há mais um ponto a ser feito. A falsa chave americana do coronel Kari para a “teoria da cultura estratégica”, que estivemos examinando, contradiz a única definição clara do político que já tivemos; a saber: “A distinção especificamente política à qual as ações e motivações políticas [isto é, estratégicas] podem ser reduzidas é aquela entre amigo e inimigo.” Como explicou Carl Schmitt: “Cada participante está em posição de julgar se o adversário pretende negar o modo de vida de seu oponente e, portanto, deve ser repelido ou combatido a fim de preservar a própria forma de existência.”
A esse respeito: imagine nossos teóricos estratégicos americanos, tentando compreender sua derrota na Guerra do Vietnã como uma falha em perceber as possibilidades ganha-ganha da paz. Eis que entra Henry Kissinger. Eis que entra Richard Nixon e todos os presidentes americanos que se sentaram à mesa para fazer negócios com os assassinos em massa do Partido Comunista Chinês. Avancemos. Estamos em 2022. A China agora nos confronta militarmente. A China fala de guerra. Teria nossa teoria ganha-ganha de “cultura estratégica” desempenhado um papel na transformação da China em uma superpotência militar?
Por que somos tão covardes diante da verdade a ponto de precisarmos mentir constantemente para nós mesmos sobre tudo isso? Fazer negócios com nossos inimigos não foi um caminho para a paz. Foi uma evasão. E a razão dessa evasão não é difícil de identificar. Naturalmente, não queremos aceitar a inevitabilidade da guerra. Preferimos caluniar o espírito guerreiro e transformar tudo em uma proposta comercial. E uma de nossas calúnias é que a guerra é estúpida. Outra é que a guerra é insana. O que deveríamos dizer, então? – Que furacões são estúpidos? Que terremotos são doentes mentais? Deus nos salve do nosso próprio raciocínio demente! A guerra não é insana. Nem mesmo a guerra nuclear é insana. Por quê? Porque alguém pode saber como vencer tal guerra destruindo todas as armas do outro lado. Nesse caso, o vencedor dirá ao perdedor: “Sua sociedade deve se render – ou começaremos a bombardear cidades amanhã.” Dizer que não haverá sobreviventes em uma guerra dessas é não compreender como futuras guerras nucleares podem ser estrategicamente planejadas de maneira racional. Como escreveu o teórico militar soviético Makhmut Al. Gareev: “A afirmação de que a guerra nuclear não será uma continuação da política é completamente falaciosa.” Outro teórico soviético, A.S. Milovidov, escreveu: “Há erro profundo e dano nas alegações desorientadas dos ideólogos burgueses de que não haverá vencedor em uma guerra termonuclear.” Segundo Milovidov, a oposição à guerra termonuclear é um ideal subjetivo característico dos movimentos pacifistas do mundo burguês. “Expressa mero protesto contra a guerra nuclear.”
Os Estados Unidos e o Ocidente têm inimigos armados com armas nucleares. Não podemos simplesmente fechar os olhos e desejar que desapareçam. “O político é o antagonismo mais extremo”, escreveu Carl Schmitt, “e todo antagonismo concreto se torna tanto mais político quanto mais se aproxima do ponto extremo, o da distinção amigo-inimigo.”
Pense seriamente agora sobre as mensagens leninistas atenuadas dos líderes políticos da Rússia, sua preferência pela China comunista, por Cuba comunista, pela Nicarágua comunista, pela Coreia do Norte comunista, etc. A explicação para o renascimento contínuo do poder comunista não é cultural. Vai mais fundo do que isso. Isso ocorre dentro do vácuo espiritual e intelectual do nosso economicismo materialista (isto é, nosso pragmatismo apodrecido).
Você pode aceitar as desculpas que quiser para a invasão russa da Ucrânia. A Rússia não é uma continuação do Império Romano, como o coronel Kari sugeriu de maneira impensada em sua palestra. A Rússia não é responsável por proteger os outros povos eslavos (que prefeririam ver a Rússia cuidando da própria vida). E a Rússia não está geneticamente ou historicamente programada para perpetuar o Império Mongol. Pode-se empilhar mito cultural sobre mito, mas Putin não é um czar impondo seu direito divino. As estátuas que foram erguidas nas cidades ucranianas tomadas pelas tropas russas eram estátuas de Lenin. E há um sistema na Rússia, derivado do antigo sistema soviético, tentando reviver a velha URSS. Felizmente, graças ao povo ucraniano, essa tentativa de renascimento está fracassando.
Deixando para trás o coronel Kari e suas teorias americanas sobre a motivação russa, lembremo-nos de uma coisa: um inimigo é um inimigo, não importa o quanto você queira torná-lo simpático. Você pode exibi-lo como parceiro, como alguém com quem se pode “fazer negócios”, mas no fim ele mostrará suas cores. Ele atacará sua posição estratégica. A escolha será: defender-se ou render-se. Ceder um país após o outro ou deter o agressor antes que ele se torne forte demais para ser detido.
É realmente cansativo recitar todas as bobagens que hoje passam por discernimento estratégico. A maioria dos americanos, como explicou Yuri Bezmenov, é incapaz de chegar a “conclusões sensatas” sobre a defesa nacional. Sempre aceitamos alguma mentira ou outra, que nos desvia da verdade. A ofensa de Evola contra a “grande maioria” dos americanos foi, talvez, um pouco injusta. Que “grande maioria” pode ser dita como realmente pensante em qualquer país? Claro, há esse estereótipo sobre os americanos. E quem sustenta tais estereótipos com mais convicção do que os russos?
O falecido Vladimir Bukovsky, antes de sua morte, me disse que não conseguia viver nos Estados Unidos. As pessoas lá, reclamava ele, eram estúpidas demais. Raramente pensam por conta própria ou cultivam uma boa conversa, acrescentou. Era melhor viver em um país desconfortável como o Reino Unido, onde as pessoas são mais inteligentes. Outro russo, que também deixou a América rumo à Europa, uma vez me disse que “a América é simplesmente uma pradaria”; isto é, um espaço geográfico vazio, habitado por primitivos e alguns poucos bisões sobreviventes.
Estou um pouco preocupado com a possibilidade de esses russos estarem certos. Para agravar a ofensa, Evola escreveu sobre os americanos: “mesmo nas questões menores, seja o proibicionismo, o feminismo, o pacifismo ou a propaganda ambientalista, encontramos sempre o mesmo espírito, a mesma vontade niveladora e padronizadora, e a petulante intromissão do coletivo e da dimensão social na esfera individual”. Esse velho inimigo da América enfiou sua lâmina ainda mais fundo: “Nada está mais longe da verdade do que a afirmação de que a alma americana é ‘mente aberta’ e imparcial; ao contrário, ela está repleta de incontáveis tabus dos quais as pessoas às vezes nem têm consciência.”
E qual maneira melhor de aprender sobre si mesmo do que pelas palavras de um inimigo? Mas, em defesa dos meus compatriotas, eu poderia perguntar: quais nações são realmente mente aberta? Os russos? Os árabes? Os franceses?! Por que um povo comum não haveria de partilhar um modo comum de pensar? O único problema agora, como vejo, é que o ponto de vista americano está contra a América. Isso é o que me inquieta. À esquerda, estamos prontos para destruir nosso país para salvar o planeta. À direita, Putin é nosso salvador contra a Nova Ordem Mundial. Alguém está pensando em como preservar os Estados Unidos?
Temo que tenhamos passado a acreditar nos argumentos do inimigo — adotando-os, reforçando-os. Com certeza, em tempos de guerra, um tolo é mais perigoso do que um inimigo; pois um inimigo pode, às vezes, poupar você por medo de si mesmo; mas um tolo afundará o navio com todos a bordo, sem saber o que faz. Pior ainda do que os tolos que abundam por todos os lados são aqueles que desfilam como patriotas profissionais: vibrando de ambição, envoltos na bandeira americana, sempre armando ciladas para si mesmos.
Com tanto vazio, ansiedade e tolice, não é de surpreender que os Estados Unidos se encontrem à mercê dos slogans do inimigo. Aqui, a terra moribunda estende a mão em direção ao seu Bezerro de Ouro, seu deus político, como “a súplica da mão de um morto sob o cintilar de uma estrela em extinção”. Pois a mão que move o sistema agora está pálida de morte. Sua imagem é esculpida mesmo enquanto seus adoradores são pagãos que falsamente se imaginam diferentes disso. Claro, como disse Evola, eles não pensam. Ser manipulados por inimigos é o destino de tais pessoas. Cheios de uma justiça própria cega, acabam como bonecos de trapo do Diabo.

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