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A Democracia “Liberal” Está Condenada? (Jeffrey Nyquist – 19 de setembro de 2019)

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Publicado em 20 Jun 2025 / Em Outro

A Democracia “Liberal” Está Condenada? (Jeffrey Nyquist – 19 de setembro de 2019)

Claire Berlinski escreveu outro livro, que ela pretende serializar em seu blog/newsletter — disponível no seguinte endereço:
https://claireberlinski.substa....ck.com/p/is-democrac
Acompanharei o trabalho de Claire com comentários e observações, postados conforme a ocasião justificar. É raro encontrar alguém como Claire, que trabalha questões de “grande escala” de forma divertida. Ela mantém o leitor na expectativa quanto ao seu destino final. Talvez ela própria não saiba.
Após três partes sobre a questão da sobrevivência da democracia, não consigo resistir em comentar. Recomendo aos leitores que leiam o ensaio de Claire sobre o futuro da democracia — partes 1 a 3.
É na Parte 3 que ela sugere que o populismo “de direita” compartilha raízes intelectuais com o fascismo. Isso me fez refletir. Em que sentido isso poderia ser verdade? Se entendemos o fascismo como o nacionalismo coletivista de Mussolini e Hitler, o que exatamente ela quis dizer?
Talvez antecipando seus pensamentos, eu sugeriria a seguinte interpretação da relação: 1) o fascismo, devidamente definido, é um fenômeno enraizado na esquerda, não na direita; 2) se isso é verdade, o termo “populismo de direita” é uma designação incorreta; 3) o que nos leva à ideia de que a direita não existe mais — que todos agora estão na esquerda; 4) que o liberalismo está fracassando (ou já fracassou) porque não há direita, pois tudo na política é feito em nome do homem comum, ou do homem oprimido, ou do trabalhador rural sem instrução, etc.; 5) o que pode explicar o avanço lento, porém constante, do coletivismo autoritário em todos os países; 6) que a liberdade republicana surgiu como subproduto de uma cultura aristocrática extinta, com uma classe não liberal em seu centro; 7) que — como argumentou Joseph Schumpeter — o liberalismo destrói seus próprios sustentáculos iliberais (ao destruir o ideal aristocrático) e, portanto, morre por suas próprias mãos através de um mal-entendido sobre como surgiu em primeiro lugar; 8) pavimentando o caminho para o coletivismo autoritário.
Isso me leva a perguntar se o discurso de Claire sobre nossa cultura política em colapso não estaria confundindo efeitos com causas. Permitam-me sugerir que as diversas ameaças à liberdade que vemos hoje são, na verdade, provas de que a liberdade foi traída há muito tempo (pelos próprios liberais). Esta ideia é ainda sugerida pelo fato de estarmos obcecados por um materialismo vulgar e comum, entrelaçado com um hedonismo de mercado, embrulhado numa democracia igualitária.
Pode-se argumentar que isso nos levou a uma demência política muito real. E não estamos prestando atenção à “ameaça na Europa” — ou na Ásia — porque estamos ocupados demais fazendo compras e nos divertindo.
Não se trata da liberdade fracassar no futuro. A liberdade já fracassou. Não reconhecemos isso porque o efeito completo da derrota da liberdade foi meramente adiado pelos mecanismos lentamente girantes de instituições que já estão em mãos totalitárias. Os totalitários, que nos cercam por todos os lados, estão lenta, porém seguramente, apertando as correntes que já adornam nossos corpos.
As pré-condições da liberdade foram eliminadas, ao longo do tempo, pela própria liberdade. A liberdade foi filha de uma cultura literária vibrante, na qual as pessoas liam livros e discutiam livros. Milhares de leitores possuíam um grau de refinamento intelectual que já não existe mais. A cultura era então aristocrática e preocupada com a excelência, em vez de ser dominada pela mediocridade (que, hoje, é favorecida em toda parte como questão de estilo). A democracia, enquanto tal, NÃO é liberal, como Claire mais do que insinuou. A verdade é que apenas qualidades extraordinárias sustentam aquilo que é essencialmente “liberal”, e essas qualidades não são mais valorizadas, nem recompensadas, nem sequer reconhecidas (como eram antigamente).
Talvez não seja o momento de perguntar se a ordem liberal está condenada. Seus sustentáculos e estruturas culturais já desapareceram. A reconstrução só poderia ocorrer por meio de uma série de correções de rota improváveis. Mais provavelmente, uma mudança real só poderá ocorrer na esteira de uma convulsão global; e, mesmo assim, não haveria garantia de que as coisas não piorariam — como aconteceu no século IX.
Repito: o liberalismo já fracassou; comprovado pelo fato das taxas de natalidade em queda, pelo infanticídio desenfreado, pelos parlamentares palhaços, por uma cultura pós-letrada (como argumentou Neil Postman) e pelo colapso da religião cristã, etc. Esses dados não são fatores causais do colapso do liberalismo; ao contrário, são provas de que o liberalismo — como argumentou Joseph Schumpeter — já destruiu a si mesmo, tendo eliminado suas estruturas de sustentação não liberais (aristocráticas e espirituais).
É importante reconhecer o ingrediente que falta aqui. Nossa geração não compreendeu que o liberalismo é inviável sem o Duque de Ferro (isto é, alguém como Wellington, ou como George Washington). Esta noção também pode encontrar um lampejo de elucidação na Genealogia da Moral de Nietzsche, e em Além do Bem e do Mal. (Mas aqui piso em terreno perigoso, já reivindicado pelos inimigos da liberdade.)
É claro que aquilo que hoje chamamos de nossa elite não são liberais. São o oposto. E não são aristocratas. E não são patriotas. São o oposto desses tipos ideais. O regime deles é, na verdade, um desfile liderado pelo primeiro que segue — ou seja, uma democracia. Aquilo que Aristóteles chamou de a pior forma de governo.
Resta uma pergunta, e uma última resposta a ser dada. O que você obtém quando dá poder a um idiota?
Resposta: um idiota poderoso.
E assim, ao que parece, é este o ponto ao qual chegamos. Para salvar nossa civilização e reviver a liberdade, devemos redescobrir o truque de dar poder a verdadeiros líderes — e heróis.
https://jrnyquist.blog/2019/09..../19/is-liberal-democ

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