A frente anticapitalista construída por Stálin – a união estratégica entre comunistas e nacional-socialistas
O socialista Adolf Hitler confidenciou certa vez a Benito Mussolini que "o capitalismo havia passado do seu tempo". Hitler expressava, tanto em público quanto em privado, um profundo desprezo pelo capitalismo, acusando-o de manter as nações como reféns em benefício dos interesses de uma classe rentista de "parasitas cosmopolitas".
Era contrário à economia de mercado e à busca desenfreada pelo lucro, desejando, em seu lugar, uma economia que respeitasse o interesse público. Não confiava no capitalismo e preferia uma economia planificada.
Em 1934, declarou, diante de membros do partido, que "o sistema econômico contemporâneo fora criação dos judeus". Também acreditava que a classe empresarial "não queria outra coisa senão lucros, e a pátria nada significava para eles". Nessa linha de coerência, o programa socialista alemão planejava um duro golpe contra a propriedade privada de terras, defendia a participação dos operários nas fábricas e a socialização da indústria, colocando o empresariado na órbita do partido.
Hitler via em Napoleão Bonaparte um modelo de comportamento anticapitalista, anticonservador e antiburguês. Afirmava que a guerra era o único meio de obter os recursos necessários e a única forma de derrotar o sistema econômico capitalista em declínio.
O socialista Hitler também chegou a afirmar certa vez que: "Sempre preferi cem vezes um comunista a um desses burgueses hipócritas, egoístas, unicamente preocupados por defender seu dinheiro. Um comunista combate; é possível convencê-lo. Um burguês é antes de tudo um ser firmemente convencido da onipotência do dinheiro. Não é outra sua doutrina. Por isso, todo movimento burguês ou aburguesado está destinado ao fracasso, qualquer que seja a linguagem empregada por seu chefe. Por isso os partidos burgueses são verdadeiros partidos da de sordem. Não podemos fazer outra coisa que desprezar a covardia dos burgueses".
Os comunistas procuraram impingir aos movimentos socialistas de cores nacionais a epítome de nova etapa do capitalismo, assim, o discurso confeccionado pelos comunistas era de que o sistema capitalista se expressaria da maneira mais intensa no fascismo e nacional-socialismo do que na social-democracia e demais alternativas nacionalistas ou patrióticas sem DNA socialista. Por essa mesma razão, Moscou orientou que a bancada comunista no parlamento alemão se recusasse a fazer uma coalizão com os social-democratas, criando assim condições políticas para que os nacional-socialistas conseguissem obter o poder em 1933.
Joseph Stalin justificava tal atitude dizendo que, assim, as contradições existentes na Alemanha seriam mais acirradas, pois o capitalismo mostraria a sua verdadeira face. No ano de 1927, prevendo a tomada de poder pelos nacional-socialistas, Stálin considerava esse evento como desejável para a estratégia soviética, dizendo: "É exatamente o fato de que o governo capitalista vai se tornando fascista que está provocando o aguçamento de tensões nos países capitalistas, e incitando movimentos revolucionários operários", fala esta que teria ocorrido no Comitê Central.
Stálin classificou o regime de Hitler como uma "ditadura terrorista" e enfatizou que "a crise revolucionária crescerá mais rapidamente, pois, quanto mais a burguesia se confundir com suas combinações e táticas, mais a ditadura recorrerá a métodos terroristas".
Em 1932, a política alemã encontrava-se em um impasse: Adolf Hitler estava em primeiro lugar, os social-democratas em segundo, e os comunistas em terceiro. Não obstante, nenhum dos três podia controlar a maioria absoluta necessária para a subida ao poder, o que é o mesmo que dizer que os comunistas poderiam escolher quem eles quisessem que subisse ao poder. Se os comunistas ficassem com os social-democratas, o nacional-socialismo submergiria, caso os comunistas ficassem contra os social-democratas, a social-democracia desmoronaria.
Sob ordens de Stálin, os líderes comunistas alemães escolheram a segunda opção — recusaram-se a formar um bloco com os social-democratas. Publicamente, para os militantes comunistas e os operários, a política do Partido Comunista em relação aos social-democratas foi justificada por meio de um raciocínio distorcido: não haveria diferença radical entre um regime de democracia parlamentar e uma ditadura fascista. Ambas seriam formas de ditadura burguesa, que se tornava cada vez mais reacionária.
Para os socialistas internacionais, a política dos social-democratas impedia a guerra; portanto, impedia a revolução e, em última instância, a vitória da classe operária. Por outro lado, a política nacional-socialista elevaria a chance de guerra, de revolução e, em última instância, de vitória da classe operária. Com essa dialética, concluiu-se que o partido de Hitler deveria conduzir o principal ataque contra os social-democratas, uma vez que estes eram o inimigo mais perigoso, pois ainda mantinham alguma influência sobre a classe operária e podiam retardar uma guerra efetiva contra o capitalismo.
A primeira ocasião de cooperação aberta entre nacional-socialistas e comunistas ocorreu em agosto de 1931, na Prússia Oriental, onde os social-democratas exerciam o poder. Os nacional-socialistas iniciaram um plebiscito com o objetivo de destituir os social-democratas. Inicialmente, os comunistas se opuseram ao plebiscito. No entanto, após receberem instruções de Moscou, mudaram de posição. Nacional-socialistas e comunistas então uniram forças sob uma mesma bandeira vermelha, na qual a suástica se entrelaçava com a foice e o martelo. Embora os comunistas tenham apelidado o plebiscito de "Referendo Vermelho" e os nacional-socialistas se referissem a eles como "camaradas do povo trabalhador", não conseguiram alcançar maioria na votação.
Um ano depois, poucos dias antes das eleições do Reichstag, em novembro de 1932, teve início uma greve nos transportes públicos. Comunistas e nazistas a orquestraram em conjunto. Tropas de choque e membros do Rot front (paramilitares comunistas) paralisaram o transporte público por cinco dias: arrancaram trilhos de bonde, organizaram piquetes, agrediram trabalhadores que tentaram comparecer ao serviço e usaram a força para impedir a circulação dos veículos que as autoridades conseguiram colocar nas ruas.
Após a ascensão dos nacional-socialistas ao poder, os soviéticos passaram a manobrar a geopolítica europeia com o objetivo de provocar o início de uma nova guerra mundial. Quando concordou com a assinatura do pacto de não agressão e com a partilha da Polônia, em 1939, Stálin sabia exatamente para onde os acontecimentos se dirigiam e tinha consciência de que a Inglaterra não permaneceria indiferente a uma invasão alemã da Polônia — ao contrário do cálculo político de Hitler, que, confiando nos conselhos de Ribbentrop, descartava essa possibilidade. Mas a partir desse ponto, a estratégia anticapitalista dos comunistas, pela junção e manipulação dos movimentos socialistas dos países alvos, colheria metade de seus frutos, apesar dos revéses sofridos com o ataque surpresa dos socialistas alemães em 1941.
REFERÊNCIAS
R. J. Overy, The Dictators: Hitler's Germany and Stalin's Russia, pp. 230, 399, 402 e 403. Conradi, Peter (2004).
Hitler's Piano Player: The Rise and Fall of Ernst Hanfstaengl, Confidant of Hitler, Ally of FDR, pp. 284.
FEDER, Gottfried. O Programa NSDAP e suas concepções doutrinárias fundamentais. P. 21/25
SUVOROV, Viktor. O Grande Culpado: o plano de Stálin para iniciar a Segunda Guerra Mundial. P. 58/61
CASTAN, Siegfried Ellwanger. Holocausto Judeu ou Alemão? – nos bastidores da mentira do século. P. 40
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