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Ele queria tratar de filosofia e religião, mas no meio do caminho havia um negócio chamado “alfabetização”

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Published on 25 Jul 2025 / In Other

Efeito Dunning-Kruger: definição, exemplos, vantagens e desvantagens. https://hrtalk.de/pt-pt/efeito....-dunning-kruger-defi
Professor Pasquale Explica - 02 Acentuação. https://youtu.be/RSCWaaN_n_Q?si=FQkYoY0cr0x-wwZz
Platão. A República. Tradução de Edson Bini. São Paulo, Edipro. 2020. p. 213.
Platão. A República. Tradução de Carlos Alberto Nunes. 3ª ed. Belém. EDUFPA, 2000. P. 267
Platão. A República. https://drive.google.com/file/....d/1janD7BWF2D4oF7Mm9



Descoberto em 1999 pelos cientistas David Dunning e Justin Kruger, o efeito dunning-kruger é conceituado como “um enviesamento cognitivo em que as pessoas com conhecimentos ou competências limitadas num determinado domínio intelectual ou social sobrestimam grandemente os seus próprios conhecimentos ou competências nesse domínio, em comparação com critérios objetivos ou com o desempenho dos seus pares ou das pessoas em geral”. Em suma, é o fenômeno pelo qual pessoas incompetentes fazem uma avaliação errada sobre a própria capacidade de proferir juízos corretos sobre determinados assuntos nos quais, muitas vezes, estudiosos caminham com cautela e dependem de vasta leitura, pesquisa e documentação.
Tantos testes e pesquisas, sendo que no final podemos simplesmente retornar ao que o oráculo de Delfos disse sobre Sócrates, quando a ele se referiu como sendo o homem mais sábio. Isso conduz à necessidade de obediência ao preceito “conhece-te a ti mesmo”. Ao ser chamado de sábio pelo oráculo, Sócrates quis saber em que sentido ele de fato o seria, indagou seus concidadãos e chegou à conclusão de que sua sabedoria provinha do fato de ter conhecimento sobre suas próprias lacunas. O efeito dunning-kruger não trata da ignorância em geral, mas em assuntos específicos, ele parte do pressuposto que os ignorantes são, por definição, incapazes de se darem conta que são ignorantes, por causa, justamente, da sua própria ignorância.
A inteligência é algo que quanto mais se perde, menos se sente a falta. Por oportuno, vale a pena resgatar algumas definições relevantes: a distinção entre filósofos e filodoxos.
Em “A República”, Sócrates introduz na conversa que a opinião e a ciência possuem objetivos diferentes. Na verdade, esses dois campos atraem sujeitos díspares, Platão enuncia que existem aqueles que passeiam pelos campos do conhecimento, “todos os amadores de espetáculos se incluem nessa categoria tão-somente pelo prazer de aprender alguma coisa. Há também os que se deixam levar pelos ouvidos, tipos esquisitos, que ficariam deslocados entre os filósofos. Esses não se mexeriam para ouvir discursos sérios ou uma dissertação como a de agora” , ou seja, não se importariam com os grandes diálogos travados pelos sábios. É como se os debates fossem uma festa. Platão escreve que eles “alugam ouvidos” e que de filósofos eles só possuem o nome, no geral são amantes de espetáculos.
No exato trecho seguinte, Platão coloca na boca de suas personagens a pergunta sobre quais seriam os verdadeiros filósofos.

“E quem dizes que são os autênticos filósofos?”
“Aqueles que amam o espetáculo da verdade.”

Ou, na tradução de Carlos Alberto Nunes (2000): “Quais são os verdadeiros filósofos? Os que se comprazem (...) na contemplação da verdade”
Ele prossegue dizendo que aqueles que não são filósofos se deleitam com as vozes, cores, formas belas e obras trabalhadas, dito em outros termos, com os fenômenos captados pelos sentidos, porém esses mesmos sujeitos são incapazes de perceber e amar o belo em si, o justo em si, o bom em si, os absolutos com os quais os fenômenos possuem uma relação de participação. Quem percebe a existência desses absolutos, pode filosofar; quanto àqueles que não os percebem, Platão diz que são sonâmbulos, estão dormindo.
Os filósofos conseguem executar a quebra ou superação das formas aparentes e a partir daí passam a vislumbrar as verdades eternas (do mundo das ideias proposto pela filosofia platônica). Estes últimos estão acordados, são os que, ao contrário daqueles outros, admitem a existência do belo em si e mostram-se capazes de contemplá-lo, sem nunca confundir uma coisa com a outra e, necessariamente, sem nunca acreditar em mantras ordinários tais como “a verdade é relativa”.
Trocando em miúdos, o filósofo é um amante do conhecimento e o filodoxo é um amante da palpitaria, das opiniões e conjecturas, da excitação que esses espetáculos provocam em seus participantes. O título de filósofo tem sido associado não a uma atividade que se direciona à verdade, mas a um título honorífico que se concede aos falantes, professores e escritores. Porém, de maneira diametralmente oposta a essa falsa concepção, temos aqueles pontos já delineados pelo próprio pai da filosofia, a partir dos quais poderemos saber quem é filósofo e quem não é filósofo.
Nessa discussão, alguns autores de renome falam em projeto socrático, acrescentando ainda que a filosofia de Platão é ao mesmo tempo um projeto pedagógico. O bom manejo da língua é imprescindível nessa empreitada pedagógica. Cada macaco que nasce no mundo pode ser considerado um novo macaco, mas essa situação é diferente com os seres humanos, porque cada ser humano que nasce vê-se diante de uma história precedente e uma carga cultural imensa. Na época de Sócrates, os livros eram acumulados na memória e a publicação de uma peça era sua recitação diante de todos, embora os gregos não tivessem o mesmo acesso que temos aos papéis, documentos e registros, a sua memória era prodigiosa.
Estamos sentados num patrimônio cultural gigantesco se comparado com aquele dos personagens dos diálogos de Platão e por isso há um ônus maior para a atualidade, que precisa se aparelhar para fazer frente a essa massa de informações relevantes.
E o que há de mais primordial para essa empreitada do que o uso correto da língua? Seria possível compatibilizar analfabetismos estonteantes com pretensões de elucidar assuntos complexos? A resposta só pode ser negativa. Ao contrário das ações práticas, a pretensão intelectual lida diretamente com termos, conceitos e cadeias complexas de raciocínio, nas quais as palavras são frequentemente empregadas com significados trocados ou confusos.
Nos tempos atuais, há nuances linguísticas que só podem ser devidamente compreendidas, e cujas confusões só podem ser desfeitas, por meio do uso adequado da própria língua. A vergonha de escrever errado precisa voltar a ser um sentimento geral, quando isso acontecer, as coisas começarão a melhorar um pouco. Pratique uma boa ação, faça um mongolão analfabeto passar vergonha.

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