Derrotismo e Estratégia Revolucionária (Jeffrey Nyquist – 8 de setembro de 2022)
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Derrotismo e Estratégia Revolucionária (Jeffrey Nyquist – 8 de setembro de 2022)
“Eu diria que em mais dez dias tudo deve estar completamente terminado.”
— Coronel Douglas Macgregor, no nono dia da guerra na Ucrânia
O termo derrotismo é comumente usado na política como um descritor para uma postura ideológica que considera a cooperação com o partido de oposição.
No contexto militar, em tempos de guerra, e especialmente na linha de frente, derrotismo é sinônimo de traição.
— Wikipedia
Quando um estrategista consegue manipular ambos os lados em um conflito, onde cada lado representa uma lâmina de uma tesoura, ele pode usar o movimento de corte das lâminas para abrir caminho através de qualquer coisa. O conflito, então, torna-se um experimento controlado no qual os contendores, como tese e antítese, são usados para estabelecer uma nova coisa (isto é, uma síntese).
No caso presente, Rússia e China (usando suas redes de agentes no Ocidente e “idiotas úteis”) estão aplicando essa estratégia. Elas estão tentando desestabilizar a Europa e os Estados Unidos para refazer o mundo. Um ingrediente essencial dessa estratégia é o derrotismo.
O Derrotismo Leninista
Quatro estratégias de “tesouras” sobrepostas estão em curso, ao longo de fraturas já existentes: 1) o regime Biden vs. o movimento MAGA; 2) Rússia vs. Ucrânia; 3) China vs. Taiwan; 4) elites ocidentais vs. as massas exploradas (das economias ocidentais em colapso).
Por trás dessas estratégias de tesoura, há uma estratégia de convergência, e todas essas estratégias fazem uso do derrotismo anti-OTAN e anticapitalista.
Para entender o derrotismo, é útil refletir sobre o derrotismo de Lenin durante a Primeira Guerra Mundial. A Rússia então lutava contra a Alemanha, o Império Austro-Húngaro e a Turquia. Como derrotista, Lenin queria que a Rússia perdesse a guerra. Nesse caso, ele vislumbrava chegar ao poder por meio de uma revolução. Como os eventos se desenrolaram, a guerra levou a Rússia à beira do colapso econômico no início de 1917.
Após a abdicação do czar na Revolução de Fevereiro, o derrotismo de Lenin o levou a colaborar com o governo alemão. O Kaiser, desesperado para sair de uma guerra em duas frentes, forneceu dinheiro a Lenin (enviado à Rússia através do Banco da Sibéria) para que Lenin derrubasse o Governo Provisório e concedesse à Alemanha a paz em termos favoráveis. Depois que Lenin derrubou o Governo Provisório na Revolução de Outubro, ele aceitou o Tratado de Brest-Litovski. Esse tratado desfez o Império Russo e encerrou a participação da Rússia na Primeira Guerra Mundial. Foi assim que o comunismo foi estabelecido na Rússia, com o derrotismo como peça-chave.
Um marcador importante em tudo isso foi a oposição de Lenin à “onipotência da ‘riqueza’”. Lenin era um inimigo do Estamento. Ele dizia que o capitalismo explorava os trabalhadores, os empobrecia e até os massacrava em “guerras imperialistas”. Hoje em dia, notamos retórica semelhante vindo de grupos mistos de derrotistas de direita. Podemos, de modo apropriado, chamar esse derrotismo de “leninismo de direita”, porque seu modus operandi apresenta uma semelhança notável com o derrotismo de Lenin. Mas isso não é tudo. A direita americana está cada vez mais identificada com a classe trabalhadora, e Lenin foi um defensor da classe trabalhadora; então o caso se torna cada vez mais curioso, envolvendo o que os marxistas chamam de “contradições”.
Nesse contexto, o ex-assessor de Trump, Steve Bannon, teria dito a Ron Radosh: “Sou um leninista.”
Radosh perguntou o que ele queria dizer com isso, e Bannon respondeu: “Lenin queria destruir o Estado, e esse também é meu objetivo. Quero fazer tudo desabar e destruir todo o Estamento atual.”
Derrubar o Governo dos Estados Unidos, é claro, representaria uma oportunidade de ouro para Rússia e China. O arsenal nuclear americano defende o mundo livre (na medida em que ele ainda é livre). Se os Estados Unidos colapsassem após uma revolução de direita para “destruir todo o Establishment atual”, e se o arsenal nuclear americano fosse comprometido, quem poderia garantir que o mundo livre sobreviveria? Dado tudo isso, alguém como Bannon pode ser descrito como um leninista em mais de um sentido, ou talvez como uma ferramenta do leninismo. Por um lado, Bannon se vê como defensor da classe trabalhadora. Por outro, sua trajetória revolucionária poderia garantir uma vitória global para o leninismo.
Deixando de lado, por um momento, a oportunidade que “derrubar o [Estado americano]” representa para a Rússia e a China, é preciso admitir que nosso antigo Establishment despreza a classe trabalhadora branca do país. Aqui encontramos as lâminas de uma de nossas tesouras – isto é, as elites ocidentais vs. as massas exploradas. É uma ironia bizarra que a esquerda marxista, tendo saído de suas incubadoras universitárias e alcançado o governo, tenha usado a Teoria Crítica da Raça e o feminismo para suprimir o que se revela como a última classe instintivamente americana: o proletariado americano. Em uma inversão cômica da realidade política, a direita assume a classe trabalhadora enquanto a esquerda assume a elite. E assim, o comportamento elitista passou a ser ser um marxista de novo tipo – promovendo feminismo, fronteiras abertas e ideologia de gênero.
O comportamento "popularesco" é “FAZER A AMÉRICA GRANDE DE NOVO”.
De fato, são as massas malvestidas – os “deploráveis” de Hillary Clinton – que querem trazer a manufatura de volta aos Estados Unidos, que querem um muro na fronteira, e que instintivamente desconfiam do Establishment.
Portanto, Bannon é um “leninista” no sentido de que ele quer uma revolução de baixo para cima.
Deve-se admitir que, desde 1991, todos os nossos termos políticos foram invertidos e confundidos. No entanto, há método na loucura dessa confusão. A ideia de que Bannon possa se autodenominar um leninista anda de mãos dadas com Putin identificando-se como cristão. Como disse Iago, em Otelo, de Shakespeare: “Eu não sou o que sou.”
Bannon não é realmente um leninista, e Putin não é realmente um cristão. Mas há um jogo em andamento no qual, dialeticamente, os jogadores se tornam intercambiáveis, de modo que as peças brancas e pretas no tabuleiro de xadrez podem mudar de lado, trocar de posição ou convergir.
Como estrategista, não acredito que tudo isso seja um acidente.
O derrotismo que está surgindo na direita, após ter feito ruídos revolucionários, compartilha o ódio de Lenin aos banqueiros e às altas finanças. E aqui, não estamos falando especificamente de Bannon. Estamos falando da direita conspiracionista. A precisão é difícil aqui; mas, entre todas as teorias da conspiração que infectam a direita, a maioria acredita que os malfeitores da grande riqueza são os verdadeiros inimigos da humanidade.
Derrube a cabala bancária e tudo estará resolvido. E assim, os verdadeiros leninistas de direita – que compõem um agrupamento mal definido – têm aspirações revolucionárias em um nível mais profundo do que qualquer um compreendeu até agora.
Enquanto o conservadorismo, até aqui, fazia referência a Edmund Burke em sua oposição à revolução violenta, os leninistas de direita não têm tal inibição. Assim como os materialistas dialéticos do movimento comunista, os revolucionários de direita não possuem nenhum cálculo transcendental. Eles não são homens do além (no termo mordaz cunhado por Nietzsche); e, portanto, como os comunistas, buscam o poder – e não se importam com o modo de alcançá-lo.
Como Lenin, eles acreditam que as guerras derivam de conspirações capitalistas. Isso pode ser visto no Movimento Truther, que Moscou patrocina.
Não se deve ignorar que essa crescente fixação em teorias da conspiração revela uma guinada em direção ao maquiavelismo (outro traço leninista). Ironicamente, a conspiração é a verdadeira fé do teórico da conspiração; pois ele acredita que a história pode ser controlada pelo dinheiro e pela astúcia. Sua inveja nativa o leva a concluir, consciente ou inconscientemente, que a história poderia estar sob seu controle. E assim, despojando o marxismo-leninismo de seu aparato exterior, o teórico da conspiração criou para si mesmo uma teoria revolucionária simplificada – indo direto ao ponto.
Lenin escreveu: “Uma república democrática é a melhor carapaça política possível do capitalismo, e portanto, uma vez que o capital tomou o controle dessa excelente carapaça... estabelece seu poder de forma tão segura, tão firme, que nenhuma mudança de indivíduos, de instituições ou de partidos na república democrático-burguesa pode abalar esse poder.”
Declarações semelhantes podem ser encontradas em vários sites da direita, e poderiam formar a base para a estratégia de convergência de Moscou no fim do jogo.
A extrema-direita e a extrema-esquerda poderiam unir forças. Afinal, parecem compartilhar o mesmo inimigo.
É realmente desconcertante imaginar que a direita e a esquerda possam se combinar, que possam concordar em uma revolução para derrubar o capitalismo.
É claro que derrubar Wall Street e os bancos poderia destruir o Ocidente economicamente. Em termos práticos, o que poderia ser melhor para Moscou e Pequim?
Depois do colapso do Ocidente, a direita e a esquerda – tendo derrotado os “banqueiros” do mal – poderiam ser confortavelmente fundidas.
Se algo der errado (e provavelmente dará), o reinício radical de uma guerra mundial nuclear poderia ser usado para forçar os sobreviventes desesperados a um socialismo de sobrevivência. Se reacionários e antissocialistas tentarem resistir, algo semelhante à Guerra Civil Russa poderia ocorrer em escala global, a bala e baioneta, permitindo que os despossuídos derrubem os que têm posse. De um jeito ou de outro, a Revolução Mundial vence.
A Revolução Mundial: Uma Visão Geral
Podemos visualizar a Revolução Mundial da seguinte forma: 1) Iniciar uma guerra na Ucrânia que resulte em uma desorganização econômica global, seja por meio de uma vitória russa ou de um impasse (uma vez que as sanções econômicas ocidentais se aplicarão de qualquer maneira, desencadeando o colapso da frágil estrutura financeira do Ocidente); 2) Estender o caos econômico interrompendo as cadeias de suprimento vitais do Ocidente, à medida que a China pressiona Taiwan e se mobiliza para a guerra no Extremo Oriente; 3) Fazer com que um presidente democrata denuncie sua oposição republicana como traidora (abrindo caminho para uma guerra civil nos EUA, marcando o fim da hegemonia global americana); 4) Expor as políticas predatórias e falidas da elite capitalista ocidental, levando as massas ocidentais a se voltarem contra seu sistema econômico e seus governos; 5) Desfazer a OTAN; 6) Concretizar a “Casa Comum Europeia” defendida por Gorbachev e Yeltsin; 7) Transformar o Oceano Pacífico em um lago chinês;8) Destruir os Estados Unidos, ocupar a América do Norte e governar o mundo como uma comunidade socialista liderada por Moscou e Pequim.
Esse esquema grandioso, em sua primeira formulação, originou-se com Lenin na Rússia.
Como acontece com todos esses esquemas, ele parece absurdo à primeira vista.
Mas todos os esquemas grandiosos de conquista parecem absurdos a princípio. Pense nos reis persas, em Alexandre, o Grande, em Aníbal, César, etc. A história nos mostra muitos esquemas aparentemente absurdos — e bastante deles foram de fato realizados com sucesso. Os romanos, segundo Políbio, conquistaram graças à paciência de sua política de longo alcance. Os britânicos usaram o poder naval para manter com êxito um império onde Atenas, no mundo antigo, havia falhado. É digno de nota que os impérios bem-sucedidos do passado eram conservadores, preservando a herança intelectual e espiritual de seu tempo. O esquema grandioso de Lenin, no entanto, propõe o estabelecimento de um império socialista mundial, conduzindo ao comunismo. O que pegou a modernidade de surpresa, nesse caso, foi a natureza deliberadamente destrutiva do socialismo. A Revolução Bolchevique na Rússia estabeleceu um regime fundado na crença insistente de que a humanidade só pode ser transformada por meio da violência. A ideia de transformar a humanidade dessa maneira, de aniquilar a inclinação instintiva do homem à aquisição, não é meramente utópica; trata-se de uma justificativa para a criação de um Estado totalitário baseado em uma concentração de poder sem precedentes.
Ao fazer isso, os marxistas ignoraram a advertência de Lord Acton:
“O poder tende a corromper, e o poder absoluto corrompe absolutamente.”
A lascívia por poder, revestida com retórica humanitária, sempre produzirá uma catástrofe humanitária. Quando os socialistas tomaram o poder na Rússia, formando a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), passaram diretamente aos assassinatos em massa e à pilhagem. Não é por acaso que a corrupção mancou o sistema soviético de alto a baixo. A corrupção também é uma doença que aflige a China Vermelha. Afeta todos os países socialistas totalitários. Aqueles que afirmam que o Ocidente é a sociedade mais corrupta e decadente de todas não sabem do que estão falando. Eles não estudaram adequadamente o sistema socialista da antiga União Soviética. O poder absoluto, de fato, corrompe absolutamente.
Portanto, não deveria ser uma proposição controversa dizer que todos os governos socialistas revolucionários estão baseados no banditismo; ou seja, na mentira, no roubo e no assassinato. Vemos isso desde o terror pela fome de Stalin na Ucrânia, até os campos de extermínio de Pol Pot e o Terror Vermelho de Mengistu Haile Mariam na Etiópia dos anos 1980. Em sua grandiosidade, eles precisam matar um número enorme de pessoas, pois a natureza humana resistirá às políticas insanas do socialismo. Eles precisam nivelar a civilização, porque os valores civilizados são incompatíveis com seus métodos.
Infelizmente, não aprendemos com a história do socialismo totalitário. Mesmo quando a “pátria-mãe” do socialismo fingiu abandonar seus objetivos e adotar o capitalismo em 1991, mesmo quando a China Vermelha entrou no jogo capitalista, os antigos objetivos e métodos permaneceram intactos. O plano de longo prazo da Rússia e da China para refazer o mundo exige violência e roubo em uma escala sem precedentes. Isso não mudou. Olhe para o que está acontecendo na Ucrânia. Veja o comportamento da China em relação a Taiwan. Pergunte-se: por quê? A ambição dominante de Moscou e Pequim é aniquilar. A coisa mais perigosa que fizemos, nos últimos 35 anos, foi dizer a nós mesmos: “Sim, podemos negociar com segurança com Moscou e Pequim. Eles não nos trarão destruição.” Note, então, como os mísseis e ogivas nucleares foram preparados na Rússia e na China. Note também como o suprimento mundial de alimentos está sendo restringido. Alguém se lembra de que o controle sobre os alimentos sempre foi o caminho comunista para consolidar o poder? O fato é que não podemos fazer negócios com segurança com Moscou e Pequim. O desertor da GRU, Coronel Stanislav Lunev, certa vez descreveu os líderes da Federação Russa da seguinte forma: “Esses não são seres humanos. São pessoas loucas.” Comentando sobre o programa absurdo dos totalitários, Hannah Arendt observou: “Até agora, a crença totalitária de que tudo é possível só parece ter provado que tudo pode ser destruído.”
Engendra-se um Estratagema
Os estrategistas de Moscou sempre consideraram a energia o calcanhar de Aquiles da Europa. Os insumos energéticos decisivos para uma economia moderna e próspera são, principalmente, o petróleo e o gás natural. Se o suprimento ocidental de petróleo e gás natural pudesse ser limitado ou cortado, uma crise econômica poderia ser desencadeada. Nesse contexto, a Revolução Islâmica de 1979 no Irã, rico em petróleo, foi de enorme importância para a Rússia. A natureza antiamericana do regime e os traços libertadores do Islã Revolucionário fizeram de Moscou e Teerã aliados naturais. Ao mesmo tempo, o Irã poderia ser militarmente desenvolvido como uma potência nuclear que facilmente poderia fechar o Golfo Pérsico ao petróleo durante uma futura crise. De importância quase igual foi a tomada socialista da Venezuela, rica em petróleo, sob Hugo Chávez. Se os Estados Unidos fossem passivos o suficiente para tolerar a queda do centro petrolífero da América do Sul, então a guerra energética da Rússia estava a caminho do sucesso. A cereja do bolo, no entanto, seria o ambientalismo radical.
Nos últimos anos, geólogos encontraram vastos depósitos de petróleo em locais inesperados. As previsões apocalípticas sobre o pico do petróleo não se concretizaram. Existem, sob a terra, grandes depósitos de gás e petróleo. Tudo o que o Ocidente precisava fazer era desenvolver a tecnologia para encontrar esses depósitos e perfurar mais fundo — ou recorrer a tecnologias não convencionais de extração. É aqui que os ambientalistas desempenharam um papel significativo para a Rússia. Nos últimos anos, o ambientalismo radical — na Europa e na América do Norte — tornou-se mainstream. Com nova força política, os ambientalistas passaram a se opor à perfuração, ao fraturamento hidráulico e mais. Desde o início, Moscou precisava interditar novas fontes de energia barata. Por sorte, os ambientalistas fizeram isso por eles.
É fácil ver quem mais se beneficia com o ambientalismo radical. Sem dúvida, Rússia e China se beneficiam. Principalmente por causa das preocupações ambientais com energia nuclear e carvão na Alemanha, a Rússia pôde conquistar a Europa como mercado para suas exportações de gás. Enquanto isso, a China garantiu sua base manufatureira à medida que a indústria ocidental foi transferida para a China. Isso se deveu, em grande parte, aos custos proibitivos associados às regulações ambientais nos EUA e na Europa.
Por razões óbvias, os estrategistas soviéticos passaram a se interessar por uma hipótese científica obscura: o aquecimento global antropogênico. Eis aí uma teoria “científica” com utilidade estratégica para o bloco socialista. E então, em 23 de junho de 1988, durante uma onda de calor em Washington, D.C., James Hansen, do Instituto Goddard de Estudos Espaciais da NASA, disse a um comitê do Senado dos EUA que: “A Terra está mais quente em 1988 do que em qualquer outro momento da história das medições instrumentais...”. Ele afirmou que havia “apenas 1% de chance de um aquecimento acidental dessa magnitude... O efeito estufa foi detectado, e está mudando nosso clima agora.”
A declaração de Hansen, em si, era ridícula. Não existe tal coisa como “aquecimento global acidental”. No entanto, foi esse o espantalho que Hansen apresentou como a única alternativa à teoria dos gases de efeito estufa. Os cientistas sabem há muito tempo que a Terra passa por ciclos de temperaturas mais quentes e mais frias. De fato, era mais quente na Alta Idade Média do que é hoje. Os vikings cultivavam alimentos na Groenlândia, o que não é possível com o clima mais frio atual. Ainda assim, o aquecimento global antropogênico foi aceito como verdade. Para esse fim, fatos foram sistematicamente falsificados por agentes de influência dentro da comunidade científica. Carreiras foram destruídas.
Para tornar o alarmismo ambiental crível, ninguém deveria questionar a teoria do aquecimento global antropogênico. Aqueles que a questionavam eram rotulados como “negacionistas da ciência”, ou acusados de serem agentes pagos da Grande Indústria do Petróleo. No entanto, a ciência se baseia em fazer perguntas. Quando toda essa loucura começou, os cientistas nem sequer compreendiam plenamente os mecanismos responsáveis pelas temperaturas globais. Dada sua ignorância sobre o clima, como poderiam afirmar honestamente que o aquecimento global antropogênico estava cientificamente provado? É claro que todos sabem — ou deveriam saber — que o Sol é um fator importante no aquecimento da Terra; mas, em 1988, ninguém compreendia o papel desempenhado pela radiação cósmica e pelo campo eletromagnético solar. Nesse aspecto, o trabalho de Henrik Svensmark tem sido embaraçoso para os defensores do aquecimento global. Ironia das ironias: o trabalho de Svensmark sugere que o mundo pode não estar aquecendo. Em vez disso, podemos estar caminhando para um resfriamento sério — com consequências catastróficas para a produção global de alimentos.
Apesar das futuras descobertas dos verdadeiros cientistas, as declarações de James Hansen em 1988 diante do Senado dos EUA deram credibilidade ao que veio depois. O New York Times declarou que Hansen havia soado um alarme “com tanta autoridade e força que a questão de um mundo superaquecido repentinamente passou para o centro das preocupações públicas.”
Como observado anteriormente, a teoria dos gases de efeito estufa como causa do aquecimento global existe há muitas décadas. Era apenas uma entre várias teorias apresentadas em trabalhos acadêmicos. Os criadores da teoria não eram agentes soviéticos. Foi o uso político da teoria que a tornou parte da estratégia de alguém. Certamente, se fizermos a pergunta cui bono (a quem interessa?), não podemos evitar olhar na direção de Moscou. Mas há mais: em 1982, o presidente do Conselho Científico do Presidium da Academia de Ciências da URSS, Ivan T. Frolov, escreveu um livro intitulado Problemas Globais e o Futuro da Humanidade. Nesse livro, ele sugeria que o ambientalismo era a chave para a futura vitória de Moscou. Segundo Frolov, que mais tarde se tornou membro do Politburo governante da URSS, “a poluição do meio ambiente, a destruição dos ecossistemas, a destruição de muitas espécies... atingiram agora proporções ameaçadoras.” Essas “desarmonias perigosas nas interações do homem com a natureza estão associadas... à formação socioeconômica capitalista...”. Portanto, explicou ele, essas desarmonias exigem uma “transformação social fundamental.” O camarada Frolov então jogou sua carta triunfal, aquela que provavelmente lhe garantiu seu assento no Politburo: “Como resultado da formação de uma camada de dióxido de carbono ao redor da Terra que a envolve como uma cobertura de vidro,” escreveu Frolov, “surgiu a ameaça de mudanças climáticas desfavoráveis que podem transformar nosso planeta azul em uma estufa gigantesca... com possíveis efeitos catastróficos.”
Lá está, traçado por um propagandista científico soviético em 1982. A União Soviética tomou essa ideia, colocou suas redes de agentes a serviço dela, e a transformou em uma “ciência estabelecida.” Com autoridades governamentais e a mídia alardeando-a, quem poderia resistir? Os propagadores do gás de efeito estufa podiam destruir qualquer um que os questionasse. Ali estava um instrumento político para sabotar a independência energética do Ocidente.
Quatro anos após o espetáculo de Hansen no Senado, em 1992, o senador Al Gore Jr. escreveu A Terra em Balanço: Ecologia e o Espírito Humano. Ecoando Ivan T. Frolov, Gore propôs uma transformação social fundamental para combater a poluição e a mudança climática. Gore, assim como o senador Joseph Biden, foi promovido ao Senado dos Estados Unidos por Armand Hammer (identificado pelas inteligências britânica e americana como um ativo russo de longa data). Como estrategista, não acredito que tudo isso seja um acidente.
Hoje, quase todos no Ocidente acreditam na teoria dos gases de efeito estufa como causa do aquecimento global antropogênico. Pode-se dizer, com alguma verdade, que “somos todos idiotas úteis agora.” A natureza fraudulenta da propaganda do aquecimento global antropogênico deveria ser óbvia para qualquer um que compreenda ciência. Também deveria ser óbvia para qualquer um que compreenda a estratégia soviética, o movimento comunista e a história das “medidas ativas” comunistas.
A Alemanha é, com toda probabilidade, o país mais prejudicado pela religião do aquecimento global antropogênico. Sob seu Programa de Ação Climática 2030, e a nova Lei de Ação Climática, os alemães vêm fechando usinas nucleares e a carvão. Isso levou a uma maior dependência do gás natural russo. Como explicou Patrick Wintour no Guardian, a “rejeição da energia nuclear e a transição do carvão significaram que a Alemanha tinha pouquíssimas alternativas ao gás russo.” De fato, os russos vinham se preparando para cortar o suprimento de gás à Alemanha meses atrás. Segundo Robert Habeck, instalações de armazenamento de gás de propriedade russa na Alemanha “vinham sendo ‘sistematicamente esvaziadas’ durante o inverno, para elevar os preços e exercer pressão política.” Foi uma admissão impressionante do poder da Rússia de interromper o fornecimento de energia. Líderes americanos alertaram a Alemanha sobre sua crescente dependência da Rússia durante muitos anos, mas os alemães não quiseram ouvir.
E agora, graças à oportunidade apresentada pela guerra na Ucrânia, e graças à capacidade da Rússia de cortar o fornecimento de gás da Alemanha, o Kremlin pode executar sua estratégia das tesouras na Europa. Sem eletricidade ou aquecimento suficientes, condições revolucionárias se instalarão na Alemanha. As empresas não conseguirão funcionar. Trabalhadores perderão seus empregos. O governo alemão será responsabilizado. As pessoas já tomaram as ruas. O derrotismo revolucionário está a caminho.
Douglas Macgregor: Um Estudo de Caso em Derrotismo Pró-Moscou
Existem vozes — e continuarão a surgir — pregando a inevitabilidade do declínio do Ocidente. Elas pregarão a ascensão da Rússia, a ascensão da China e até a ascensão do socialismo, etc. Ouça atentamente essas vozes. Pergunte quem são. Pergunte por que estão se manifestando. Nos últimos anos, à direita, há derrotistas que pregam o abandono dos aliados da América na Ásia e na Europa. Uma dessas pessoas é o coronel aposentado do Exército dos EUA Douglas Macgregor. E ele é um clássico “culpe os Estados Unidos primeiro”.
Um derrotista dirá que os Estados Unidos são os culpados por todas as coisas ruins que estão acontecendo. Durante a Guerra Fria, a esquerda promovia o derrotismo. No entanto, a esquerda, ao contrário de seu comportamento passado, atualmente está fazendo frente à Rússia e à China. Melhor ainda, então, se puderem puxar o tapete debaixo dos preparativos defensivos do Ocidente. Personagens inconsistentes como são, podem sempre voltar atrás. E isso já começou a acontecer. Em abril, Biden cancelou dois programas de ogivas nucleares, e a ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, teve dificuldades em explicar por que a Alemanha enviou menos ajuda militar à Ucrânia do que a Noruega. Esses esquerdistas não são confiáveis para defender o Ocidente. E ainda assim, estão erguendo a bandeira — por ora. O que é mais preocupante, neste momento, é que as vozes mais estridentes do derrotismo vêm da direita. Em nome da credibilidade, o derrotista ideal seria alguém com credenciais militares. Figuras como o general Michael Flynn vêm à mente — e ele certamente tem sido útil. Melhor que Flynn, no entanto, é o coronel Douglas Macgregor, um autodeclarado estrategista militar preferido pelo apresentador da Fox News, Tucker Carlson.
O coronel Macgregor tem sido consultor militar e comentarista de televisão desde sua aposentadoria do Exército dos EUA em 2004. Macgregor foi nomeado pelo presidente Trump para substituir Richard Grenell como embaixador na Alemanha, em 2020. No entanto, sua nomeação foi bloqueada pelo Senado dos EUA por causa de “declarações controversas.” O que mais o prejudicou foi a noção de Macgregor de que o esforço da Alemanha para superar seu passado nazista fazia parte de uma “mentalidade doentia.” Posteriormente, foi rotulado como antissemita por grupos judaicos americanos, embora tenha sido defendido por três israelenses em um artigo de opinião no Jerusalem Post. As atitudes de Macgregor lembram o general George S. Patton, um famoso general americano de opiniões fortes que lutou na Segunda Guerra Mundial. Mas então, Macgregor não é Patton.
Em uma participação no programa The Laura Ingraham Show, três semanas antes da invasão russa da Ucrânia, Macgregor disse: “A OTAN, sob a pressão de um possível conflito, parece estar desmoronando. Ela praticamente não tem coesão.” Macgregor então zombou sarcasticamente dos preparativos da OTAN diante da iminente invasão russa da Ucrânia. Ele também culpou os Estados Unidos por ajudar a criar a crise.
Para ser eficaz, o derrotismo não precisa ser consistente ou coerente. Na quarta-feira passada, Macgregor publicou um artigo na notória publicação pró-Kremlin Veterans Today. Ele argumentou que o apoio de Biden à Ucrânia, por mais escasso do que exagerado, é equivalente à política de “rendição incondicional” de FDR durante a Segunda Guerra Mundial. Macgregor então comparou a política de Biden de enviar ajuda à Ucrânia com a intervenção de Lyndon Johnson na Guerra do Vietnã: “LBJ descobriu da maneira mais difícil que os norte-vietnamitas estavam muito mais comprometidos com a ‘vitória a qualquer custo’ do que o povo americano.” É de fato surpreendente que Macgregor ecoe sem pudor a retórica derrotista da esquerda pró-marxista dos anos 1960. Nesse contexto, alguém deveria lembrá-lo de que soldados americanos não estão lutando na Ucrânia. É uma situação totalmente diferente da do Vietnã.
Enquanto Macgregor ataca aqueles que simpatizam com a Ucrânia como “gratuitamente moralistas,” ele se entrega à sua própria postura moralista ao culpar os Estados Unidos pela guerra. Em uma entrevista, ele disse: “Moscou nunca mais permitirá que Washington e seus aliados transformem o leste da Ucrânia em uma plataforma de lançamento para operações militares ofensivas contra a própria Rússia.” Uma mentira desse tipo é indesculpável vinda de um militar. A OTAN nunca transformou o leste da Ucrânia em uma base de lançamento para operações ofensivas contra a Rússia. Ninguém na OTAN ousaria atacar a Rússia. Mas repare na contradição chocante entre as duas declarações de Macgregor. De repente, a aliança fraca da OTAN que ele zombou em janeiro se transforma, em sua retórica, em uma ameaça suficientemente eficaz para justificar um ataque preventivo russo à Ucrânia!
Como uma interessante transição para a estratégia das tesouras, Macgregor criticou a ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock, como “uma cruzada do tipo que se vê em Washington.” É curioso que ele tenha focado na principal política do Partido Verde alemão. Os verdes têm feito sua própria contribuição especial para o derrotismo futuro da OTAN. Como uma lâmina da tesoura para a outra, Macgregor detonou Baerbock por querer “reformular o mundo para se conformar a algum tipo de imagem ideologicamente pura, boa e moralmente correta que sempre fracassa no fim...”
Zombar do Ambientalismo de Baerbock Tem seu Lugar; Mas Ela É uma Princesa das Trevas ou uma Idealista Desorientada?
Claro, Macgregor sorri de orelha a orelha diante das boas intenções de Baerbock. Ele acha que boas intenções são tolices. (Fica a dúvida, de fato, sobre quais seriam as suas próprias intenções.) Falando em inglês durante uma reunião recente em Praga, Baerbock disse que os ucranianos estavam lutando “pelo direito … de definir seu próprio futuro por si mesmos. Então [a defesa da Ucrânia] não depende da Alemanha….” Ela afirmou que a Ucrânia quer ser livre e pacífica, e que a Ucrânia tem esse direito. A ministra das Relações Exteriores da Alemanha não será chantageada pela Rússia, dizendo: “estamos com a Ucrânia enquanto eles precisarem de nós.”
Vamos comparar essas declarações da ministra das Relações Exteriores Baerbock com as afirmações feitas pelo herói diplomático de Macgregor, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov. Em 20 de julho de 2022, Lavrov disse que a Rússia não pretendia ocupar ou “impor nada a ninguém pela força” na Ucrânia. Contradizendo-se diretamente, Lavrov explicou que “as negociações de paz não fazem sentido no momento”, acrescentando que as ambições territoriais russas podem “se estender mais para o oeste” à medida que a guerra continua. Incrivelmente, Macgregor chama Lavrov de “um dos homens mais excepcionalmente talentosos e inteligentes que já conheci. E ele está muito no molde tradicional de um grande estadista europeu.”
O lacaio de um ditador assassino pode ser “um grande estadista europeu”? Ou seria ele um pau-mandado cujos lampejos de genialidade são limitados pelos instintos primitivos do brutamontes a quem serve? Macgregor pode insistir na grandeza de Lavrov, mas o que vai propor em seguida? Uma reavaliação de Joachim von Ribbentrop? Um beijo meloso em Talleyrand?
Quaisquer que sejam as críticas que possam ser feitas à ministra Baerbock, ela parece ser o oposto do herói de Macgregor. “Se eu der uma promessa como política,” disse Baerbock a uma recente reunião de políticos europeus em Praga, “pode ser que as pessoas discordem de mim e digam, em quatro anos, bem, você não nos disse a verdade; mas se eu der a promessa ao povo da Ucrânia, ‘Estamos com vocês enquanto precisarem de nós’, então quero cumprir, não importa o que pensem os meus eleitores alemães…. E é por isso que, para mim, é importante… sempre ser muito franca e clara; e isso significa que, [com] cada medida que estou tomando, preciso deixar claro que ela vale enquanto a Ucrânia precisar de mim. E é por isso que é tão importante sermos francos. Sim, todos desejam… que a guerra acabe amanhã. Mas, caso… ela não acabe… estamos agora diante do inverno, onde seremos desafiados como políticos democráticos. As pessoas irão às ruas e dirão, ‘Não conseguimos pagar nossos preços de energia,’ e eu direi, ‘Sim, eu sei, então vamos ajudá-los com medidas sociais.’ Mas não quero dizer, ‘Então vamos suspender as sanções contra a Rússia.’ Estaremos com a Ucrânia, e isso significa que as sanções permanecerão durante todo o inverno, mesmo que fique realmente difícil para os políticos. E teremos que encontrar boas soluções em toda a Europa para equilibrar os efeitos sociais…. Esta é uma guerra híbrida [na qual] a segunda estratégia [da Rússia] é dividir nossas democracias, dizendo, ‘Agora os pobres estão sendo deixados para trás, e temos que dar as respostas.’ Não, estamos em solidariedade com todos em nosso país, assim como estamos com todos na Ucrânia.”
Por mais que eu discorde veementemente das visões de Baerbock sobre mudanças climáticas, ela fala mais como uma estadista do que Lavrov. Nesse aspecto, ela não está enganando seu público. Ela está pronta para cair sobre sua espada. Do outro lado, Lavrov conta mentiras escancaradas. E, mesmo assim, Lavrov é o ideal de Macgregor. Não surpreende que Macgregor tenha demonstrado semelhante “estadismo” ao justificar a invasão da Rússia durante uma entrevista com Tucker Carlson. Segundo Macgregor, a OTAN estava planejando implantar mísseis e tropas em território ucraniano. Pouco tempo depois, em outra entrevista, Macgregor comparou a guerra na Ucrânia à crise dos mísseis de Cuba. Há, no entanto, um problema com essa comparação: realmente havia armas nucleares e mísseis russos em Cuba em outubro de 1962, junto com tropas russas; mas a OTAN nunca colocou armas nucleares, mísseis ou tropas na Ucrânia. Macgregor também esqueceu de mencionar que, apesar da colocação de mísseis nucleares russos em Cuba, os Estados Unidos não invadiram Cuba em 1962 nem em momento algum depois disso. Então como ele pode justificar a invasão russa da Ucrânia com uma analogia que não é análoga?
Com amor por Sergei Lavrov e raciocínio inepto, Macgregor continua dizendo que a Ucrânia perdeu a guerra. Seu derrotismo é infatigável. Ele não apenas afirma que a Ucrânia perdeu, mas que qualquer esforço para ajudar a Ucrânia é “reforçar a derrota.” Em um artigo que escreveu para a edição de 23 de agosto da The American Conservative, Macgregor argumentou que “novos sistemas de armas não mudarão o resultado estratégico na Ucrânia. Mesmo que os membros europeus da OTAN, junto com Washington, D.C., fornecessem às tropas ucranianas uma nova avalanche de armas, e ela chegasse à linha de frente em vez de desaparecer no buraco negro da corrupção ucraniana, o treinamento e a liderança tática necessários para conduzir operações ofensivas complexas não existem dentro do exército ucraniano de 700.000 homens.”
Após sua participação no Life, Liberty and Levin, da Fox News, no início da guerra da Ucrânia, Macgregor foi repreendido pela correspondente de segurança nacional da Fox News, Jennifer Griffin, que sentiu-se compelida a “corrigir algumas das coisas que o Coronel Doug Macgregor acabou de dizer … porque houve tantas distorções.” Segundo Griffin, Macgregor havia acabado de vilipendiar o Ocidente, soando como um apologista de Putin. Ela criticou duramente Macgregor por seu “discurso de apaziguamento”, vindo de alguém “que deveria saber mais, porque … foi ele quem aconselhou o presidente Trump a retirar todas as tropas americanas da Alemanha….” Isso foi, disse ela, “esse tipo de projeção de retirada e fraqueza … [que] fez Putin pensar que ele poderia realmente invadir um país soberano como a Ucrânia.” Griffin quis alertar o público da televisão: “Eu conheço e observo a atuação de Vladimir Putin desde 1999, quando fui correspondente em Moscou pela Fox. Foi onde comecei minha carreira na Fox, e Vladimir Putin é um ex-agente da KGB [e] ele vem preparando o terreno para isso….”
Nesse mesmo programa, o ex-congressista republicano Trey Gowdy disse: “Eu não entendi a análise do Coronel Macgregor de que eles [os russos] não querem armas em suas fronteiras. Se eles continuarem invadindo países, vão acabar tendo armas em suas fronteiras.” Exatamente certo!
É isso que Macgregor não entendeu. Se a OTAN fosse a parte de má-fé, engajada em ações traiçoeiras, por que Suécia e Finlândia se alinhariam com a OTAN, em vez de com a Rússia (como de fato fizeram)? A resposta é óbvia: a Rússia é a agressora. No entanto, Macgregor se recusa a admitir esse simples fato. Ele também não consegue reconhecer nenhuma das derrotas russas no campo de batalha. Quando os ucranianos retomaram um campo de aviação crítico a oeste de Kiev, nos primeiros dias da guerra, Macgregor zombou da ideia. “Os ucranianos não retomaram nada”, disse ele. No entanto, os ucranianos de fato retomaram o campo de aviação, e o cerco russo a Kiev fracassou.
Macgregor afirmou que a causa ucraniana é desesperada, que o presidente da Ucrânia é um “fantoche”. Eles deveriam se render e salvar a si mesmos, disse ele. A Ucrânia, afirma Macgregor, “é uma construção artificial – um terço daquele país não é ucraniano. Nunca foi.” – Então como Macgregor explica a Revolução do Euromaidan? Como explica a extraordinária vontade de resistir à invasão russa? O Exército Ucraniano já matou quase 50 mil soldados russos invasores. Destruiu quase 2 mil tanques russos. Que tal isso para um país que “nunca existiu”?
Ao mesmo tempo, Macgregor afirma que o exército russo é competente e bem-sucedido. Ele não vê reveses humilhantes nem derrotas. Segundo ele, os russos tentaram poupar vidas civis ao adotar uma abordagem mais lenta no início da invasão. Em uma entrevista de 23 de março de 2022 na Fox News, Macgregor disse: “O que aconteceu agora é que a batalha no leste da Ucrânia está quase acabando.” Os ucranianos deveriam desistir, sugeriu. A Rússia venceu a guerra. “Deveríamos parar de enviar armas,” acrescentou, porque a causa da Ucrânia é “um esforço desesperado.” Ah, sim, o conselho de Macgregor é sempre a rendição. Abandonem a guerra. Deixem a Rússia tomar a Ucrânia. Desistam.
Aqui estão trechos da entrevista de Macgregor com Stuart Varney, da Fox Business, no nono dia da guerra:
APRESENTADOR DA FOX: Putin vai arrasar a Ucrânia?
MACGREGOR: Não. Absolutamente não. Na verdade, ele trabalhou duro para capturar a maior parte do país intacta, com surpreendentemente poucos danos, francamente. Muito menos dano do que nós infligimos ao Iraque quando o invadimos. Eles estão cercando as forças ucranianas e aniquilando-as. Zelensky está esperando que Biden o resgate, e isso não vai acontecer.
APRESENTADOR: O senhor acha que o fim está próximo?
MACGREGOR: Ah, sim. O fim desta fase ainda está a alguns dias de distância. Nos primeiros cinco dias, acho, francamente, que as forças russas foram gentis demais. Eles corrigiram isso agora, então, eu diria que em mais dez dias tudo deve ter terminado completamente.
APRESENTADOR: Parece, coronel, que o senhor não aprova a postura de Zelenskiy.
MACGREGOR: Acho que Zelenskiy é um fantoche, e está colocando um grande número de sua própria população em risco desnecessário. E, francamente, a maioria das coisas que saem da Ucrânia são desmentidas como mentiras dentro de 24 a 48 horas. A noção de tomar e retomar campos de aviação, tudo isso é um absurdo. Nunca aconteceu.
APRESENTADOR: [Incrédulo] Ele não é um herói, defendendo a si mesmo e ao seu povo? O senhor não acha que ele é um herói?
MACGREGOR: [Sorrindo amplamente] Não. Não acho. Não vejo nada de heroico nesse homem. E penso que a coisa mais heroica que ele poderia fazer agora seria aceitar a realidade: neutralizar a Ucrânia. Isso não é algo ruim.
Essa troca de palavras é Macgregor em sua essência. Rebaixar com arrogância o presidente de uma nação sitiada e promover a causa do agressor é repugnante. No entanto, é isso que Macgregor faz. Para mostrar o quanto sua falsa narrativa tem ganhado força, recebi uma ligação há dois domingos de um direitista pró-Rússia. Seguindo o exemplo de Macgregor, esse homem afirmou com confiança que a Rússia já havia vencido a guerra. “Todos os noticiários dizem isso”, insistiu ele. Então eu perguntei: “A ofensiva russa contra Kiev não foi repelida? O navio-almirante da Frota do Mar Negro da Rússia não está no fundo do Mar Negro?” O partidário pró-Rússia não me respondeu. “Foram os americanos que afundaram o navio russo”, disse. Os ucranianos, é claro, não recebem crédito por nada.
Considerações Finais
Ocorreu, no Ocidente, um declínio intelectual generalizado. No lugar do conhecimento histórico e da filosofia clássica, temos teorias da conspiração animadas por sentimentos de ressentimento. Esses sentimentos são facilmente explorados, especialmente por Moscou. De fato, as teorias conspiratórias da direita podem ser vistas como um apêndice da velha demagogia marxista-leninista, baseada em explorar o ressentimento de classe para acender uma revolução “proletária”. Como a história mostra, os comunistas expandiram essa exploração para incluir ressentimentos raciais e sexuais, com efeitos culturais devastadores sobre o Ocidente. Após o suposto colapso do comunismo na Rússia, Moscou pôde estender essa estratégia à exploração dos ressentimentos conservadores — para aproveitar o potencial revolucionário de tradicionalistas alienados, racistas e libertários.
Moscou agora pode mobilizar um espectro cada vez mais amplo de descontentes. (Por que se limitar aos marxistas?) Por meio de passos graduais, a teorização conspiratória levou anticomunistas a ver o capitalismo como o verdadeiro inimigo. Moscou quer que todos os direitistas acreditem que o comunismo em si foi apenas uma conspiração criada por capitalistas maléficos. Essa cooptação da direita pela desinformação russa tem uma longa história, que remonta à década de 1920. Nas décadas mais recentes, temos os delírios pró-Rússia de Lew Rockwell e do falecido Justin Raimondo. Temos, no lado paleoconservador, Patrick Buchanan e Paul Gottfried. O que resta do conservadorismo, uma vez que se removem os libertários e os paleoconservadores? Aqui, o fatiador de salame comunista estreitou o espectro de resistência ao totalitarismo a um grupo impotente de insignificantes, rotulados como “neocons”. É interessante ver como o movimento MAGA marginalizou os neoconservadores, empurrando-os de volta à esquerda.
É improvável que Douglas Macgregor saiba algo disso. Sua formação militar, deficiente como era, não o capacita a compreender o significado estratégico de suas próprias palavras. Observa-se que ele é impulsivo, até reativo. Assim, ele se junta às vozes — à esquerda e à direita — que desprezam a ordem existente. Ao ver a OTAN como o problema, e a Ucrânia como um Estado fantoche, ele se torna um fantoche por sua vez. Julgou seu irmão como inimigo, sem antes tirar a trave de seu próprio olho.
Moscou e Pequim são grandes potências. Elas possuem milhares de armas nucleares, frotas e exércitos. Embora nunca devamos menosprezar o poder militar, as ideias representam um poder ainda maior; pois a mente está envolvida em tudo, tendo o poder de perceber e decidir. Se você pode governar os pensamentos de uma pessoa, você governa essa pessoa. Para isso, Moscou e Pequim construíram redes ao redor do mundo para espalhar pensamentos subversivos em outros países. Um dos pensamentos centrais que está agora sendo incutido na direita é o derrotismo. Como exemplo, o Derrotismo de Macgregor ajuda a mostrar que duas ideias estão presentes na retórica derrotista: (1) Moscou e/ou Pequim não são seu inimigo real; (2) seu verdadeiro inimigo é a elite da sua própria sociedade. Essa mensagem, essencialmente, é leninista. É revolucionária.
Como o Ocidente foi infiltrado em todos os níveis por socialistas, o conservador alienado quer jogar fora o bebê com a água do banho. Por todos os meios, jogue fora a água do banho. Mas como isso funciona quando suas próprias ideias fazem parte dessa mesma água? Ideias são, de fato, decisivas. Adote as ideias erradas e você estará derrotado antes mesmo de começar a lutar.
Moscou e Pequim estão vencendo a guerra da informação. Elas desarmaram intelectualmente o Ocidente. Ao erguerem a falsa bandeira de seu próprio capitalismo espúrio, criaram narrativas capazes de transformar conservadores em revolucionários. Mesmo agora, estão trabalhando para unir esquerda e direita contra o capitalismo. As lâminas da tesoura esquerda-direita, uma vez fechadas, podem formar uma arma perfurante com a qual se pode liquidar o Ocidente.
Esse é o jogo que está sendo jogado.
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