A Hidra Vermelha - capítulo 3: a III Internacional (Carlos Azambuja)
Capítulo 3 – A III Internacional
A origem da 3ª Internacional está indissoluvelmente vinculada à Revolução de Outubro de 1917, na Rússia.
Foi fundada em março de 1919, em uma reunião em Moscou, na qual, e fora os russos presentes, a maior parte dos "delegados" representava partidos socialistas e comunistas existentes apenas no papel ou que haviam sido criados especialmente para aquele momento.
O Partido Comunista Francês, que ainda não existia, foi representado pelo seu único militante, um francês radicado em Moscou.
Um outro, norte-americano, que residia há algum tempo na Rússia, falou em nome do Partido Trabalhista Socialista Americano.
Cristian Rakovsky, militante do Partido Bolchevique na Ucrânia, por ser búlgaro de nascimento e ser cidadão romeno, representou a Federação Revolucionária Balcânica.
No caso da Polônia a fraude foi maior. Foi representada por Unschlicht, segundo homem dentro da hierarquia da Cheka – Comissão Extraordinária de Combate à Contra-Revolução e à Sabotagem, sucessora da Okrana czarista, atual KGB.
Resumindo: a 3ª Internacional foi fundada por nove pessoas que representavam a si próprias.
Isso não preocupou Lenin, pois a Fração Bolchevique, que então detinha o poder, não fora também criada, em 1903, por apenas 20 militantes? E o POSDR não fora criado em 1898 também por nove pessoas? O Komintern – O Movimento Comunista Internacional – estava, assim, criado.
As teses de Lenin, lidas na primeira reunião da 3ª Internacional, rejeitavam o “falso socialismo” da 2ª Internacional e definiam como “principal tarefa a conquista da maioria nos sovietes nos países onde o poder soviético não tenha ainda prevalecido”.
Dessa forma, o padrão russo era oferecido ao mundo inteiro, muito embora, naquela época, essa fraseologia fosse ininteligível nos demais países. Onde já houvera organização de sovietes, a não ser na Rússia?
Em seu livro “Esquerdismo, Doença Infantil do Comunismo”, Lenin argumentou que os comunistas não deviam ser dogmáticos, mas maleáveis. Não podiam refugar as oportunidades que o Estado capitalista oferecia através de suas liberdades democráticas. Assim, não deveriam rejeitar a oportunidade de utilizar os parlamentos burgueses e trabalhar dentro dos sindicatos. Se a ocasião favorável se apresentasse, eles, então, poderiam unir-se num só bloco ou até mesmo ingressar nos partidos socialistas existentes.
Afinal, os bolcheviques, a despeito de sua hostilidade aos mencheviques, não haviam convivido no mesmo partido, o POSDR – Partido Operário Social Democrata Russo? E embora condenassem o parlamentarismo, não haviam participado das eleições para a Duma e para a Assembleia Nacional Constituinte – que funcionou apenas um dia?
O 2º Congresso da 3ª Internacional, em julho de 1920, estipulou 21 condições para a admissão de partidos estrangeiros. Recordaremos apenas três dessas condições.
A primeira referia-se à imprensa comunista, que deveria estigmatizar “sistematicamente e sem rodeios não apenas a burguesia, mas seus colaboradores, os reformistas de todos os matizes”.
A 5ª condição exigia solenemente dos comunistas de todos os países desempenhar as tarefas de propaganda nas áreas rurais, “utilizando os trabalhadores-revolucionários que tivessem ligações com as aldeias”.
Essa condição é ilustrativa da insensível transposição das condições peculiares da Rússia para outras sociedades, e invoca a imagem de um trabalhador comunista de Nova York ou Londres batendo à porta de uma cabana de camponeses de Iowa ou Norfolk, a fim de incitá-los contra os donos das terras e contra o governo.
A décima-quarta condição impunha a necessidade de expurgos em cada partido para livrá-los de elementos da pequena burguesia, daí não se poder precisar qual a principal tarefa dos comunistas em nível internacional: se o combate ao capitalismo ou aos antigos camaradas socialistas.
Essas 21 condições se notabilizaram por uma omissão, pois entre vários deveres impostos aos partidos-irmãos, nada foi dito sobre a luta pela melhoria das condições de vida dos trabalhadores. A preocupação era apenas com a tomada do poder.
Lenin não participou do Congresso de fundação da 3ª Internacional, o que permitiu que o Comissário de Assuntos Estrangeiros, Chicherin, cerimoniosamente explicasse aos exasperados governantes ocidentais que o Komintern era uma instituição privada – uma sociedade civil sem fins lucrativos, como se diria hoje – por acaso sediada em Moscou, mas sobre cujas atividades o governo soviético não assumia qualquer responsabilidade.
Pouco tempo depois o Partido Comunista Brasileiro, recém-fundado, seria admitido como membro da 3ª Internacional, hoje Movimento Comunista Internacional ou “Sistema Socialista Mundial”, como dizem os documentos do 7º Congresso do PCB, aceitando, portanto, as 21 condições.
A 3ª Internacional foi dissolvida em 10 de junho de 1943, por decisão de Stalin, a fim de facilitar as negociações com Churchill e Roosevelt, com o objetivo de assegurar a derrota de Hitler. Em 28 de maio de 1943, em entrevista à Agência Reuters, em Moscou, Stalin já se havia referido à dissolução da 3ª Internacional, “a fim de responder às calúnias de que Moscou imiscui-se na vida de outras nações para bolchevizá-las”.
Analisando essa argumentação, verifica-se que Stalin limita-se a suprimir o que não passava de “uma calúnia”, ou seja, suprimiu algo que não existia.
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